A Universidade de Évora, a Câmara Municipal e os direitos dos animais – de mal a pior

Se as más práticas seguidas pelo Veterinário Municipal recentemente destacadas na imprensa eram já de si bastante lesivas para imagem do município, eis que vieram hoje a público denúncias da utilização de cães saudáveis para simulação de práticas médicas no curso de Veterinária da Universidade de Évora.

Os cães em questão estariam sinalizados para abate pelo responsável do Canil Municipal, de onde eram enviados para a Universidade e ali submetidos a esterilizações, castrações, simulações de cesarianas e anestesias pelos alunos, sendo posteriormente eutanasiados. O Jornal de Notícias recolheu inúmeros exemplos destas práticas, agora denunciadas por ex-alunos daquela Faculdade e actuais médicos veterinários, obtendo ainda informação de diversas fontes de que tais procedimentos estariam a ser conduzidos de forma regular.

Confrontado com estas acusações, o Presidente da Câmara de Évora afirmou ao semanário Sol desconhecer o caso avançado pelo JN, revelando conhecer apenas a existência de um protocolo entre a Câmara e a Universidade para a incineração de cadáveres de animais, como o caso de cães vítimas de atropelamento na via pública. No entanto, uma nova notícia do JN dá conta de declarações do director do Hospital Veterinário da Universidade de Évora que confirmam aquelas práticas e a recepção de animais provenientes do canil da autarquia.

Na sequência da divulgação deste caso, e em resposta ao jornal Público, a bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários declarou-se contra a utilização de animais vivos como cobaias nas instituições de ensino superior e anunciou a criação de uma comissão que vai averiguar o que se passa a nível nacional.
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Perante os factos relatados nestas notícias tomei a iniciativa de contactar amigos veterinários de Lisboa, com ligações a instituições de ensino superior, que me confirmaram que tal prática é, no seu entendimento, ilegal, e eticamente inaceitável. Disseram-me que nos estabelecimentos onde leccionam os alunos contactam com a prática profissional em consultas de tratamento a animais particulares e, também, provenientes de associações, sempre com supervisão de um professor. No segundo caso, tratam-se de animais que regressam às suas instituições de acolhimento para adopção. E a formação prática dos alunos tem continuidade no período de experiência profissional subsequente em regime de estágio.

Toda esta situação não pode assim deixar de levantar interrogações muito sérias. Se, como diz o Presidente da Câmara de Évora, a autarquia não estabeleceu nenhum protocolo com a Universidade de Évora com vista a fornecer animais para fins «didáticos», com que autoridade estabeleceu o Veterinário Municipal tal colaboração com essa instituição?

Por outro lado, que exemplo de cultura profissional está a Universidade de Évora a dar aos seus alunos? Como podemos esperar que uma instituição superior se afirme como bastião de ética no espaço social, como é sua obrigação, quando os seus dirigentes são os primeiros a subscrever atitudes de retrogradismo desfasadas do pensamento e das boas práticas do seu tempo?

Em conclusão, resta aguardar pelos resultados do inquérito ao funcionamento do Canil anunciado pelo Presidente da Autarquia. Não é apenas de um conflito interno que se trata; é a imagem do Município perante todo o país que está em causa. Esperemos que não se venha a verificar uma retaliação sobre aqueles funcionários que tiveram a coragem de denunciar os actos inaceitáveis seguidos pelo Veterinário Municipal. Os cidadãos, de Évora e de todo o país, cá estarão para ver – e actuar, se necessário.

4 comentários:

  1. Vai mas é conjecturar teorias para outro lado! Não sabes o que se passa na UÉ e muito menos em Lisboa!

    Não está lá dentro! Não fazemos experiências com animais, não os submetemos a sofrimento! Pelo amor de Deus! Metei a não na consciência!

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  2. Boa tarde,

    Fico extremamente escandalizada quando me deparo com notícias destas.

    Em primeiro lugar, gostava apenas de informar que o começo desta situação era com o intuito de divulgar as incorrectas práticas do Veterinário Municipal do Canil Municipal de Évora.

