Mundo Perfeito, Fernando Guerra.
Não acredito na objectividade da fotografia. Por mais que muitos tentem apagar as contingências subjectivas da vida quotidiana que contaminam os espaços puros que os arquitectos desenham, uma imagem de um qualquer objecto arquitectónico, ou simplesmente de um objecto, é sempre a imposição de um ponto de vista. De quem fotografa, de quem escolhe o enquadramento, de quem escolhe a luz, o tempo de exposição, o tipo de lente, a máquina. É um olhar que implica uma escolha, ou infinitas escolhas, e é por definição (definitivamente?) subjectivo.
Não acredito no mito do fotógrafo de arquitectura contemplador que acha possível escolher a priori um único olhar sintético que conjugue tudo o que uma obra de arquitectura encerra. A arquitectura depende de inúmeras variáveis, nunca é totalmente apreensível, é infinitamente interpretável. A percepção da arquitectura decorre da conjugação de múltiplos pontos de vista, da reconstituição mental de inúmeros espaços.
I do not believe in the objectiveness of photography. Despite the attempt of many to erase life’s subjective contingencies that contaminate the pure spaces drawn by architects, the image of an architectural object - or of any object - is always the imposition of a point of view. Of the photographer, of the one who chooses the light, time of exposure, type of lens or the camera. Whatever the case, it will always imply a choice or infinite choices and it is by definition (definitely?) subjective.
I do not believe in the myth of the architectural photographer as a contemplative, who thinks it is possible to choose, beforehand, one single synthetic perspective that combines everything a work of architecture encompasses. Architecture depends on many variables, it is never fully apprehended; it is, on the contrary, endlessly interpretable. The perception of architecture stems from the combination of multiple points of view, from the mental reconstitution of numerous spaces.
[Luís Urbano, Comissário da exposição “Mundo perfeito” / Curator of the “Perfect world” exihibit.]
A Exposição «Mundo Perfeito» dá a conhecer o trabalho fotográfico de Fernando Guerra, assinalando o lançamento do livro com o mesmo nome. Projectos realizados em território nacional ou por arquitectos portugueses no estrangeiro, passam por aqui algumas das melhores obras de arquitectura portuguesa contemporânea.
Poucas áreas da fotografia se debatem tanto com a busca da «verdade» como o caso da arquitectura. Como se ao fotógrafo fosse exigido um olhar neutro, sem mise-en-scène, uma super-visão absoluta da obra. Discussão em torno de um impossível: a imagem encerrará sempre a representação do espaço, sempre um subjectivo. Em Fernando Guerra a fotografia é um trabalho exaustivo de procura da abstracção por detrás da arquitectura; gesto que se revela por vezes mais fiel à visão de autor do que à realidade da obra. As viagens que nos oferece vão além do espaço material, penetrando no mundo das ideias, dos conceitos, dos conteúdos. Mais do que dar a conhecer, a sua fotografia convida a descobrir.
O livro «Mundo Perfeito» pode ser adquirido nas principais livrarias ou encomendado directamente no sítio web de Fernando Guerra: Últimas Reportagens. A exposição estará patente na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto até ao dia 6 de Junho.
Perfect World –exhibition and book
«Perfect World» presents the architectural photography of Fernando Guerra, featuring selected works of Portuguese contemporary architecture.
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