Zarp*



ZARP*, um blogue com design. Faz um ano. E faz muito bem.

O princípio do fim da europa



É difícil dizer se o referendo ao projecto da Constituição Europeia é ou não o princípio do fim da União. Os sinais, no entanto, são desencorajadores. Arrasta-se há muito o grande desinteresse público nas questões europeias, que se reflecte nas elevadas abstenções das eleições para o PE. O tema do referendo veio agora trazer novas controvérsias, aumentar hipocrisias e gerar um sentimento de grande desconfiança. Terá chegado ao fim a motivação para continuar?

Será esta uma Europa em busca de coesão social; com participação económica e política; de fácil acesso à educação, igualdade de oportunidades e de saber; que promove a cultura da sustentabilidade; que é sensível aos fenómenos de exclusão? Será esta uma Europa que nos move verdadeiramente e da qual queremos fazer parte?
Como seria bom ver estes temas aprofundados na actual discussão, e mais importante, na forma como esses valores estão actualmente institucionalizados e desenvolvidos na União e em cada um dos seus países. O que é que temos nós verdadeiramente em comum? Esta para mim é a pergunta crucial, porque sem uma identidade partilhada será impossível gerar consenso e legitimidade à volta da construção europeia.

Um dos grandes erros em torno de todo o debate Europeu é a sua centralidade no aspecto político e não no aspecto social. Penso que é aí que se poderiam promover alguns laços comuns entre os seus cidadãos, não do que são mas daquilo que gostariam de vir a ser como um todo. Penso que a Europa tem esse legado cultural que lhe pode permitir construir uma identidade comum de futuro. Acredito que essa experiência partilhada dos cidadãos não tem de implicar a perda de valores locais ou regionais, pelo contrário, deve ser uma adição a estes.
Nessa grande discussão que está por fazer em Portugal, deveríamos reflectir sobre qual o contributo que temos dado enquanto país à construção europeia. Somos um país em perda, com fraca participação cívica e agravadas desigualdades políticas e económicas. Um país onde a sustentabilidade é apenas um slogan, sem estratégias claras em torno dos aspectos mais essenciais para a nossa (sobre)vivência futura. Por isso tenho grande dificuldade em me associar aos subscritores do “não”, porque reconheço em muitas áreas que os bons exemplos vêm da doutrina europeia: no desenvolvimento sustentável, na cidadania participada, na mobilidade, na energia e em muitas outras áreas que se vêem ser tratadas com uma honestidade intelectual muito superior à nossa. Não estou a dizer que a União é perfeita, mas que os seus problemas institucionais não nos deviam fazer afastar da desejabilidade do projecto europeu como um todo.

Sem assumir aqui a posição de que “sou contra o não e tudo o que ele representa”, parece-me muito difícil deixar de ver no “não” uma dramatização conjuntural de desconfianças antigas pela União Europeia. As críticas a uma lógica funcional e institucional orientadora da Europa, em contraste com uma suposta Europa das nações. Sim, a União é um projecto político. Que mal tem isso? Que limitações traz para a nossa liberdade de participação e expressão individual? Não fazemos parte dela?
Os apoiantes do “não” apontam a falta de legitimidade democrática e de participação popular na construção da União. Há certamente aqui uma falha política, mas também há uma responsabilidade grave dos cidadãos que se abstêm e desinteressam por uma Europa que lhes diz respeito e da qual fazem parte. Mais grave ainda em Portugal, este assacar de falta de legitimidade, num país tão atrasado na implementação de processos de cidadania e participação cívica que, pasme-se, vêm da Europa.

No referendo ao projecto da Constituição Europeia, escolho o “sim” não pelas certezas mas pela esperança nas perguntas. Houve um sonho chamado Europa. Devemos-lhe dedicação e entusiasmo. Eu voto “sim” porque acredito que pouco mais nos resta sem ela.

[quero saber mais: Sítio Do Não; O Sítio Do Sim]

O silêncio dos afectos



(...) O bairro do amor é uma zona marginal
Onde não há hotéis nem hospitais
No bairro do amor cada um tem que tratar
Das suas nódoas negras sentimentais (...)

[Bairro Do Amor, Jorge Palma]

A reboque do artigo Educação Sexual Polémica publicado no Semanário Expresso de 14 de Maio, veio a associação “Fórum Da Família” promover uma Petição Sobre O Programa De Educação Sexual Nas Escolas, reivindicando a suspensão imediata do mesmo e outras exigências adicionais. A petição, aliás, soma uma quantidade assombrosa de apelidos notáveis: Telles de Menezes, Pachecos de Noronha, Ribeiro e Castros, Morais Sarmentos, Pinto Bastos, Castelas, Albuquerques, Côrtes-Reais, Villalobos, enfim, encontra-se ali o tecto todo da sala dos brasões do Palácio de Sintra. A côrte tomou a dianteira desta nova cruzada moral.

