The new assumption will be that when shit happens you are on your own. Jim Kunstler
Descubro no Clusterfuck Nation que, à boa maneira americana, Daniel Libeskind já se montou na sela para cavalgar nos lucros da reconstrução de Nova Orleães. Em declarações ao New York Times o autor do projecto para a reconstrução do local do World Trade Center falou da sua perspectiva visionária de que a cidade possa renascer do mesmo modo como Berlim o fez depois da segunda guerra mundial.
Afirmou Libeskind: Trabalhar com a história não significa imitá-la, fazer uma reprodução kitsch ou simplesmente simulá-la, mas antes pegar nas raízes de uma grande cultura e construir a partir delas. E o que poderia ser mais criativo que o jazz? É o tema certo. Pode-se construir de uma forma rica com uma variedade de vozes e no entanto criar uma estrutura conjunta de harmonia. Que bonito.
O que incomoda não é a sensibilidade estética titilante de Libeskind mas a forma como se consegue discorrer sobre um drama de dimensões colossais despojando-o do conteúdo humano e ambiental que se está a desenrolar. Falar-se de Nova Orleães como se se estivesse a falar de compor uma sinfonia com grande deleite estético é no mínimo insultuoso para com os desalojados e os que ali morreram.
A cidade é hoje um aglomerado de problemas sem precedentes. Reconstruí-la não é apenas uma questão de enfrentar a destruição de propriedades e infraestruturas ou os efeitos directos das inundações. Para lá da gestão do realojamento de centenas de milhar de ex-residentes, da avaliação de danos por parte das seguradoras e do financiamento da reconstrução, são os efeitos ambientais provocados pela contaminação em larga escala da região que põem em causa a viabilidade do que ali se poderá vir a realizar no futuro próximo. Contaminantes industriais, metais pesados e hidrocarbunetos, resíduos humanos e uma proliferação de bactérias mortais fazem hoje parte do cenário que envolve o tecido ambiental da cidade. Perante problemas desta complexidade falar de reconstrução não pode deixar de ser uma abordagem técnica, social e humana; não de devaneios líricos de autor.
Da poética arquitectónica em Nova Orleães
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Daniel,
ResponderEliminarem um directório tão completo de arquitectos portugueses na net não poderia faltar esta agradável descoberta:
www.cannatafernandes.com
um abraço,
alziro
Pois... lá esperto é ele! O resto é para americano consumir!
ResponderEliminarobvious
Pois é! Sempre existirá um agregado ao/do poder, como claramente se nota nos trabalhos do Liebeskind, a se aproveitar doas grandes desgraças da humanidade.
ResponderEliminarMiséria para muitos, lucros e fama, para poucos!
A arquitetura, não agradecerá essa posição do arquiteto.
Abraços
fernando cals