El Laberinto Del Fauno

A introdução dos efeitos visuais digitais em cinema teve por consequência uma certa perda de materialidade, em especial nos géneros de fantástico e horror. Recordo-me da dimensão corporal, física e visceral do pesadelo gráfico de Rob Bottin no clássico The Thing de John Carpenter, como um dos grandes exemplos desse imaginário fílmico capaz de se imiscuir no espaço de conforto do espectador.
O novo filme de Guillermo Del Toro pode não se assumir no campo estrito do gore; ainda que, em alguns momentos, projecte uma inesperada violência gráfica. Mas é um filme que resgata essa essência material do cinema fantástico, inscrevendo a textura expressiva das grandes fábulas ilustradas da infância. El Laberinto Del Fauno (O Labirinto Do Fauno) é uma belíssima fábula negra envolta nos tempos da repressão franquista pós-guerra civil espanhola. É um mundo de conflito físico e psicológico em que a pequena Ofelia vai encontrar – ou talvez criar – a coexistência com um outro plano de fantasia e liberdade onde a magia se torna possível.
O trabalho de Del Toro faz aproximar essa tensão entre real e irreal, sonho e pesadelo, o outro lado do espelho do país das maravilhas de Ofelia. O filme pisca o olho ao encantamento do clássico de Lewis Carrol, indo beber ao ideário da novela gráfica contemporânea de nomes como Neil Gaiman ou inevitavelmente Mike Mignola (o criador de Hellboy e anterior colaborador do realizador).
Valerá ainda a pena percorrer o sítio web do filme, com destaque para a visualização de algumas passagens do livro de desenhos de pré-produção de Del Toro e ainda um notável Sketchbook contest com vários cadernos ilustrados por admiradores do filme.