Empreendimentos como a Vila Utopia e o Bom Sucesso marcam uma lenta viragem de mentalidades no que respeita ao empreendedorismo no sector da construção civil em Portugal. Trata-se, afinal, de assumir uma linguagem arquitectónica mais pura e (passe a expressão) contemporânea como elemento central na projecção de marketing; a arquitectura de autor como moeda de troca também na sua dimensão mediática e, acima de tudo, financeira.
É no mínimo curioso observar algum debate subterrâneo que acompanha este tipo de empreendimentos de luxo. Persiste ainda um certo desconforto com a ideia de concessão da profissão à sua vertente assumidamente económica, como se existisse aqui um qualquer litígio entre uma melancolia artística da arquitectura e a procura de rentabilidade do agente promotor.
Parece evidente que este tipo de empreendimento abrange um espectro muito estrito de cliente/comprador. Assim sendo talvez não resulte dele um efeito mobilizador em larga escala, fazendo aderir um maior número de cidadãos à mais valia resultante da aposta numa arquitectura de qualidade. Mas não deve por isso ser menosprezada a sua importância na divulgação de linguagens eruditas, ainda para mais quando se assume, no caso da Vila Utopia, como evento aberto à participação de jovens arquitectos. Foi essa a ideia que esteve na base do concurso para a moradia do Lote 13 em que puderam participar jovens arquitectos finalistas das escolas portuguesas de arquitectura. Trata-se de uma iniciativa que merece ser destacada como de exemplar alcance de serviço público, de especial relevância por se inscrever num empreendimento de cariz inteiramente privado.
O primeiro prémio foi entregue ao projecto da autoria de Olga Cristina Carvalho e Marcelo Sousa Dantas, que acima se ilustra. A equipa terá a oportunidade de ver edificada a sua proposta cuja construção será supervisionada pelo arquitecto Manuel Aires Mateus, também membro do júri.
Num lote de resolução aparentemente difícil, sem referências bem definidas, os vários projectos apresentaram uma tendência para a introversão. A habitação unifamiliar torna-se assim tema para um ensaio compacto centrado na peça arquitectónica enquanto objecto, o bloco onde se ensaiam vazios e relações internas. No caso da proposta vencedora exprime-se alguma maturidade na gestão de tensões entre o convencional e uma expressão mais inovadora. A solução dá corpo a uma forma de grande presença, mas a que ao mesmo tempo se alia uma certa familiaridade própria da função habitar. Muito interessante o traço dinâmico obtido pela silhueta levemente recortada da construção.
Para além da proposta vencedora foram ainda classificados os seguintes trabalhos:
Menção Honrosa Especial:
Miguel Filipe Carvalho Pinto
Menções Honrosas:
Pedro Miguel Vieira Gomes
Pedro Nuno Ribeiro da Silva
Tiago Filipe Santos
Das várias propostas presentes, a de Tiago Filipe Santos pode ser consultada no seu sítio web, de que vos deixo também algumas imagens.
Os trabalhos de todos os concorrentes encontram-se em exposição na sede da Ordem dos Arquitectos, até 15 de Dezembro (Travessa do Carvalho, 21-25, dias úteis das 10h às 19h).
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É uma boa iniciativa e o projecto parece interessante. Só é pena que seja só um lote!
ResponderEliminarpropostas interessantes, sem dúvida!
ResponderEliminarabraço...
("...dimensão mediática, e acima de tudo, financeira"_ sem dúvida...)
É por vezes este tipo de iniciativas que despertam ainda mais o interesse e a participação activa dos estudantes de arquitectura nas questões da vida real e por isso são sempre iniciativas de enorme interesse para a disciplina.
ResponderEliminarO projecto vencedor, pelas imagens apresentadas é bastante apelativo, há detalhes bastante subtis e de uma clareza espacial que permite tornar a casa um espaço de repouso e de bem-estar. Acho bastante interessante o tratamento do espaço exterior e a sua relação com a rua envolvente.
A menção honrosa de Tiago Santos também se justifica pela forma de composição e tratamento dos diferentes espaços da casa.
Isto só demonstra que esta é uma temática, em vez de estar estagnada, é cada vez mais objecto de experimentações e e reflexões que permitem cada vez mais criar edifícios distintos com espaços realmente interessantes.
Gostei muito dos projectos do Tiago Filipe Santos
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