Quarta-feira
Geo Jogging é um sistema que permite aos entusiastas do atletismo documentar e seguir bons percursos de corrida.
|grandes|muito|grandes|
Quarta-feira
Vamos lá a ver se todos percebem...
E má’nada...
Vamos lá a ver se todos percebem...
Eu aqui escrevo as letras do tamanho que me apetecer!...
E má’nada...
zahaha
Terça-feira
[Official Web Site Of Zaha Hadid Architects]
[ON-LINE MEDIA KIT ANNOUNCING THE 2004 PRITZKER ARCHITECTURE PRIZE LAUREATE]
[Not only was Hadid the first ever architect to feature in KultureFlash's artist-in-residence programme (with her Car Park and Terminal in Strasbourg, which went on to win the 2003 Mies van der Rohe award), she has now won the 2004 Pritzker Architecture Prize, the equivalent of a Nobel Prize and most prestigious architecture award in the world. The first female architect of global standing, Hadid will also be the first female Pritzker laureate ever, and the third UK-based architect (following James Stirling and Lord Foster) to receive the honour. The prize is awarded to living architects who have "produced consistent and significant contributions to humanity and the built environment through the art of architecture".]
[Zaha Hadid has been chosen as the first woman to become the 2004 Laureate of the Pritzker Architecture Prize. She is the 26th Pritzker Laureate to be honoured and the third from the UK.]
[The building's corner situation led to the development of two different, but complementary, facades. The south facade, along Sixth Street, forms an undulating, translucent skin, through which passers-by see into the life of the Centre. The east facade, along Walnut, is expressed as a sculptural relief. It provides an imprint, in negative, of the gallery interiors.]
[Zaha Hadid è fra gli interpreti più significativi del decostruttivismo in architettura, che trova fonte di ispirazione negli artisti dell’avanguardia russa dei primi decenni del ‘900, come i costruttivisti e i suprematisti.]
[Zaha Hadid's designs used to be considered unbuildable...]
[Hadid, 53, says architecture "is really about ideas." Some of her ideas were considered radical just a decade or two ago. Now her designs have been accepted by cities and corporations worldwide.]
[Surfaces of concrete, glass and wood slide past and through each other, giving the spaces a restless, jarring quality, contrasting with the calming views through the wide expanses of glass that run most of the its length.]
[Si tratta di uno spazio fluido, in divenire, dove grandi pannelli sinuosi e asimmetrici, emergono dal pavimento o calano dal soffitto, si intersecano, si schivano, si incrociano, destrutturano lo spazio e suggeriscono un percorso labirintico.]
[Central to her concerns is a simultaneous engagement in practice, teaching and research, in the pursuit of an uncompromising commitment to modernism.]
[Official Web Site Of Zaha Hadid Architects]
[ON-LINE MEDIA KIT ANNOUNCING THE 2004 PRITZKER ARCHITECTURE PRIZE LAUREATE]
[Not only was Hadid the first ever architect to feature in KultureFlash's artist-in-residence programme (with her Car Park and Terminal in Strasbourg, which went on to win the 2003 Mies van der Rohe award), she has now won the 2004 Pritzker Architecture Prize, the equivalent of a Nobel Prize and most prestigious architecture award in the world. The first female architect of global standing, Hadid will also be the first female Pritzker laureate ever, and the third UK-based architect (following James Stirling and Lord Foster) to receive the honour. The prize is awarded to living architects who have "produced consistent and significant contributions to humanity and the built environment through the art of architecture".]
[Zaha Hadid has been chosen as the first woman to become the 2004 Laureate of the Pritzker Architecture Prize. She is the 26th Pritzker Laureate to be honoured and the third from the UK.]
[The building's corner situation led to the development of two different, but complementary, facades. The south facade, along Sixth Street, forms an undulating, translucent skin, through which passers-by see into the life of the Centre. The east facade, along Walnut, is expressed as a sculptural relief. It provides an imprint, in negative, of the gallery interiors.]
[Zaha Hadid è fra gli interpreti più significativi del decostruttivismo in architettura, che trova fonte di ispirazione negli artisti dell’avanguardia russa dei primi decenni del ‘900, come i costruttivisti e i suprematisti.]
[Zaha Hadid's designs used to be considered unbuildable...]
[Hadid, 53, says architecture "is really about ideas." Some of her ideas were considered radical just a decade or two ago. Now her designs have been accepted by cities and corporations worldwide.]
[Surfaces of concrete, glass and wood slide past and through each other, giving the spaces a restless, jarring quality, contrasting with the calming views through the wide expanses of glass that run most of the its length.]
[Si tratta di uno spazio fluido, in divenire, dove grandi pannelli sinuosi e asimmetrici, emergono dal pavimento o calano dal soffitto, si intersecano, si schivano, si incrociano, destrutturano lo spazio e suggeriscono un percorso labirintico.]