O artigo do Expresso, que mereceu um esclarecimento de Júlio Machado Vaz no seu blogue, é um bom exemplo da dificuldade em lidar com a questão da sexualidade no sistema educativo. O sexólogo acrescentaria ainda um desabafo amargurado sobre o eterno adiamento da educação sexual em Portugal.
Preocupa-me que um movimento como o promovido pelo Fórum Da Família seja uma forma de tentar abater a floresta por causa de uma árvore. A indignação exposta sob o argumento de não competir ao Estado impôr um modelo [de educação sexual] em oposição aos pais, seus legítimos e naturais primeiros educadores é uma forma demagógica de dizer que o Estado não tem o direito de promover educação sexual, ponto final.

O sexo é, entre nós, domínio de um estranho silêncio. Continuamos a persistir numa mentalidade que nos transforma em verdadeiros analfabetos sentimentais. Como sempre, a demagogia faz-se de bons princípios. Promove-se a tese de que as coisas mais importantes não se aprendem verdadeiramente nos livros, nem nas aulas, nem em conferências, nem em sermões. Passam de pessoa para pessoa através de gestos, de comportamentos concretos. Através de exemplos de vida. E estes bons princípios são usados para promover esse silêncio abjecto que nos rodeia os afectos.
Temos assim os nossos adolescentes assegurando que estão bem informados sobre temas relacionados com a sexualidade. Ora, uma coisa é o que sabem, e outra o que julgam saber. Algo deve estar a falhar num país com a maior taxa de gravidez na adolescência da Europa; com continuado aumento do número de casos de sida; com um problema infelizmente indeterminado de casos de aborto clandestino entre tantos outros para que alertam os especialistas da área.

Algumas figuras de relevo vêm reafirmando o óbvio: que a formação em temas da sexualidade não é uma classe da biologia nem consiste a dizer a uma jovem como evitar uma gravidez. Sabe-se hoje que pessoas que alcançam a idade adulta formadas adequadamente em sexualidade são mais seguras, mais respeitadoras, têm menos conflitos emocionais e exercem a sua sexualidade sem recalcamentos e culpas, estando igualmente menos sujeitas a comportamentos disfuncionais. A formação desta área não pode assim resumir-se a acções pontuais, mas deve fazer parte de um contexto educativo que promove a evolução integrada da pessoa em aspectos como a emotividade, a comunicação, a orientação sexual, os afectos, entre outros.
É chegado o tempo de eliminar as teias de aranha que uma triste vergonha mascarada de pudor tem feito persistir, deixando os jovens sujeitos aos amores amarrotados de uma vida pouco esclarecida e madura, cada um entregue às suas nódoas negras sentimentais.

[textos relacionados: Sinais De Fumo, 2004-01-29; O Não Saber De Todas As Coisas, 2005-03-02]

Barber Osgerby



Barber Osgerby é uma firma de design sediada em Londres com um trabalho que vale a pena conhecer. Um interesse adicional pela qualidade do sítio web que expõe algumas das suas peças mais fortes num envelope de grande qualidade visual e muita originalidade. Visita recomendada.

Energia: a situação portuguesa

Um: os factos

Portugal importa cerca de 90% do seu consumo energético, sendo a maioria deste sob a forma de petróleo (66% em 2002). Em 2003, o país consumiu 351.000 barris por dia, tendo importado a totalidade desse valor.
As importações de petróleo chegam ao nosso país através dos terminais de Sines e Porto. Complementarmente, Portugal importa gás natural do norte de África, canalizado de Espanha por ligação em pipeline. Finalmente, registam-se importações variáveis de carvão para produção energética (15% em 1998).

O maior recurso energético produzido internamente é a energia hidroeléctrica. Ela corresponde também à nossa maior fonte de energia renovável, mas o seu contributo depende dos factores naturais e apresenta flutuações consideráveis ao longo dos anos. Como exemplo, a produção hidroeléctrica correspondeu a 13% do consumo nacional em 2001, tendo diminuído para 7% em 2002.
Exceptuando a produção hidroeléctrica, as energias renováveis têm uma expressão mínima em Portugal e só agora começam a arrancar projectos visíveis no sector eólico e solar. No entanto, o nosso país está sujeito à Directiva Europeia 2001/77/EC que obriga os países da união europeia a aumentarem a percentagem de produção de energia por fontes renováveis para 12% e de electricidade por fontes renováveis para 22% até 2010 (Artigo 3, 4º parágrafo).

