Certificar é preciso
O processo de certificação energética de um pequeno apartamento, que custa no Reino Unido cerca de 72 euros, custa 250 euros em Portugal.
É verdade que a Directiva Europeia de Desempenho Energético de Edifícios (EPBD), redigida em 2002 e revista em 2010, exige aos estados membros a introdução de legislação no sentido de assegurar que a venda ou aluguer de edifícios seja acompanhada da emissão prévia de um certificado energético. No entanto, nada nessas normas obriga à instituição dos pesados valores de multa – que vão dos 250 aos 45 mil euros – que o Estado Português agora decidiu deliberar contra os proprietários que publicitem os seus imóveis e não tenham a respectiva certificação.
Pelo contrário, as recomendações da Comissão Europeia nesta matéria vão no sentido de promover o esclarecimento dos cidadãos, através de campanhas de sensibilização, com vista a melhorar a sua confiança nas vantagens da certificação e do apuramento da classe energética das suas casas – ver o estudo Energy performance certificates in buildings in their impact on transaction prices and rents in selected EU countries, de 20 de Junho de 2013.
Neste documento a Comissão sublinha que a eficácia das políticas nacionais depende de factores diferentes de país para país, relevando a importância de estabelecer incentivos, fiscais ou outros, à certificação energética. A título de exemplo, o Reino Unido estabeleceu desde 2011 um programa de estímulo que permite aos cidadãos financiarem os trabalhos de melhoramento energético das suas habitações, recebendo um apoio do Estado que é posteriormente reembolsado em prestações através da conta da electricidade ou do gás, a um custo nunca superior ao valor estimado das poupanças obtidas.
Contrariamente a outros países europeus Portugal escolhe reforçar a via punitiva, colocando sobre os proprietários de casa para venda ou arrendamento a ameaça de aplicação de multas pesadas em caso de incumprimento. É mais um exemplo do modo como o Estado se relaciona com os agentes privados, alheio à necessidade de estabelecer a confiança e a mobilização do público, antes optando pela atitude persecutória e castigadora.
Mas o caso é, infelizmente, bem mais grave. O sistema de certificação energética, benévolo nos seus princípios, tornou-se em Portugal um caso de oportunismo e exploração dos cidadãos. É injustificável que os processos de certificação energética custem, no nosso país, cerca de 250 euros (para um T0 ou um T1), quando o mesmo procedimento custa, no Reino Unido, 60 libras (72 euros) – não ultrapassando o valor de 120 libras no caso de uma residência de maiores dimensões.
Igualmente grave é o modo como o Estado Português faz ainda incidir sobre estes processos taxas elevadas como forma de subsidiar a entidade certificadora. As multas agora legisladas pelo Estado são, aliás, uma forma de abrir um novo filão de financiamento estatal, perseguindo os cidadãos e evitando-se a uma necessária reforma da sua infraestrutura burocrática.
Os preços desproporcionados e as taxas que incidem sobre estes procedimentos são custos intermédios pesados e inúteis que se fazem incidir sobre o mercado da construção, venda e arrendamento de habitação, dos quais não se extrai qualquer valor ou vantagem. Pelo contrário, constituem mais factor de agravamento na recuperação da nossa economia. Como sempre, o país acaba por fazer, em nome dos melhores princípios, as piores práticas.
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A punição não se fica pelos proprietários incautos, os peritos qualificados (pessoas, não empresas), que são aqueles que tiveram formação técnica, e depois conseguiram ser credenciados pela ADENE (agência do Estado) que gere o Sistema de Certificação Energética) onde a taxa de reprovação ronda 80% depois de se pagar 960 euros (valor de 2009), perante uma fiscalização de um certificado tenha um desvio superior 5% no cálculo, e é fácil omitir uma parede e/ ou trocar numa vírgula no local errado, fica também sujeito a coimas.
ResponderEliminarTorna-se engraçado verificar que para emissão de um certificado é necessário preencher áreas de de todos os elementos (tectos, paredes, pavimentos, janelas, portas, sistemas de climatização - número, potência, eficiência, combustível; e sistema de aquecimento de água), coeficientes térmicos próprios e de referência, orientações desses elementos quando exteriores, espessuras, composições, enfim tudo o que se possa imaginar ainda acompanhados de fotografias. No entanto esse portal onde se coloca a informação para emissão do dito, não apresenta as contas ao perito depois de ter a informação dimensional e térmica, digamos, solicita também os valores que o perito precisa de calcular à parte. De imediato a ADENE pode saber discrepâncias e perseguir os criminosos, vulgo peritos qualificados.
Porque é tão cara a certificação energética em Portugal face à Inglaterra? Não sei como é o processo em Inglaterra, mas para habitação cada certificado tem à cabeça uma taxa que a ADENE cobra: 43 euros para um T0, 68 euros um T4 para dar como exemplo. Tem de se acrescer os honorários do perito ou o valor cobrado pela empresa que o perito presta serviço normalmente a recibo verde. O perito precisa além do mencionado, apresentar folhas de cálculo, elaborar um relatório sobre a visita com fotografias com a documentação do imóvel e ainda dos sistemas instalados, apresentar medidas de melhoria e elaborar outro relatório a justificar os cálculos de cada proposta.