[Central to her concerns is a simultaneous engagement in practice, teaching and research, in the pursuit of an uncompromising commitment to modernism.]
|konstrukt|de-strukt|
Segunda-feira
Deconstructivism, or Deconstruction, is an approach to building design which attempts to view architecture in bits and pieces. The basic elements of architecture are dismantled. Deconstructivist buildings may seem to have no visual logic:
Deconstructivism, or Deconstruction, is an approach to building design which attempts to view architecture in bits and pieces. The basic elements of architecture are dismantled. Deconstructivist buildings may seem to have no visual logic:
They may appear to be made up of unrelated, disharmonious abstract forms.
|baixas|expectativas|
Sexta-feira
Agora você também já pode ter a sua namorada imaginária, um serviço pago em que uma mulher real (dizem eles) faz de conta que é a sua namorada de longa distância, enviando-lhe cartas de amor personalizadas, emails, fotografias, deixando mesmo mensagens no seu telefone e providenciando outros serviços adicionais não especificados (girlfriend-like services). Isto parece-me “extremamente positivo”. Já estou a imaginar as hipóteses de franchising. A seguir: a sua mulher imaginária, a sua família imaginária, o seu emprego imaginário. Enquanto isso, você pode continuar alegremente sentado a navegar... na internet.
Agora você também já pode ter a sua namorada imaginária, um serviço pago em que uma mulher real (dizem eles) faz de conta que é a sua namorada de longa distância, enviando-lhe cartas de amor personalizadas, emails, fotografias, deixando mesmo mensagens no seu telefone e providenciando outros serviços adicionais não especificados (girlfriend-like services). Isto parece-me “extremamente positivo”. Já estou a imaginar as hipóteses de franchising. A seguir: a sua mulher imaginária, a sua família imaginária, o seu emprego imaginário. Enquanto isso, você pode continuar alegremente sentado a navegar... na internet.
|brainstorming|
Sexta-feira
Vamos lá a ver, aqui por entre os apontamentos da secretária... Tantos links bons de arquitectura para introduzir no template... talvez para a semana.
Vamos lá a ver, aqui por entre os apontamentos da secretária... Tantos links bons de arquitectura para introduzir no template... talvez para a semana.
Entretanto que tal visitar este The Untitled Project (a series of photographs of urban settings accompanied by a graphical text layout. The photographs have been digitally stripped of all traces of textual information. The text pieces show the removed text in the approximate location and font as it was found in the photograph). O mundo despido de informação, de lettrings, de conteúdo, ficando apenas o suporte.
Muito interessantes também estes desenhos de Sarah Trigg, pinturas tradicionais e digitais que exploram a relação entre a geografia e a biologia. Depois ver mais pinturas de Sarah Trigg, porque sim.
Para quem gosta de ler textos compridos, pode perder-se neste Time Will Tell, ou passear In And Out Of Elevators In Japan, (Elevator space in Japan is considered both as an example of transit space generally and as an example of the practice of a particular national identity).
E sim, eu sei que também escrevo textos grandes demais mas ninguém é obrigado a ler até ao fim...
Vamos dos elevadores para o metro. Subway systems of the world, presented on the same scale, para comparar redes de metro de todo o mundo. Portugal não incluído.
Veja mapas desenhados à mão.
Já imaginou comprar uma casa como quem vai ao IKEA? A sua futura moradia, entregue em dois camiões, desmontada, para que “monte você mesmo”? Agora sim, com esta esta genial Glide House. Só na América, claro!
Por fim, aprenda a vandalizar a arte da melhor maneira.
|o|meu|bonsai|
Sábado
Hoje disseram-me que o meu bonsai não era verdadeiro. Respondi que não só era verdadeiro, como tinha bons sentimentos...
Hoje disseram-me que o meu bonsai não era verdadeiro. Respondi que não só era verdadeiro, como tinha bons sentimentos...
|o|cão|com|três|patas|
Ele estava num parque de estacionamento escondido debaixo de um carro. A minha mulher chegou primeiro e chamou-o. O cão não se mexeu e ela aproximou-se mais. Um olhar foi quanto bastou para perceber que a barriga do cão estava manchada de sangue. Algo estava mal.
Foi a minha vez de me aproximar e ver o que se passava. Era um cão castanho, pequeno, que não devia ter mais de dois meses. Estava encolhido sobre o corpo, muito estático. Falei baixinho com ele e toquei-lhe muito lentamente. Ele não reagiu e deixou-me ver tudo o que queria ver. Oculto na mancha vermelha em que se encolhia podia agora ver que uma das suas patas traseiras estava desfeita, gravemente partida. O cheiro metálico do sangue fazia perceber que já devia estar ali há algum tempo.
Olhei de novo para a cara do cão, olhos quase fechados, imóvel. Cheguei a mão à sua testa e ele fez o único gesto de que foi capaz, avançando a cabeça à palma da minha mão aberta, e depois suspirou.
Parecia que no meio da dor que estava certamente a sentir, aquele era o seu último conforto antes do fim.