Portugal é assim um país energívoro, estando não apenas longe de ser auto-suficiente mas também directamente dependente das importações de petróleo, gás natural e carvão. Em relação ao petróleo, que é o factor de maior agravamento económico, estava prevista uma redução do seu consumo para cerca de 58% em 2005. No entanto, essa redução relativa não corresponde a uma redução efectiva do valor importado, uma vez que o consumo energético global tem vindo a aumentar significativamente nos últimos anos pelo crescimento da cota de gás natural - (ver Figure 4 – Energy Supply By Fuel, 1973-2010, Energy Policies Of IEA Countries: Portugal 2000 Review, International Energy Agency, página 20).

Significa isto que as flutuações do preço do petróleo têm um impacto directo sobre a nossa economia, uma vez que ele alimenta mais de metade da produção nacional no sector. Sabendo-se que a indústria utiliza 41% do total de energia consumida no país e os transportes 37% (valores de 1998), começa a vislumbrar-se a gravidade do problema e as suas possíveis consequências.


[Gráfico de consumo e tipo de energia em Portugal via EarthTrends Country Profiles: Portugal - Energy And Resources]

Dois: a crise anunciada

Assiste-se actualmente ao aumento acelerado do consumo de energia ao nível mundial. Esta realidade veio agravar-se com a introdução de procura por parte de novos mercados, entre os quais o asiático. Vários especialistas do sector têm vindo a alertar para a possibilidade de estarmos a entrar num novo ciclo, à medida que os recursos petrolíferos disponíveis chegam ao topo das suas possibilidades de exploração. A este fenómeno deu-se o nome de peak oil - (ver quadro Slippery Slope, Crude Calculations, SmartMoney.com, 2004-03-15).

Independentemente da subida dos preços do petróleo se vir a revelar mais ou menos rápida, a verdade é que entrámos já num novo paradigma económico: o fim do petróleo barato. Discute-se hoje abertamente a possibilidade do barril de crude vir a atingir os três digitos num período inferior a dois anos. Esta nova realidade exige que países como Portugal promovam rapidamente a reconversão para fontes alternativas de modo a acompanhar a transição que se irá verificar nas próximas décadas.

Portugal dispõe de excelentes recursos para a produção de energias renováveis. No entanto, o país tem assistido a atrasos terríveis na implementação de projectos de exploração, resultado de uma deficiente acção política. Anteriores governos têm confundido o que deve ser um planeamento estratégico do sector para actuarem quase exclusivamente como elemento de gestão e atribuição de cotas de produção energética; acrescente-se, favorecendo quase sempre os pesos fortes da balança, ou seja, os que mais dependem dos combustíveis fósseis e beneficiam com o atraso na introdução de novas fontes de produção, como é o caso da eólica, solar térmica e fotovoltaica.

A título de exemplo, atente-se no caso da Central Fotovoltaica de Moura (Tecnopolis Moura/Beja), que pretende instalar aquele que virá a ser o maior empreendimento do género a nível mundial, em pleno Alentejo (num dos pontos de maior incidência solar da Europa). O projecto prevê a criação de 240 novos postos de trabalho gerados numa unidade de produção de painéis e 1280 a 2400 novos postos de trabalho criados indirectamente no cluster da central renovável a instalar em Moura. No entanto, e apesar de terem sido amplamente reconhecidos os méritos do projecto a nível governamental, de que resultam apoios de parceiros como a Universidade de Évora, o Instituto Politécnico de Beja, a Universidade Nova de Lisboa, o Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, o Instituto Superior Técnico, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e o INETI – Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial, a verdade é que o projecto tem-se arrastado num longo processo de licenciamento que dura há mais de três anos. Na prática, o que esteve em causa foi a alteração legislativa para o alargamento da cota de produção de energia fotovoltaica de modo a permitir a produção dos 64MWp necessários à viabilidade financeira do projecto (1). Num país tão deficitário em produção de energias renováveis, a lentidão de tal processo legislativo é, no mínimo, difícil de compreender (ver Huge solar power station planned for Portugal, Guardian Unlimited, 2005-05-06).

(1) Nota: a legislação portuguesa definia uma cota máxima para limite de potência instalada a nível nacional de 50MW para as centrais de energia solar fotovoltaica. O novo Decreto-Lei nº33-A/2005 veio aumentar esse valor para 150MW. Compare-se com os 1.800MW correspondentes ao somatório de licenças aprovadas para capacidade de produção/exploração de energia fotovoltaica na Grécia, um país com índices de exposição solar equivalentes a Portugal.

Três: considerações finais

Portugal tem sido incapaz de definir um planeamento sério nos principais sectores estratégicos de desenvolvimento. O caso da energia é apenas um entre vários, como por exemplo a mobilidade e os transportes, o ambiente (os recursos naturais, água, política de solos, floresta), o planeamento do território ou outros, que vão rumando ao sabor conjuntural dos sucessivos governos. Permanecem assim reféns dos vários interesses divergentes que se repercutem ciclicamente em lutas político-partidárias, das quais resultam pesados prejuízos para os portugueses.

