Lady In The Water
Terei por certo sucumbido aos encantos de M. Night Shyamalan, aceitando trilhar a viagem das suas muitas fantasias. Perdi de vista, algures no caminho, o momento em que divergi da multidão. Parte daqueles que se fascinaram com O Sexto Sentido não imaginariam o quanto poderiam desdenhar Shyamalan nos anos seguintes. Olhando a imensidão de críticas arrasadoras que os seus últimos filmes têm recebido, talvez tenha chegado a hora de me dedicar a um pouco de psicanálise.
Quando me separei desse grupo, afinal? Em mim não houve surpresa ao descobrir n’O Protegido uma obra superior. Explicá-lo tornou-se impossível a ponto de desistir de tentar sequer. Com Shyamalan passei definitivamente para o outro lado do espelho.
Sinais começava com a imagem de um campo de milho onde o primeiro dos muitos sinais dispersos da história ia aparecer. Vemos o campo através de uma janela da velha casa, os vidros antigos distorcendo a vista, revelando nem tudo ser aquilo que aparenta. Reconheço poucos cineastas capazes de mergulhar de tal forma nessa distorção da lente e do olhar onde se balança a dúvida e a fé. Talvez tudo se resuma ao conflito desse pai, como para todos nós, que a fé não é realmente a ausência de dúvida, mas uma atitude consciente de vontade em aceitar a grandeza do inexplicável nas nossas vidas.
E eis que Shyamalan regressa com A Vila, já rotulado de desastre iminente antes mesmo de ver a luz do dia. E descubro, sem surpresa ou assombro, uma obra-prima. Uma história fascinante pontuada pela iconografia do fantástico, que nos fala da monstruosidade latente no ser humano, da qual ninguém pode verdadeiramente ser salvo. Mergulhei com Ivy no bosque dos medos, perdi-me no fascínio daquelas árvores com seus ramos infinitos, o universo denso e espesso que o podemos sentir com as próprias mãos. E assim chego, ainda mal vislumbrando o céu por entre as folhas da sua última fantasia, a este condomínio dos subúrbios de Filadélfia.
Via Lady In The Water (A Senhora Da Água) e pensava – eis um filme desfazado dos dias que correm. Haverá no mundo inocência bastante para conter tal obra? Eis o mistério de um filme que se constrói sobre a ilusão que habita, como uma chama ténue, a alma de um criador. Disparate ou magia?
As histórias de Shyamalan são um mosaico com muitas peças, entre o que se diz e o que fica por dizer. À medida que as peças se encaixam, eis que se vai revelando uma clareza que ilumina a alma. Este é também um filme de ilusões, correndo na berma dos nossos preconceitos, dos nossos limites. Este é um filme que nos envergonha, porque ao acreditarmos nos expõe.
Poucos cineastas serão capazes de capturar essa ambivalência de uma magia imersa sob o manto do banal. Em tempos, um jovem Spielberg fazia-nos sonhar com um extraterrestre escondido no armário. Que vivam, agora e sempre, os monstros, no armário ou ocultos sobre a relva, as ninfas mergulhadas no tanque da piscina. Que viva, pois, esta Senhora da Água, num lugar especial dos corações daqueles que ainda ousam acreditar.
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concordo que seja uma injustiça o arrasar de shyamalan. mas ele há-de conquistar as massas de novo.
ResponderEliminarpessoalmente adorei a vila e considero o meu filme favorito deste realizador. não compreendo porque sou uma de poucas com esta opinião. mas este senhor é de facto dos poucos que sabe dar sensibilidade a um filme lírico
Sou um fã de "Sinais" sobretudo porque abre uma perspectiva diferente sobre o dominio geográfico do homem relativamente ao lugar que habita, e nesse sentido é uma obra belissima de realização.
ResponderEliminarMas Daniel.. não consigo gostar de "Lady in the Water". Há uma tendência de Shyamalan de procurar validar os seus filmes impingindo-nos a sua presença, e aqui ele aparece e dispoe de demasiado tempo de camera.
Apesar de tudo é a mais bela fábula moderna, não teve medo de ser infantil e talvez por isso consiga ser tão adulta.
Eu sou uma fã de M. Nigth Shyamalan, e a beleza dos seus filmes, tanto visual e esperitualmente, são dificeis de descrever, só outro realizador (Tim Burton) me faz acreditar ainda que à luz dos nossos dias ainda existem optimos contadores de estórias.
ResponderEliminarFica aqui também os meus parabens pelo seu excelente Blog sobre a Arquitectura.
Cheguei ao Shyamalan pelo Sexto Sentido que me deixou embasbacada, recuei para o fantástico O Protegido e depois por aí fora... A Vila continua a ser o meu favorito mas A Senhora da Água espantou-me pelo atrevimento e coragem. Não cheguei a ver críticas mas sempre tive a sensação que iriam arrasá-lo. "Este é um filme que nos envergonha, porque ao acreditarmos nos expõe."... exactamente, não estamos habituados nem gostamos que nos tirem o tapete debaixo dos pés desta maneira e nos deixem assim frágeis.
ResponderEliminarÉ lindíssimo.
pois parece que ele ganhou um Razzie com este filme
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