O veterinário foi muito claro. O cão tinha múltiplas fracturas, bastante profundas, numa pata traseira. Pior, já estaria assim há um ou mesmo dois dias e a perna estava a começar a gangrenar. Se a infecção continuasse, iria morrer. A única solução era amputar a pata. Porque iria ser um animal que precisaria de alguns cuidados e atenção especial, o médico só faria a operação se nos responsabilizássemos por cuidar dele, caso contrário a solução seria terminar definitivamente com o sofrimento do animal. A minha mulher não teve dúvidas em querer ficar com ele, eu confesso que hesitei. Decidi que tomaríamos conta do cão até arranjar alguém que ficasse com ele, e a operação fez-se.
Os cães são animais extraordinários. Talvez a sua psicologia seja mais simples, talvez só pensem “estou bem” ou “estou mal”. No dia seguinte, amputado da pata traseira, o seu corpo anteriormente infectado de bactérias começava a libertar-se. A sua transformação foi como da noite para o dia. Quando o fomos buscar lá andava o magricela pelo chão, de pontos à mostra, a saltitar e a abanar a cauda como se nada se tivesse passado.
O resto da história é fácil de adivinhar. Dois anos depois, eu e a minha mulher somos os felizes donos do Moby, o cão com três patas, crescido, viçoso, que corre, sobe e desce escadas como qualquer outro. Um cão com três patas é um sobrevivente. A prova, de que a vida é difícil. E no entanto, por vezes, saltando para alcançar um biscoito ou correndo a brincar com outro cão, torna-se gracioso, como se uma quarta pata subitamente invisível aparecesse novamente. E faz-me lembrar, quando a vida parece afundar-se em problemas, que com esperança e alegria de viver todas as dificuldades se ultrapassam, e tudo se conquista.
Foi a minha vez de me aproximar e ver o que se passava. Era um cão castanho, pequeno, que não devia ter mais de dois meses. Estava encolhido sobre o corpo, muito estático. Falei baixinho com ele e toquei-lhe muito lentamente. Ele não reagiu e deixou-me ver tudo o que queria ver. Oculto na mancha vermelha em que se encolhia podia agora ver que uma das suas patas traseiras estava desfeita, gravemente partida. O cheiro metálico do sangue fazia perceber que já devia estar ali há algum tempo.
Olhei de novo para a cara do cão, olhos quase fechados, imóvel. Cheguei a mão à sua testa e ele fez o único gesto de que foi capaz, avançando a cabeça à palma da minha mão aberta, e depois suspirou.
Parecia que no meio da dor que estava certamente a sentir, aquele era o seu último conforto antes do fim.
O veterinário foi muito claro. O cão tinha múltiplas fracturas, bastante profundas, numa pata traseira. Pior, já estaria assim há um ou mesmo dois dias e a perna estava a começar a gangrenar. Se a infecção continuasse, iria morrer. A única solução era amputar a pata. Porque iria ser um animal que precisaria de alguns cuidados e atenção especial, o médico só faria a operação se nos responsabilizássemos por cuidar dele, caso contrário a solução seria terminar definitivamente com o sofrimento do animal. A minha mulher não teve dúvidas em querer ficar com ele, eu confesso que hesitei. Decidi que tomaríamos conta do cão até arranjar alguém que ficasse com ele, e a operação fez-se.
Os cães são animais extraordinários. Talvez a sua psicologia seja mais simples, talvez só pensem “estou bem” ou “estou mal”. No dia seguinte, amputado da pata traseira, o seu corpo anteriormente infectado de bactérias começava a libertar-se. A sua transformação foi como da noite para o dia. Quando o fomos buscar lá andava o magricela pelo chão, de pontos à mostra, a saltitar e a abanar a cauda como se nada se tivesse passado.
O resto da história é fácil de adivinhar. Dois anos depois, eu e a minha mulher somos os felizes donos do Moby, o cão com três patas, crescido, viçoso, que corre, sobe e desce escadas como qualquer outro. Um cão com três patas é um sobrevivente. A prova, de que a vida é difícil. E no entanto, por vezes, saltando para alcançar um biscoito ou correndo a brincar com outro cão, torna-se gracioso, como se uma quarta pata subitamente invisível aparecesse novamente. E faz-me lembrar, quando a vida parece afundar-se em problemas, que com esperança e alegria de viver todas as dificuldades se ultrapassam, e tudo se conquista.
|geografismos|:|há|vida|na|net|
Quarta-feira
Chama-se Geografismos e é um blog educacional orientado para a geografia e a vida escolar. Entre o estudo, a divulgação, a reflexão e a fotografia, o seu autor Luís Palma de Jesus criou um projecto que demonstra a coragem de experimentar a utilização de novos suportes como forma de motivar os seus alunos e levá-los a participar de forma activa na internet, exprimindo-se, reflectindo, comunicando. É uma proposta vencedora e o seu blog é hoje o ponto central de uma comunidade de estudantes (com referências a mais de 70 blogs de alunos), tendo já merecido diversas referências e elogios como este do Jornal Público.
Tão interessante como o conteúdo do blog é servir de ponto de reflexão da própria vivência escolar, como forma de chegar aos alunos e levá-los a analisar comportamentos e a motivá-los.