Apesar destes sectores merecerem uma atenção crescente dos media e da opinião pública, parecem secundarizar-se perante outras questões cujo efeito mediático é mais sensacional. Não querendo minimizar a importância de casos como os da justiça, da saúde e da educação bem como os seus efeitos sociais e económicos, trata-se apenas de reconhecer que é hoje ao nível dos sectores que acima referi que se joga uma parte decisiva do desenvolvimento das nações e das suas expectativas de futuro. Entretanto, Portugal permanece numa dormência doentia, ainda que tranquilamente oculta no manto diáfano dos discursos políticos. Veja-se, a este respeito, como os congressos partidários se dirigem cada vez mais para o debate interno, reflectindo a disputa de cargos e os jogos de promoção pessoal sem que deles se extraia nada de construtivo para o país. E aqui incluo os partidos tanto à esquerda como à direita, que conseguem realizar um congresso nacional sem apresentar um vislumbre de planeamento estratégico ou de desenvolvimento. Os próprios jornalistas têm sucumbido a esta realidade, dando eco das movimentações partidárias em detrimento da análise dos problemas reais que a todos, directa ou indirectamente, afectam.

Ao contrário do que isto pode fazer pensar, o país não dorme. O nosso atraso é real e vai aumentando como uma sombra sobre os nossos destinos. As decisões que tomarmos hoje vão ditar a forma como vamos ultrapassar os desafios que inevitavelmente vamos ter de enfrentar. As indecisões, essas serão pagas por todos e pelos nossos filhos num futuro menos brilhante, menos feliz e menos próspero, não tão distante assim.

[quero saber mais: Energy Policies Of IEA Countries: Portugal 2000 Review, International Energy Agency; EarthTrends Country Profiles: Portugal - Energy And Resources]

Fotografia expressiva - comunicando com imagens



Expressive Travel Photography – Communicating With Pictures é um fascinante album didáctico produzido pelo fotógrafo americano Phil Douglis. Através de um conjunto de galerias temáticas, Douglis dá a conhecer os seus princípios de abordagem fotográfica. Belíssimos exemplos e excelentes introduções pelo autor revelam os densos conteúdos por detrás das imagens. Como curiosidade, algumas das suas fotografias são tiradas em Portugal, entre muitas paragens longínquas. Um “favorito” instantâneo.

[imagem Approaching The Great Pyramids via Expressive Travel Photography: A Cyberbook By Phil Douglis]

Mais blogues

Há algum tempo que não adicionava blogues à listagem d’A Barriga De Um Arquitecto. Nos dias que correm tantos blogues se iniciam, tantos vão e vêm, que se torna difícil escolher quais guardar. Estes são os que fui acumulando na bagagem e que agora vos dou a conhecer. A listagem geral está colocada no fim da página.



Montemaior: Montemor-o-Novo, Cidade De Pedras E De História(s)
Montemor-o-Novo, onde trabalho, é uma terra para muitos desconhecida. Quem passa à estrada nacional, a caminho de Évora ou de Lisboa, não adivinha toda a beleza que aqui se encerra. Uma maravilhosa descoberta é então este blogue que dá a conhecer, com enorme bom gosto e excelentes conteúdos, as pequenas maravilhas deste Alentejo para tantos desconhecido.

Para Os Lados De Sintra
Crescido no balanço de Sintra e Lisboa, é com alguma saudade que encontro este blogue que se dedica a contar as histórias da bela vila romântica, das suas artes e da sua gente.

Não Sei Brincar
Já lá fui várias vezes, sempre de passagem... Como aqueles lugares a meio de viagem, certa vez dá-nos vontade de parar e ver as redondezas. Fui ficando. Gostei. Lá voltarei.

O Arrumário
Pelas mãos de uns encontram-se os outros. Este é um arrumário de ideias “penduradas” nas falésias e nos lugares improváveis das nossas vidas.

Dias Maiores
Fiquei preso nos detalhes bonitos das paredes de Évora. Nos olhos dos outros descobrimos a beleza que por vezes ignoramos na correria. E gostei muito “daquele” verde.

Catrela
Gostei do nome. Depois, as mulheres têm esta habilidade de nos fazer despertar para as pequenas coisas. Brincos, fantoches, origamis, há ali muita coisa para descobrir.

Crítica De Música
Este é denso e não tem bonecos, mas tem coisas para aprender.

Mofo Magazine
Um blog-magazine de divulgação da vila e da região de Oliveira dos Frades, no distrito de Viseu.

Espirro No Mato
O Espirro No Mato é diferente. And proud of it.

