Sábado
Eu tenho uma teoria. A idade da democracia devia ser contabilizada numa escala inversamente proporcional à da idade dos cães. Assim, se um ano corresponde a sete anos de vida de desenvolvimento de um cão, sete anos correspondem a um ano de vida de democracia. Concluindo, se a nossa democracia tem trinta anos, isso corresponde a um desenvolvimento de quatro anos e tal. Ainda mal chegámos à pré-primária.
Vem isto a propósito das palavras de Miguel Sousa Tavares (O Preço da Liberdade) em que fala sobre a falta de cultura de liberdade dos portugueses. Sempre achei que só uma visão excessivamente romântica poderá fazer crer que com uma revolução se apagam todas as marcas que resultaram da ditadura. O 25 de Abril terá trazido ao de cima alguns dos melhores sentimentos dos portugueses, forçados durante tantas décadas a exercer o papel de capachos, mas não fez desaparecer todos os agentes do mal. Ao mesmo tempo que nas ruas muitos manifestavam o que viria ser uma difícil conquista da democracia, submergiam nessa sociedade anónima os antigos bufos, os perseguidores e mesmo os torturadores. A espinha dorsal do país é a mesma, as pessoas são as mesmas, o contexto é que mudou.
Ao nível da cultura do estado o problema é ainda mais profundo porque as marcas de um sistema de vassalagem hierárquica não se transpõem de um dia para o outro.
Estamos a aprender de maneira difícil que a maturidade de uma democracia não se conquista em trinta anos. Na verdade, alguns já aqui andam há séculos e ainda se deparam por vezes com fortes contradições e dificuldades. A democracia é, afinal, uma batalha que nunca está ganha e pela qual será necessário lutar sempre.
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