Fica aqui o convite a visitarem estes Geografismos, felicitando o seu autor pelo belíssimo trabalho. São estes os professores de quem mais tarde nos recordamos na vida...
Chama-se Geografismos e é um blog educacional orientado para a geografia e a vida escolar. Entre o estudo, a divulgação, a reflexão e a fotografia, o seu autor Luís Palma de Jesus criou um projecto que demonstra a coragem de experimentar a utilização de novos suportes como forma de motivar os seus alunos e levá-los a participar de forma activa na internet, exprimindo-se, reflectindo, comunicando. É uma proposta vencedora e o seu blog é hoje o ponto central de uma comunidade de estudantes (com referências a mais de 70 blogs de alunos), tendo já merecido diversas referências e elogios como este do Jornal Público.
Tão interessante como o conteúdo do blog é servir de ponto de reflexão da própria vivência escolar, como forma de chegar aos alunos e levá-los a analisar comportamentos e a motivá-los.
Fica aqui o convite a visitarem estes Geografismos, felicitando o seu autor pelo belíssimo trabalho. São estes os professores de quem mais tarde nos recordamos na vida...
|be|moved|
Terça-feira
One can be moved by beauty, or moved by the challenge of solving design problems. If one wants to affect lives, it makes sense to choose one's projects wisely. Do we design for the priveleged few, or the disadvantaged masses? [Toyo Ito]
|no|comments|
Terça-feira
Já repararam que os “pins” do Euro 2004 oferecidos pela Macdonalds com o Menu Big têm a etiqueta Made in Spain?
Já repararam que os “pins” do Euro 2004 oferecidos pela Macdonalds com o Menu Big têm a etiqueta Made in Spain?
|ismo|
Segunda-feira
[via Open Democracy] “Terrorismo” é uma palavra bem mais precisa do que pode parecer. É um ismo, uma crença – no terror. Alguns racionalistas ferozes recusam-se a confrontar o facto de que existem pessoas dispostas a morrer para aterrorizar populações inteiras. Essa determinação, e mesmo o desejo, não acolhe argumentos. Tanto quanto entendo esta mentalidade, é uma crença que reside no lado oposto e longínquo da discussão. Exige uma resposta militar focalizada – precisa, não um espasmo de vingança, não um ataque a uma fábrica farmacêutica, mas uma acção que distingue os assassinos dos civis. Não é tarefa fácil. Nada a que se deva reagir a correr.
[via Open Democracy] “Terrorismo” é uma palavra bem mais precisa do que pode parecer. É um ismo, uma crença – no terror. Alguns racionalistas ferozes recusam-se a confrontar o facto de que existem pessoas dispostas a morrer para aterrorizar populações inteiras. Essa determinação, e mesmo o desejo, não acolhe argumentos. Tanto quanto entendo esta mentalidade, é uma crença que reside no lado oposto e longínquo da discussão. Exige uma resposta militar focalizada – precisa, não um espasmo de vingança, não um ataque a uma fábrica farmacêutica, mas uma acção que distingue os assassinos dos civis. Não é tarefa fácil. Nada a que se deva reagir a correr.
|dois|pais|
Segunda-feira
[via Público: O Ridículo Causa Danos, por Miguel Sousa Tavares] Por idênticos e primários raciocínios, caiu em cima de Luís Vilas Boas um coro de politicamente correctos, só porque ele se atreveu a dizer uma coisa óbvia: que um casal homossexual não oferece garantias para criar e educar equilibradamente uma criança. Uma vez mais, é o direito das próprias crianças a uma infância saudável que passa para segundo plano, cedendo ao direito dos homossexuais, mulheres ou homens, de brincarem aos pais e mães. Uma vez mais, a minha resposta é: olhem para a natureza. Já viram elefantes "gays" ou focas lésbicas a criarem filhos em comum? Peçam o que é legitimo pedir - igualdade de direitos conjugais e sucessórios, por exemplo -, mas não peçam o que não é natural pedir e ofende os direitos legítimos de terceiros inocentes.
Deixem-me começar com a maior abertura que é possível ter: eu gosto do Miguel Sousa Tavares. Gosto de ler o que ele escreve e reconheço-lhe muitas vezes uma grande lucidez. No entanto, saudavelmente, nem sempre concordo com os seus argumentos e às vezes discordo completamente do que diz. Eis-me então perante estas palavras que me deixam, acima de tudo surpreendido, não pela discordância, mas pelo simplismo a que MST resume uma questão que é complexa. Analisemos...
Ponto forte: um casal homossexual não oferece garantias para criar e educar equilibradamente uma criança. Isto pode ser uma coisa que se diz assim da boca para fora lá em casa, mas escrito numa crónica de opinião merecia ser sustentado por mais argumentos. Fica a pergunta: porque é que um casal homossexual não oferece garantias para criar e educar equilibradamente uma criança? E de que modo é que o casal homossexual põe em causa o direito das próprias crianças a uma infância saudável? O simplismo (e o ridículo) vem com a argumentação seguinte - olhem para a natureza - e os exemplos que se seguem. Bem, olhando para a natureza possivelmente podíamos justificar o machismo, a infidelidade e com alguma habilidade até a violência doméstica.