Marionetas A Norte
Um lugar para dar a conhecer a arte do teatro de marionetas. É bastante bom nos conteúdos, mas muito recente. Tem alguns defeitos de newbie: música que começa a tocar sozinha; arquivos arrumados por “dia”, o que pode gerar alguma confusão. À parte disto, tem um enorme potencial e merece que se fique à espreita.

Enxoval
Outro bastante recente, desta vez na área da arte e design. Muita divulgação.

Underworld
Tanta gente nova por aqui. A Alice partilha os seus bonecos, divulga coisas interessantes, livros, bd’s e também alguns dos seus devaneios pessoais.

Por agora é tudo. Outros se seguirão...

Modas À Margem Do Tempo em Torres Vedras



O grupo eborense Modas À Margem Do Tempo vai actuar ao vivo no Cine-Teatro de Torres Vedras (Rua Tenente Valadim, nº19), esta Sexta-feira às 21h30. Quem estiver por perto não deve perder esta experiência musical cheia de sensibilidade que evoca a tradição do Alentejo trazida para os tempos de hoje. Ah, e sim, eles são meus amigos! :)

[quero saber mais: A Barriga De Um Arquitecto: Évora Musical, 2005-03-14]

Os Lugares de Maria


[clique na imagem para ampliar]

É já amanhã (Quinta-feira) por volta das 18h30 em Évora, na Livraria Som Das Letras, a apresentação do livro Os Lugares De Maria, de Margarida Botelho.

[na internet ninguém sabe que o pacheco pereira é um cão]

Terça-feira



Quem somos nós na internet? Que sentido de comunidade existe? O segundo aniversário do Abrupto tem motivado algumas reflexões sobre a blogosfera portuguesa. Pergunto-me se própria palavra não é uma ilusão: “blogosfera”. A palavra constrói o conceito, mas o conceito por detrás da palavra é realidade ou distorção - a linguagem como meio para a construção de uma realidade socialmente instituída. Essa blogosfera existe? Não sei, e no entanto, ela move-se. Em que ficamos?

O “blog” é um suporte. Não é um diário, não é uma evolução da “página pessoal”. É uma estrutura, um formato de comunicação. Sim, é tecnologia, a extensão possível de nós próprios na rede. Neste contexto (mais web que log), o fenómeno colectivo entre blogues e fora dos blogues é mais do que a soma das suas partes. A blogosfera começa a extravasar os limites da net. Hibridiza-se: torna-se livro, infiltra-se na imprensa escrita, debate-se na televisão. A sua mediatização expõe, no entanto, várias blogosferas. Para os media, ela é a blogosfera das celebridades, figuras com expressão pública. Tudo o mais é “fenómeno”: 70 blogues criados todos os dias em Portugal. Os media ainda não perceberam o que isto significa e traduzem-no numa abstração estatística cujo conteúdo desconhecem e pouco discutem. Ou seja, discutem o “fenómeno” e não as coisas que lá se passam.

Pacheco Pereira escreveu: Não tenho nenhumas dúvidas de que os blogues vieram para ficar, enquanto a evolução tecnológica não permitir a migração do que hoje se pode fazer num blogue para outra plataforma mais eficaz e superior. Enquanto tal, uma revolução está em curso, principalmente no âmbito do sistema comunicacional, e, a partir daí, afectando os sistemas que lhe são próximos: a política nacional e local, a crítica literária e artística, a divulgação científica, entre outros. É uma declaração optimista. Faz sentido para alguém que pode (e quer) romper constantemente as fronteiras da blogosfera para a atmosfera. Mas porque se invoca esta capacidade de que os blogues afectem o mundo lá fora como um requisito para a sua maioridade? Os blogues não são um canal para a mediatização; são apenas o nosso monólogo interno que o resto do mundo pode ouvir; uma subscrição para o fio da consciência de cada um. É por isso que o Abrupto é interessante: não por ter eco lá fora, mas porque nos permite olhar lá para dentro, para o interior da cabeça do Pacheco Pereira e tirar de lá o que lhe vai na alma. É um lugar na plateia para os filmes projectados na mente de cada um. E é isso que torna os blogues-em-livro pouco consequentes. Perdem a natureza bi-direccional, o retorno dos conteúdos, a rede. Quando deixam de acontecer, deixam de ser. A blogosfera precisa do “online”, como o corpo humano precisa de sangue, para viver.

[imagem via Cartoon Bank]

[os bois pelos nomes]

Sexta-feira

O Carlos do Carmo Carapinha dedica-se a dissecar as contradições do que atrás escrevi. Pouco me interessa entrar numa discussão dos nossos pequenos egos: Daniel acusa os outros. Mas quem sou eu? Quem é o Carlos? E o que é que isso interessa?
Já não me é indiferente que o Carlos não referencie o exacto artigo do Blasfémias que motivou a minha crítica. Não se tratou de contestar a confrontação crítica da história, no caso a “efeméride” 25 de Abril e a mitificação do seu sentido histórico. Porque o texto do Blasfémias não produz reais juízos de valor sobre o “25 de Abril”, o que quer que ele seja para Rui A.

