Quinta-feira
A propósito da forma como a tecnologia se encaminha para a capacidade de reproduzir (virtualmente) mundos completamente realistas, a ponto de se poder imaginar que um dia a percepção do virtual e do real se irão fundir, é possível fazer todo o tipo de extrapolações interessantes.
Quando olhamos para o interface actual entre o nosso mundo e o mundo da máquina, ou seja, para o computador, podemos detectar como esse interface é rudimentar. Um ecrã, um teclado e um rato são filtros pesados entre o observador e o universo virtual. Mas o tempo virá em que esse interface será mais adaptado à orgânica do corpo, deixando de ser um obstáculo mas uma extensão da nossa percepção: um upgrade.
É certo que uma tal tecnologia irá permitir a realização de todo o tipo de perversões e alienações, que de resto já existem de formas menos sofisticadas. Mas podemos também imaginar que essa tecnologia permitirá concretizar aplicações muito positivas.
Imaginemos por exemplo que um(a) jovem está a estudar a pintura de Van Gogh. Tradicionalmente obterá a informação que procura nos livros ou na internet, assim contactando com reproduções dos quadros. Um professor transmitirá os fundamentos da história, vida e referências do pintor.
Imaginemos agora uma experiência inteiramente diversa. Numa realidade virtual, o/a jovem percorre um museu onde está presente toda a obra de Van Gogh. Pára em frente a um quadro, imaginemos, a famosa Ponte de Langlois em Arles. Depois de olhar atenciosamente, clica no quadro e, subitamente, tudo se transforma à sua volta. Já não está num museu, mas dentro da própria realidade do quadro, envolvido pelas cores, os traços e, porque não, os sons imaginários de uma realidade simulada: o mundo do quadro.
Passeando um pouco pela beira do rio alguém se aproxima. O próprio Van Gogh entra dentro do quadro e fala com o/a jovem. Agora, a envolvente transforma-se novamente e estamos na beira do rio verdadeiro (simulado), junto da própria ponte em Arles, como ela era quando Van Gogh a pintou. E ali, pela voz (virtual) do próprio, ouvimo-lo contar as histórias que envolveram aquela fase da sua vida, dos seus quadros e do seu conturbado percurso artístico.
Um Van Gogh imaginado, professor digital de si próprio. Porque não?
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