Miguel Sousa Tavares não vai ler isto e por isso que caia no vazio este pedido de que olhe para o umbigo e se questione. Não se compare o que não é comparável. Mas acima de tudo, reflicta-se sobre os termos simplistas com que escreveu coisas como: não peçam o que não é natural pedir e ofende os direitos legítimos de terceiros inocentes. Porque aqui existem vários preconceitos latentes que devem ser reflectidos e que tomei a liberdade de sublinhar. O que define MST por natural? O exemplo das focas e dos elefantes? E que significado tem neste contexto definir as crianças de inocentes? Serão elas “vítimas” atingidas pelo “crime” da adopção homossexual? Porque a questão não é, julgo eu, os homossexuais quererem brincar aos pais e às mães. Pelo contrário, é quererem participar de uma responsabilidade social para com muitas crianças que, de outra forma, não terão um lar onde crescer.
A verdade meu caro Miguel é que a realidade nem sempre é aquilo que imaginamos. Deixo aqui um exemplo para reflectirmos todos um pouco mais sobre isto...
[via Público: O Ridículo Causa Danos, por Miguel Sousa Tavares] Por idênticos e primários raciocínios, caiu em cima de Luís Vilas Boas um coro de politicamente correctos, só porque ele se atreveu a dizer uma coisa óbvia: que um casal homossexual não oferece garantias para criar e educar equilibradamente uma criança. Uma vez mais, é o direito das próprias crianças a uma infância saudável que passa para segundo plano, cedendo ao direito dos homossexuais, mulheres ou homens, de brincarem aos pais e mães. Uma vez mais, a minha resposta é: olhem para a natureza. Já viram elefantes "gays" ou focas lésbicas a criarem filhos em comum? Peçam o que é legitimo pedir - igualdade de direitos conjugais e sucessórios, por exemplo -, mas não peçam o que não é natural pedir e ofende os direitos legítimos de terceiros inocentes.
Deixem-me começar com a maior abertura que é possível ter: eu gosto do Miguel Sousa Tavares. Gosto de ler o que ele escreve e reconheço-lhe muitas vezes uma grande lucidez. No entanto, saudavelmente, nem sempre concordo com os seus argumentos e às vezes discordo completamente do que diz. Eis-me então perante estas palavras que me deixam, acima de tudo surpreendido, não pela discordância, mas pelo simplismo a que MST resume uma questão que é complexa. Analisemos...
Ponto forte: um casal homossexual não oferece garantias para criar e educar equilibradamente uma criança. Isto pode ser uma coisa que se diz assim da boca para fora lá em casa, mas escrito numa crónica de opinião merecia ser sustentado por mais argumentos. Fica a pergunta: porque é que um casal homossexual não oferece garantias para criar e educar equilibradamente uma criança? E de que modo é que o casal homossexual põe em causa o direito das próprias crianças a uma infância saudável? O simplismo (e o ridículo) vem com a argumentação seguinte - olhem para a natureza - e os exemplos que se seguem. Bem, olhando para a natureza possivelmente podíamos justificar o machismo, a infidelidade e com alguma habilidade até a violência doméstica.
Miguel Sousa Tavares não vai ler isto e por isso que caia no vazio este pedido de que olhe para o umbigo e se questione. Não se compare o que não é comparável. Mas acima de tudo, reflicta-se sobre os termos simplistas com que escreveu coisas como: não peçam o que não é natural pedir e ofende os direitos legítimos de terceiros inocentes. Porque aqui existem vários preconceitos latentes que devem ser reflectidos e que tomei a liberdade de sublinhar. O que define MST por natural? O exemplo das focas e dos elefantes? E que significado tem neste contexto definir as crianças de inocentes? Serão elas “vítimas” atingidas pelo “crime” da adopção homossexual? Porque a questão não é, julgo eu, os homossexuais quererem brincar aos pais e às mães. Pelo contrário, é quererem participar de uma responsabilidade social para com muitas crianças que, de outra forma, não terão um lar onde crescer.
A verdade meu caro Miguel é que a realidade nem sempre é aquilo que imaginamos. Deixo aqui um exemplo para reflectirmos todos um pouco mais sobre isto...
|silêncio|de|morte|
Domingo
[via Público] Sete meses de vida, olhos azuis e uns cabelitos loiros. Patrícia, vítima número 199 dos atentados terroristas de anteontem, morreu no dia em que os espanhóis se levantaram em peso contra o terrorismo e Madrid não podia ter sido mais fiel à expressão da revolta que funcionava como uma espécie de onda expansiva pelo país.
Há momentos em que só o silêncio já parece fazer sentido. Só naquele minuto de silêncio em que o vazio nos liberta da especulação insensível se começa a sentir um pouco da verdade.
A pergunta que fica dos destroços desta barbárie é em nome de que injustiças, de que ideais, de que revolta se colheram aquelas vidas. Quem escreve a história de Patrícia, quem reclama esta vida. Quem se arrogou o direito de destruir os direitos desta criança, o direito a um futuro, o direito a uma vida.