Contradição? Produzir uma análise crítica da História não é o mesmo que produzir um julgamento sentenciando os seus participantes. Os exemplos são, lamentavelmente, muitos. Podemos muito bem apreciar o processo de expansão marítima e todos os fenómenos que o envolveram: crime, escravatura, pilhagens, doenças. E podemos produzir sobre eles um valor crítico, chamando os bois pelos nomes do que correu bem e do que correu mal. Daquilo que são erros à luz da nossa visão dos valores universais. Mas daí a sentenciar os promotores da escravatura de criminosos universais vai um passo que só a falta de uma visão plena da História pode justificar.
Uso este exemplo porque sei que é altamente passível de deturpação. Basta ver o que foi a participação envergonhada das autoridades portuguesas nos 500 anos do achamento do Brasil para perceber o estado a que chega a autoridade intelectual deste país.
O pior de tudo é ver-nos discutir fúteis equívocos de interpretação: julgar o que os outros escrevem, mal e à nossa maneira, e depois censurá-los por isso. Se reconheço inteira verdade ao parágrafo final do texto do Carlos, não posso perceber porque me vem aquilo atirado à cara como se alguma vez o tivesse posto em causa. Mas isso, tenho de reconhecer, já é uma queixa do meu pequeno ego.

[danças com livros]

Sexta-feira



Deixo uma recomendação para o vosso fim de semana. Em Montemor-o-Novo, não deixem de presenciar as Danças Com Livros, uma organização co-produzida pela Livraria Fonte De Letras e o centro coreográfico Espaço Do Tempo, dirigido pelo coreógrafo Rui Horta.
Trata-se de um evento que reúne um conjunto de debates, apresentação de livros com a presença dos autores, espectáculos de dança e teatro, exposições e concertos durante este fim de semana: dias 6 (hoje, sexta-feira), 7 (sábado) e 8 (domingo) de Maio, no Convento Da Saudação (no Castelo de Montemor-o-Novo).

Deixo alguns destaques da programação para os que quiserem aceitar este passeio até Montemor, a cerca de uma hora de Lisboa.

6 DE MAIO, SEXTA-FEIRA

19.00 – Lançamento do Livro “Longe De Manaus” de FRANCISCO JOSÉ VIEGAS, com a presença do autor
19.30 – Recital de guitarra clássica por DEJAN IVANOVICH
21-15 – Apresentação do livro “O Cego De Sevilha” de ROBERT WILSON, pela tradutora da obra, ANA CARDOSO PIRES, com a presença do autor
21.45 – DEBATE “A Minha Revolução Preferida”, com ALBERTO PIMENTA, ALEXANDRA LUCAS COELHO, FILIPE VIEGAS, HELENA ROSETA, JOSÉ FONSECA E COSTA, MIGUEL MOREIRA, NATXO CHECA, moderado por IDALINA CONDE
23.00 – Flatland, performance de PATRÍCIA PORTELA

7 DE MAIO, SÁBADO

15.00 – Apresentação do livro “Convoquem A Alma” do Professor FERNANDO CARVALHO RODRIGUES, com a presença do autor
15.30 – Debate “De Que Falamos Quando Falamos De Amor?”, com FREI BENTO DOMINGUES, JOÃO CUTILEIRO, LÚCIA SIGALHO, PAULA MOURA PINHEIRO, RODRIGO SARAIVA, VERA MENTERO, moderado por CARLOS VAZ MARQUES
18.30 – Lançamento do livro “Cerco A Um Duro” de JOSÉ VEGAR, com a presença do autor
21.30 - Apresentação do livro “Barca Velha – Histórias De Um Vinho” de ANA SOFIA FONSECA, pelo jornalista JOSÉ VEGAR, com a presença da autora

22.00 – Lançamento da revista de artes performativas “Título Provisório”, com RUI HORTA, VERA MANTERO, GRAÇA PASSOS E ANTÓNIO RAMOS

8 DE MAIO, DOMINGO

15.00 – Apresentação do livro “Paixão, Amor E Sexo”, de FRANCISCO ALLEN GOMES, com a presença do autor
16.00 – “É A Cultura, Estúpido! No Danças Com Livros” Panorama da actualidade literária, cinematográfica e musical, com ANABELA MOTA RIBEIRO, DANIEL OLIVEIRA, JOÃO MÁRIO SILVA, JOÃO MIGUEL TAVARES, NUNO ARTUR SILVA, PEDRO LOMBA, PEDRO MEXIA e RICARDO ARAÚJO PEREIRA
17.30 – Apresentação do livro “Jornalistas E Tribunais” de SOFIA PINTO COELHO, por JOSÉ SÁ FERNANDES, com a presença da autora
19.15 - Apresentação do livro “A Estrada Branca” de JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, com a presença do autor
21.30 – Concerto de encerramento – Corsage

