Quinta-feira
A história de uma mulher a viver o tempo emprestado de um coração doente. A história de um jovem que inventa um mundo de utopia para a sua mãe frágil. Adeus Lenine! é uma história de amor, dos laços de uma família que alimentam uma vida impossível, onde tudo pode acontecer.
Outubro de 1989. Em Berlim Oriental, nos dias que antecedem a queda do Muro, Christiane vê o seu filho Alex ser preso pela polícia durante uma manifestação de protesto. Aquela imagem vai despoletar o colapso do seu fraco coração, entrando num coma que durará vários meses.
Quando ela regressa milagrosamente à vida, Alex está determinado em trazer para casa a sua mãe mantendo-lhe a ilusão de que a Alemanha não se reunificou e que o regime comunista se mantém como dantes. Os meses que se seguem contam o tempo suspenso da luta de Alex, impelido a ocultar cada vez mais a realidade de um mundo em mudança lá fora.
O filme surpreende pelo tom agridoce de um drama com tons de comédia. Mas acima de tudo existe aqui uma afirmação política, fazendo uma curiosa análise da falência de um regime, ao mesmo tempo que a vaga da transformação capitalista traz consigo um individualismo indiferente a tudo o que se perde no caminho, toda uma cultura, todo um modo de ser. Adeus Lenine! percorre assim nessa mesma transição, suspenso no muro de uma vida efémera, da História que cai pesadamente sobre pessoas comuns. Sem ênfases panfletárias, o filme retrata essa complexidade da vida, inquietante da dúvida perante o futuro que chega.
Belíssima é a luta de Alex, criador da utopia da sua mãe, perseguindo os pequenos restos de uma cultura em rápido desaparecimento. Esses bens preciosos, o saco de café, o frasco de picles, os sinais do tempo que passou com os quais recria a doce mentira que rodeia o quarto da mãe. Mas a realidade é sempre mais forte que os sonhos e também o sonho Christiane vai ser posto à prova. Eis então que perante a inevitável queda do Muro, Alex vai reescrever a História numa passagem de delicioso burlesco, não o que foi, mas aquilo que poderia ter sido (e que o respeito pelos que não viram o filme me impede de revelar aqui).
A mentira de Alex acabará por cair como todas as mentiras, mas doce surpresa, é Christiane que agora esconde a verdade aceitando o sonho do filho como o seu. Alex nunca saberá o que a sua mãe descobriu, e que o amor silenciou. Para ele, a sua mãe terá para sempre vivido num mundo de sonho e utopia, que só o seu amor foi capaz de inventar.
O país que a minha mãe deixou para trás era um país em que ela acreditava; um país que nós mantivemos vivo até ao seu último suspiro; um país que nunca existiu naquela forma; um país que, na minha memória, sempre irei associar à minha mãe.
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Eu também vi o filme e achei-o genial. A atmosfera daqueles tempos históricos agarra-nos de forma estranha e também de forma utópica. Eu senti essas últimas palavras de Alex, e todo o percurso final do filme faz-nos também acreditar num país, que nunca existindo naquela forma, nos faz desejar que a solidadriedade, a seriedade e a verdade sejam factores determinantes na construção de uma sociedade justa e democrática. Pormenores que em alguns aspectos por cá não presenciamos, em particular desde Julho...
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