Perante esta violência chega o momento em que temos de nos perguntar se temos nós o direito a um pacifismo de sofá. Quando a guerra chega à nossa porta será legítimo ser neutral? Já não é uma questão de esquerda ou de direita, é uma questão de reclamar o direito a viver. Temos de combater estes fundamentalismos, mas também aqueles que sorrateiramente se desenvolvem na nossa sociedade pelo maniqueísmo e pela demagogia, pela falsidade com que se conduzem muitos ao sabor dos interesses de alguns. Chega a hora de questionarmos o mundo e questionarmo-nos a nós próprios, contra estes fundamentalismos cheios de juizos e certezas, arrogantes de direitos e déspotas das obrigações.
Fica o silêncio...
[via Público] Sete meses de vida, olhos azuis e uns cabelitos loiros. Patrícia, vítima número 199 dos atentados terroristas de anteontem, morreu no dia em que os espanhóis se levantaram em peso contra o terrorismo e Madrid não podia ter sido mais fiel à expressão da revolta que funcionava como uma espécie de onda expansiva pelo país.
Há momentos em que só o silêncio já parece fazer sentido. Só naquele minuto de silêncio em que o vazio nos liberta da especulação insensível se começa a sentir um pouco da verdade.
A pergunta que fica dos destroços desta barbárie é em nome de que injustiças, de que ideais, de que revolta se colheram aquelas vidas. Quem escreve a história de Patrícia, quem reclama esta vida. Quem se arrogou o direito de destruir os direitos desta criança, o direito a um futuro, o direito a uma vida.
Perante esta violência chega o momento em que temos de nos perguntar se temos nós o direito a um pacifismo de sofá. Quando a guerra chega à nossa porta será legítimo ser neutral? Já não é uma questão de esquerda ou de direita, é uma questão de reclamar o direito a viver. Temos de combater estes fundamentalismos, mas também aqueles que sorrateiramente se desenvolvem na nossa sociedade pelo maniqueísmo e pela demagogia, pela falsidade com que se conduzem muitos ao sabor dos interesses de alguns. Chega a hora de questionarmos o mundo e questionarmo-nos a nós próprios, contra estes fundamentalismos cheios de juizos e certezas, arrogantes de direitos e déspotas das obrigações.
Fica o silêncio...
|transcender|
Terça-feira
Há quem confunda arte com agressão. Cada afirmação tem de ser um manifesto, cada gesto um murro na mesa. Mas violento não é sinónimo consequente ou pertinente.
Arte é um conceito difícil de definir mas que reside numa certa ideia de transcendência. A arte é uma expressão do espírito humano e do modo como nos relacionamos com o mundo. O momento da arte é o da transformação do olhar, para usar uma citação do crítico de cinema João Lopes, abalando toda a verdade do que somos. É o momento de transcendência em que nos apercebemos que a nossa compreensão da vida se transforma, aumenta nesse instante, como alguém que descobre e diz: sim, eu sei exactamente de que é que tu estás a falar.
Se existe alguma razão para a arquitectura ser “erudita” é por procurar exactamente essa transcendência da arte. O modo como projectamos o espaço define o que somos enquanto humanos. Por isto saímos da caverna, porque já não nos revemos nela. E por isso a arquitectura não é uma arte amordaçada. O que a define é exactamente o homem. O que define uma porta é o homem a passar nela. Se não passar não é uma porta. Há quem encontre nos “constrangimentos” da realidade um espartilho para a sua imaginação, ao ponto do próprio cliente se tornar num constrangimento do artista. Esta atitude não tem nada de erudito, é uma mentira. Não tem nada que ver com arte, nada que ver com liberdade. É tão absurda como dizer que as regras da gramática são um constrangimento para o escritor ou para a literatura.
Uma vez citei aqui Frank Lloyd Wright: Freedom is from within. A liberdade vem de dentro. Repito estas palavras, porque o verdadeiro constrangimento do arquitecto artista é ele próprio. A nossa maior condicionante, somos nós.
Ao longo da nossa vida pessoal e profissional aplicamos as referências que conhecemos e por isto travamos uma batalha até ao fim dos nossos dias. A da busca de conhecimento, para alargarmos o nosso vocabulário de referências, a nossa capacidade de percepcionar os problemas e encontrar as soluções mais lúcidas. Mas para lá disto temos a obrigação de nos esforçar para projectar essas soluções como Arquitectura, essa com “A” grande. A arquitectura faz-se com contemporaneidade, com verdade, com sentimento, com desejo de transcender. Para que uma parede não seja apenas uma parede mas uma palavra, e a escala se torne um sentido e a experiência de a sentir eleve o espírito humano. O mesmo faz o músico, mas as suas ferramentas não são o tijolo, a pedra, a madeira ou o ferro, mas os instrumentos musicais, as cordas e os metais. O mesmo faz o pintor, ou o fotógrafo, ou o escritor.