[i am your father, luke]

Quinta-feira



Darth Vader é um cavaleiro mau concebido imaculadamente e imbuído de poderes mágicos que domina a galáxia conhecida sob o jugo do impiedoso e brilhante Imperador Palpatine Primeiro. Ainda que mantenha palácios em Coruscant e Vjun, Vader passa a maior parte do seu tempo viajando a bordo da Executor, a nave porta-bandeira da sua mortal armada galáctica. Ele gosta de reparar coisas, ouvir música e esmagar os cérebros das pessoas com a mente.

Notícia em primeira mão: Darth Vader já tem blogue. Chama-se The Darth Side: Memoirs Of A Monster e é um divertido diário pessoal do tirano mais temido da galáxia.
O blogue genial é mantido por Matthew Frederick Davis Hemming que para além ser autor de ilustrações bem interessantes também mantém um blogue pessoal chamado I Am A Cheeseburger. Divirtam-se, mas cuidado com o lado negro da força. Inserir gargalhada histérica aqui.

[imagem via Ian Milham]

[book quizz]

Quarta-feira



Era inevitável, o questionário livresco que circula pela blogosfera havia de chegar. A culpa é do CBS e já tive oportunidade de lhe agradecer (cof cof)!
Eis então a resposta possível.

1. Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Pior que as correntes internéticas só mesmo aqueles questionários que não interessam a mais ninguém do tipo que personagem do Trainspotting é você! Confesso que estou sempre a fugir a essa espécie de coisa, mas este quizz tem um anzol cinéfilo: baseia-se no filme de Truffaut, por sua vez inspirado no livro de Ray Bradbury. Ah, sim meus amigos, eu já vi o filme há que tempos na velhinha RTP2. E também já li livros do Ray Bradbury nos meus tempos de teenager, mas por acaso o Fahrenheit não.
O pior é que, ao percorrer o questionário, apercebo-me que está formatado ao grupo dos intelectuais livrescos. Eu, que passei dois anos da minha vida sem televisão e sempre me fartei de ler, tenho a confessar infelizmente que pouco leio na área da ficção, romance clássico e muito menos best-sellers à Paulo Coelho que francamente acho insuportável. Ainda peguei uma vez no Alquimista mas achei aquilo um disparate tal que logo desisti. Depois o tipo escreve aquelas croniquetas numa revista de consultório sobre a felicidade do indivíduo na sociedade em geral e mais não sei quê e eu já não tenho idade para isso. Mas também não era essa a pergunta. Pois, para ser contra-corrente, eu escolhia decisivamente o Cosmos de Carl Sagan. Se vamos ser um livro, ao menos que seja o planeta e mais além. Numa sociedade com pouco conhecimento haverá coisa melhor para partilhar?

2. Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por uma personagem de ficção?
Apanhadinho? Isto não me parece uma pergunta muito intelectual. Apanhado, apanhado, só pelos grandiosos filmes de piratas do Errol Flynn! Havia qualquer coisa naquele bigodinho à inglesa a remar nas galés que me entusiasmava... oh diabo! Mas a verdade é que ficava sempre exaltadíssimo com aquilo, pronto a partir para as maiores aventuras. Nos livros, talvez o Corto Maltese me tenha feito sonhar bastante, especialmente na mística Fábula De Veneza.

3. Qual foi o último livro que compraste?
Numa sessão de apresentação do livro pelo autor em Évora, organizada pelos nossos amigos da livraria O Som Das Letras, há poucas semanas: Portugal, Hoje: O Medo De Existir de José Gil. E não, não foi para oferecer.

4. Qual o último livro que leste?
Planeamento Do Espaço Rústico de Sidónio Pardal. Fucking brilliant!!!

5. Que livros estás a ler?
Actualmente na pilha de livros, não necessariamente por esta ordem: Reabilitação De Edifícios Antigos (Patologias E Tecnologias De Intervenção de João Appleton; Novos Espaços Urbanos de Jan Gehl e Lars Gemzoe; Sul de Miguel Sousa Tavares; Quando Os Elefantes Choram de Jeffrey Masson e Susan MacCarthy; O Significado De Tudo de Richard P. Feynman. Sei que há mais mas não me lembro...

6. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
O manual da Autodesk para o Architectural Desktop 2006... ah, não, agora a sério, como é que se responde a uma pergunta destas? É uma ilha deserta tipo survivor ou um resort paradisíaco? Se calhar também não interessa. Mas esta é daquelas perguntas irritantes onde é suposto jorrar toda a nossa sapiência livresca. Mas quem é que quer levar o Dostoyevsky para uma ilha deserta? O García Márquez, talvez. Cem Anos De Solidão, sempre tem o peso dos clássicos. Decididamente o O Lobo Do Mar de Jack London, e A Obra Ao Negro de Marguerite Yourcenar. Isto está a correr bem! E já que estamos numa ilha deserta, o melhor é levar alguém interessante. Que tal a biografia do Feynman pelo James Gleick, Genius – The Life And Science Of Richard Feynman. E claro, a Terra Dos Homens de Antoine de Saint-Exupéry, que é um pequeno grande livro. Já estão cinco? Então, ainda à sorrelfa, o melhor é levar o Seinlanguage do Jerry Seinfeld, para passar os serões nos dias em que não dê para ir até à praia.

7. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
A ninguém. Sorry.

[bloguitos]

Terça-feira



Ao percorrer a listagem dos Bloggies 2005 fico a pensar que poucos blogues portugueses dão o salto para se tornarem pontocoms ou domínios próprios. A Rua Da Judiaria e o Paulo Querido Net são raras excepções num universo em que mesmo os grandes se mantêm numa espécie de amadorismo.
Seria de esperar que blogues como o Abrupto, o Causa Nossa ou o Barnabé tivessem hoje os seus domínios na net. Não se trata de questionar a atitude dos seus autores que saliento apenas como exemplo de um colectivo de que também faço parte. E aceito que é uma atitude perfeitamente defensável. Apenas registo o facto de poucos entre nós levarem esta actividade numa abordagem mais profissional, de que muitos dos casos presentes nos Bloggies servem de exemplo.

Outro aspecto desta falta de referência tem que ver com o facto de poucos blogues portugueses apresentarem preocupações de design. A imagem de um blogue é evidentemente um valor relativo, mas em muitos casos a substância de uma página enquanto peça gráfica é o seu aspecto mais consequente. Aqui, claro está, entram as nossas limitações. Eu próprio olho para a minha página e reconheço-lhe a incapacidade de romper com a estrutura base dos templates do Blogger, a total ausência de conhecimentos em programação gráfica e animação, a dificuldade em arrumar e sectorizar informação que rapidamente se torna excessiva. O que dizer, então, perante os elevados padrões gráficos dos Bloggies na categoria de melhor design?

Fica este reflexão escrita em tempo real que deixo sem respostas e a sensação de que, se calhar, também anda por aqui a faltar um choque tecnológico qualquer.

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Bloggies 2005 na categoria de melhor design:
Loobylu (vencedor)
Karen Cheng
Jason Santa Maria
Brookelyn.org
ShaunInman.com

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Apercebo-me que quando falo em falta de referência quero dizer falta de referencial. Não é tanto o facto de muitos bloggers portugueses não se dedicarem a personalizar as suas páginas. É antes o modo como alguns blogues de grande visibilidade nunca parecerem tocados pelo desejo de melhorar a componente gráfica, e ser consequente com os conteúdos que lá se expõem.
Por exemplo, o Barnabé apresenta algum grau de personalização. Mas o Causa Nossa ou o Bloguítica pouco acrescentam ao mais básico dos templates do Blogger. Observem o político Talking Points Memo como exemplo e vejam as diferenças. Por outro lado, é difícil sustentar que um blogue como a expressão pública do Abrupto não tenha um domínio e uma formatação própria. Dirão que isso é irrelevante para o autor e contestá-lo é quase indefensável. Mas volto a afirmar que também aí é o referencial que está em causa. Se para uns a imagem gráfica é ainda um dado acessório ou secundário, basta passear pelo universo da blogosfera internacional para ver que, para muitos outros, os elevados padrões de qualidade gráfica são, não uma excepção, mas um standard.

[don’t feed or spank the monkey]

Segunda-feira



I don't do nudity, go live on cam, do live shows, do request pictures, cam with others, or do porn for any amount of money or begging. So please do not email me asking.

Um blogue bem feito faz bem à saúde. O Kitta.net junta um design soft com muita atitude e palavrões à mistura. É considerado um dos melhores blogues australianos.

[fotoben]

Segunda-feira



Uma nova fotografia todos os dias. O conceito é o mesmo do famoso Daily Dose Of Imagery, por sinal vencedor dos Bloggies 2005 na categoria de melhor fotoblog. Eis então o FotoBen por Benjamim Fonseca, oferecendo breves momentos de cada dia que passa por Lisboa e arredores. A visitar e a acompanhar a evolução deste novo fotoblog português.