Não, eu não acho nada louvável a intenção de Santana Lopes submeter a um referendo a aprovação da construção de torres na zona ribeirinha de Lisboa.
O populismo tem esta qualidade de se apresentar como uma coisa perfeitamente legítima. Ora o que repugna é esta fachada de honestidade de Santana Lopes, que confessou estar “dividido” entre uma imagem tradicional de Lisboa, e outra de modernidade marcada pela construção em altura. Mas afinal, que ideia tem Santana Lopes para a cidade que se propôs governar?
Talvez eu seja um conservador mas ainda tenho para mim uma ideia de Lisboa como a cidade onde se misturam as referências da cultura mediterrânica com o atlântico. Uma cidade que se desenvolve pela orografia natural das colinas, em que os edifícios se aninham nos vales e nas margens, criando aqui e ali jardins, pátios, miradouros onde ainda se pode ler o tecido da geografia. Uma característica que faz lembrar um pouco as cidades do mediterrâneo.
É uma cidade que entretanto esqueceu o rio durante longas décadas e que só desde os tempos da Expo98 os lisboetas começaram a redescobrir, com a devolução ao domínio público de extensas áreas degradadas do Porto de Lisboa. Ainda que constrangida e pressionada, Lisboa mantém-se reconhecível, com leitura pelo rio.
Haverá neste diálogo lugar para torres de vinte, trinta andares junto à beira rio. Eu gosto de Hong Kong, mas em Hong Kong, não em Lisboa. Não me encanta esta ideia de cidades com assinatura, as Manhattans de Cacilhas ou torres de cem metros no skyline lisboeta. Talvez devêssemos ouvir o Gregotti a falar um pouco no “orgulho da modéstia”. Talvez devêssemos voltar a perceber que a arquitectura também nasce do sítio, de compreender o lugar. O tempo da cidade não é o do devaneio de um homem só, a cidade perdura por séculos. A questão das torres na zona ribeirinha de Lisboa é importante porque não se trata apenas da construção de objectos arquitectónicos mais ou menos relevantes, porventura geniais. Não estamos a falar do objecto em si, como se falássemos de um Guggenheim de Bilbao. A construção de torres, a passar, vai mexer com a própria tipologia da cidade e da imagem do seu todo. Ou alguém duvida que, aberto o precedente, não virão outros logo a seguir?
João RM Matos escreveu:
Creio que a questão central é saber:onde se constroem torres,porque elas vão aparecer quer queiramos ao não.Na minha opinião não nas margens.pelo menos na norte,já a sul não veeria com maus olhos(vide terrenos margueira,quimigal no barreiro e aeródromo do montijo).Um dos dramas de lx deve-se ao facto de ter um aeroporto no centro da cidade que não deixa que se construma as torres onde elas são solicitadas,onde a pressão urbana é maior,as avenidas novas e concretamente o eixo que vai do marquês até ao campo grande.É aqui que se situa o eixo central metropolitano,onde estão as sedes das empresas ,os ministérios,o chamado terciário superior e que devia abandonar a margem rivbeirinha para uma maior fruição da população .
email: jrmmatos@yahoo.com
05.04.04 - 10:20 pm
João RM Matos escreveu:
Porque o plano estratégico de lx,já conmtemplava a saída de algum terciário da margem ribeirinha,conservando-se apenas três praças simbólica do poder.Em belém a presidência da républica,no terreiro do paço a presidência do conselho de ministro e na margem oreigem oriental,mais concretamente no pavilhão de portugal o ministério dos negócis estrangeiros ou outro,tanto faz.Libertando a margem para essencialmente o porto de lisboa e para a fruição dos espaços pelo público.
email: jrmmatos@yahoo.com
05.04.04 - 10:26 pm
António escreveu :
NAO CONCORDO
05.06.04 - 12:40 pm
João RM Matos escreveu:
Não concorda com o quê? Que visões tem de lx?
email: jrmmatos@yahoo.com
05.06.04 - 10:22 pm
CC escreveu:
Joao RM Matos: Independentemente das especificidades do projecto, parece-me idiota assumir que as torres "vao aparecer quer queriamos quer nao". Porque? Sao uma inevitabilidade arquitectonica ou teleologica? Ha muitas cidades que nao tem torres nenhumas (muito menos em zonas historicas) e nao perdem nada por isso. O centro da Europa esta cheio destes exemplos. A "pressao urbana" a que se refere nao seria aliviada pela revitalizacao de todas as zonas mortas do centro de Lisboa, onde nao vive ninguem e as casas se limitam a cair lentamente? E a actualizacao do mercado de aluguer, nao teria o mesmo efeito? Em Lisboa, as pessoas passam a vida a comprar casas minusculas em zonas atrozes quando deveria ser relativamente facil alugarem casas ate maiores no centro. Sobretudo no que se refere a jovens casais e familias. A "inevitabilidade" das torres advem de um problema que nao e arquitectonico nem urbanistico mas sociologico e politico.
05.07.04 - 9:39 am
João RM Matos escreveu:
Obrigado pela sua resposta,concordo com ela e só lamento que isso que diz,não aconteça em Lisboa.Já agora gostaria de lhe perguntar:o que acha de alguns estudos que aparecem na comunicação social dizendo que 46% da populaçao portuguesa viverá na região de lisboa e ao mesmo tempo também se apresenta a diminuição da população.O que se passa?Um fenómeno muito estranho pois se populção vai diminuir tem de ser em algum lado,será que portugal está condenado a transformar-se na famosa frase "lisboa e o resto é paisagem".
email: jrmmatos@yahoo.com
05.07.04 - 10:18 pm
João RM Matos escreveu:
Também gostava de acrescentar que gosto de torres,mas no sítio certo.Se calhasr tem razão,só mesmo Nova york ou hong kong...Que pena talvez este meu desejo de trorres seja um pouco terceiro- mundista ou pior novo-riquismo.Gostei do texto do "regresso ao subúrbio" ainda não respondo porque o texto que escrevi era enorme,portanto não foi possível de envia,espero que não se importe que o envie paras o seu e-mail.assim sabe bem interagir com este blog,obrigado.
email: jrmmatos@yahoo.com
05.07.04 - 10:25 pm
CC escreveu:
Joao RM Matos: os estudos q refere tem uma comprovacao empirica de cada vez que quiser pegar no carro e conduzir em qualquer direccao a saida de Lx por duas horas. Na Galiza, nas "aldeias pequenas e despovoadas" vivem oitenta pessoas que dividem tractores e gado; na Beira Beixa uma "aldeia pequena e despovoada" tem oito casas, ao todo nao mais de 12 habitantes, e nenhum animal maior do que uma galinha ou um coelho. Falo de casos especificos, mas parece-me que a generalizacao nao andara muito longe disto... O pais esta a ficar deserto e nao estao a ser criadas condicoes para se usufruir da potencial qualidade de vida do interior, o que cedo ou tarde vai revelar-se dramatico. De uma volta pelo interior da Franca ou pela Holanda e veja onde esta a agricultura que em Portugal, benza-a Deus, nunca era "rentavel"...
05.09.04 - 8:41 pm
Alexandre Monteiro escreveu:
espantou-me. nunca pensei que pensássemos o mesmo sobre este assunto.
email: arqueologia@portugalmail.pt
homepage: http://alexandre-monteiro.blogspot.com/
05.10.04 - 7:44 pm