Quando perguntaram ao Peter Eisenman se se considerava um pós-modernista ele respondeu algo como: sim, mas isso é dizer muito pouco. É evidente que vivemos na pós-modernidade mas ainda hoje não sabemos bem o que isso é ou para onde vai. E não falo do pós-modernismo segundo Charles Jencks que é uma mistificação: a mixagem eclética de elementos estéticos, antigos e modernos, que conduziram a arquitectura dita “pós-modernista” a um beco sem aparente saída. Pura e simplesmente, como alertava Eisenman, somos pós-modernistas porque somos herdeiros da grande tradição modernista. Esquecem-se os que auguram a falência da modernidade, acusada de desumanizadora, que alí se fundaram os princípios da arquitectura e do urbanismo enquanto serviço público. E devem ser relembrados que os grandes modernistas da história, a começar em Le Corbusier, foram homens que tentaram constituir uma doutrina que pusesse a industrialização e as novas tecnologias da construção ao serviço do homem. Fizeram-no com base nas possibilidades abertas pelos progressos tecnológicos e científicos do século XX e fazendo frente aos graves problemas que a transformação das sociedades (e das cidades) introduzia na realidade humana.
Muitos dos problemas acusados à arquitectura e urbanismo modernistas são na verdade problemas que não têm a sua génese na arquitectura. A transformação da economia social com a fixação de estruturas industriais nas cidades. A consequente migração de população para áreas urbanas e as novas hierarquias sociais. As exigências crescentes das populações no que respeita a necessidades básicas, como emprego, habitação, saúde, segurança social, ensino. O alastramento do automóvel e a consolidação da sociedade de consumo.
Os arquitectos e urbanistas do modernismo tentaram enfrentar estes problemas da comunidade urbana, mas era uma batalha difícil e sem precedentes. Aprendeu-se com o caminho e por isso olhamos para trás e parece fácil apontar os erros cometidos. Mas falhou o urbanismo modernista porque as cidades se encheram de automóveis? Falhou o modernismo porque as cidades cresceram sob as pulsões promotoras do fazer cidade ditadas por interesses económicos, políticos, imobiliários?
O modernismo falhou como tem falhado em tudo o homem (na economia, na sociologia, na política, etc.) porque a realidade é complexa e ainda não fomos capazes de construir modelos que respondam a essa complexidade, que é a da vida humana. Nisso sim, terá falhado na arquitectura aquilo a que se chamou de funcionalismo, porque a vida não se faz só do fazer material dos gestos mas também da necessidade de prover a uma experiência espiritual da arquitectura e da vida. Por isso, é muito interessante questionar de que falamos quando falamos de “habitar uma casa”. O que é que torna uma casa “habitável”? Serve uma casa só para o habitar (das funções) do corpo, ou também do espírito? A resposta é evidente e abre caminho a um mundo interminável de possibilidades de projectar. Derrubar essas barreiras, que são as que temos na mente, são o caminho para chegar à arquitectura em tudo aquilo que ela pode e deve ser. Ou seja, para transcender.
Há quem confunda arte com agressão. Cada afirmação tem de ser um manifesto, cada gesto um murro na mesa. Mas violento não é sinónimo consequente ou pertinente.
Arte é um conceito difícil de definir mas que reside numa certa ideia de transcendência. A arte é uma expressão do espírito humano e do modo como nos relacionamos com o mundo. O momento da arte é o da transformação do olhar, para usar uma citação do crítico de cinema João Lopes, abalando toda a verdade do que somos. É o momento de transcendência em que nos apercebemos que a nossa compreensão da vida se transforma, aumenta nesse instante, como alguém que descobre e diz: sim, eu sei exactamente de que é que tu estás a falar.
Se existe alguma razão para a arquitectura ser “erudita” é por procurar exactamente essa transcendência da arte. O modo como projectamos o espaço define o que somos enquanto humanos. Por isto saímos da caverna, porque já não nos revemos nela. E por isso a arquitectura não é uma arte amordaçada. O que a define é exactamente o homem. O que define uma porta é o homem a passar nela. Se não passar não é uma porta. Há quem encontre nos “constrangimentos” da realidade um espartilho para a sua imaginação, ao ponto do próprio cliente se tornar num constrangimento do artista. Esta atitude não tem nada de erudito, é uma mentira. Não tem nada que ver com arte, nada que ver com liberdade. É tão absurda como dizer que as regras da gramática são um constrangimento para o escritor ou para a literatura.
Uma vez citei aqui Frank Lloyd Wright: Freedom is from within. A liberdade vem de dentro. Repito estas palavras, porque o verdadeiro constrangimento do arquitecto artista é ele próprio. A nossa maior condicionante, somos nós.
Ao longo da nossa vida pessoal e profissional aplicamos as referências que conhecemos e por isto travamos uma batalha até ao fim dos nossos dias. A da busca de conhecimento, para alargarmos o nosso vocabulário de referências, a nossa capacidade de percepcionar os problemas e encontrar as soluções mais lúcidas. Mas para lá disto temos a obrigação de nos esforçar para projectar essas soluções como Arquitectura, essa com “A” grande. A arquitectura faz-se com contemporaneidade, com verdade, com sentimento, com desejo de transcender. Para que uma parede não seja apenas uma parede mas uma palavra, e a escala se torne um sentido e a experiência de a sentir eleve o espírito humano. O mesmo faz o músico, mas as suas ferramentas não são o tijolo, a pedra, a madeira ou o ferro, mas os instrumentos musicais, as cordas e os metais. O mesmo faz o pintor, ou o fotógrafo, ou o escritor.