    Para um enquadramento da história consultem: http://www.peticaopublica.com/PeticaoListaSignatarios.aspx?pi=canilev

    Basicamente, quando membros do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Évora fazem tudo para a divulgação deste crime o que sucede é um manipular de argumentos e virar de situações iniciadas por uma "ex-aluna não identificada" e que não apresenta qualquer sustentação para o seu discurso, no que toca à acusação de que são utilizados animais saudáveis nas aulas, animais esses que não seriam de outro modo eutanasiados.
    Para além disso, gostava também de focar que esta realidade não é exclusiva da nossa universidade no âmbito do nosso curso.
    No nosso curso recebemos animais do canil municipal que (supostamente, como seria de esperar e como nós esperamos que assim seja) permaneceram o tempo máximo permitido no canil à espera de adopção.
    Recorremos a estes animais nas nossas aulas para a realização de procedimentos que de outro modo não seriam possíveis, nem seriam ilustrativos de como se devem realizar certas metodologias para uma correcta aplicação prática no futuro, no decurso da nossa actividade profissional enquanto Médicos Veterinários que pretendem salvar e curar os animais.
    São anestesiados e manipulados com o maior respeito, no sentido de infligir o menos stress e sofrimento possíveis. São eutanasiados no termo dos procedimentos enquanto ainda se encontram anestesiados (o que já iria suceder se não chegassem à nossa universidade por irem ser abatidos no canil, só que nesse caso, estariam acordados) …
    A diferença é que, nós, enquanto alunos de Medicina Veterinária da Universidade de Évora, podemos manifestar-nos quanto às condições em que se processa uma eutanásia de um destes animais no nosso hospital, contudo não podemos inferir acerca da realidade actual do Canil Municipal de Évora e dos actos cruéis e irresponsáveis do Veterinário Municipal.

    Assim sendo, gostava apenas de apelar a que, todos, sem excepção, se interessassem pelo escandalo que se está a passar no Canil Municipal em que os acontecimentos passam pelas mãos de um, enquanto que na universidade passam pelos olhos, mãos e consciência de todos os alunos, professores e funcionários.

    Sem mais,
    Cumprimentos

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  3. incrível, para queimar lá estamos TODOS, se falaste com quem está em Lisboa, porque não falas com quem está em Évora??

    talvez tires conclusões mais inteligentes, pois ninguem experiencia nos animais em évora, toda a pratica que descreves que é conduzida em Lisboa é a que actualmente decorre em Évora, não percebo agora porque uns são filhos e outros enteados...

    pensa duas vezes antes de afirmar aquilo que não sabes, tiras informação de onde nunca poderás tirar ideias reais

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  4. Se há coisa que deve ser mudada neste protocolo é o facto que se deve
    permitir de uma vez por todas que os animais que vão para o HVUÉ
    pudessem ser aí adoptados. Mas não! Mais uma vez há uma pedra no sapato
    (Flor Ferreira) que o impede! Por isso é que muitas vezes os animais
    "fogem"!
    ...
    Tenho a certeza a absoluta que muitos SENÃO todos os animais
    não seriam eutanasiados no final e sim iriam para uma família que os
    ame! Nunca desrespeitei nenhum animal!

    E digo mais, muitos dos animais
    que por lá passaram nunca foram tao acarinhados como lá e muitos estudantes quiseram adoptar os animais e nunca o permitiram! Tira-me do
    sério é a opinião pública colocar os estudantes de MV no mesmo saco que
    este IMBECIL!

    Sempre estive presente nesta causa desde o início e Segunda pretendo estar presente.

    Espero é que as pessoas aqui presentes entendam que a solução principal aqui é permitir a adopção dos animais quando chegam ao HVUÉ e aí eles serem devidamente esterilizados!

    Porque neste momento nós enquanto estudantes de MV da UÉ estamos a ser chamados de carniceiros quando... a realidade não é assim!

    Quantos animais "fugiram"? Muitos

    Quantos animais os estudantes quiseram adoptar e por ordem daquele crápula não era possível? Muitos

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