Quando perguntaram ao Peter Eisenman se se considerava um pós-modernista ele respondeu algo como: sim, mas isso é dizer muito pouco. É evidente que vivemos na pós-modernidade mas ainda hoje não sabemos bem o que isso é ou para onde vai. E não falo do pós-modernismo segundo Charles Jencks que é uma mistificação: a mixagem eclética de elementos estéticos, antigos e modernos, que conduziram a arquitectura dita “pós-modernista” a um beco sem aparente saída. Pura e simplesmente, como alertava Eisenman, somos pós-modernistas porque somos herdeiros da grande tradição modernista. Esquecem-se os que auguram a falência da modernidade, acusada de desumanizadora, que alí se fundaram os princípios da arquitectura e do urbanismo enquanto serviço público. E devem ser relembrados que os grandes modernistas da história, a começar em Le Corbusier, foram homens que tentaram constituir uma doutrina que pusesse a industrialização e as novas tecnologias da construção ao serviço do homem. Fizeram-no com base nas possibilidades abertas pelos progressos tecnológicos e científicos do século XX e fazendo frente aos graves problemas que a transformação das sociedades (e das cidades) introduzia na realidade humana.
Muitos dos problemas acusados à arquitectura e urbanismo modernistas são na verdade problemas que não têm a sua génese na arquitectura. A transformação da economia social com a fixação de estruturas industriais nas cidades. A consequente migração de população para áreas urbanas e as novas hierarquias sociais. As exigências crescentes das populações no que respeita a necessidades básicas, como emprego, habitação, saúde, segurança social, ensino. O alastramento do automóvel e a consolidação da sociedade de consumo.
Os arquitectos e urbanistas do modernismo tentaram enfrentar estes problemas da comunidade urbana, mas era uma batalha difícil e sem precedentes. Aprendeu-se com o caminho e por isso olhamos para trás e parece fácil apontar os erros cometidos. Mas falhou o urbanismo modernista porque as cidades se encheram de automóveis? Falhou o modernismo porque as cidades cresceram sob as pulsões promotoras do fazer cidade ditadas por interesses económicos, políticos, imobiliários?
O modernismo falhou como tem falhado em tudo o homem (na economia, na sociologia, na política, etc.) porque a realidade é complexa e ainda não fomos capazes de construir modelos que respondam a essa complexidade, que é a da vida humana. Nisso sim, terá falhado na arquitectura aquilo a que se chamou de funcionalismo, porque a vida não se faz só do fazer material dos gestos mas também da necessidade de prover a uma experiência espiritual da arquitectura e da vida. Por isso, é muito interessante questionar de que falamos quando falamos de “habitar uma casa”. O que é que torna uma casa “habitável”? Serve uma casa só para o habitar (das funções) do corpo, ou também do espírito? A resposta é evidente e abre caminho a um mundo interminável de possibilidades de projectar. Derrubar essas barreiras, que são as que temos na mente, são o caminho para chegar à arquitectura em tudo aquilo que ela pode e deve ser. Ou seja, para transcender.
|na|cidade|de|deus|
Quinta-feira
Quando a violência é uma linguagem e a sobrevivência uma palavra escrita com sangue, quando as crianças matam a rir e são estropiadas ao som de gargalhadas, a vida corre mais depressa do que uma galinha a fugir da navalha. Lá, na Cidade De Deus.
“Cidade De Deus” é o nome de um conjunto habitacional construído nos anos 60 que se veio a transformar numa enorme favela dos arredores do Rio de Janeiro e um centro dos negócios do tráfico de drogas no Brasil. O filme com o mesmo nome faz um retrato cru e fascinante do percurso dos meninos do morro, que se vieram a tornar em mega-traficantes da favela no início dos anos 80. Pelos olhos de Buscapé (Alexandre Rodrigues), um jovem pobre, negro e sensível que cresce naquele universo de violência, vemos reunir os escombros de uma grande história real. Buscapé tem o sonho de vir a ser fotógrafo, e é a sua falta de coragem para entrar no crime que o vai colocar no centro de uma das maiores guerras de quadrilhas do Rio.
Nas entrelinhas desta bela história está o registo muito actual do crescimento de uma urbanidade desumana. A cidade que cresce e cerca o bairro sem luz, sem escolas, sem saneamento, esquecida do governo. É aquele povo sem esperança e sem emprego que vai penetrando na criminalidade, pelo pequeno furto até chegar à maioridade: drogas. E armas. O filme disseca a estrutura da violência, do tráfico e da corrupção em que se instala. Mas para lá disso, sem fazer ensaio psicológico e sem ficar pela superficialidade estética da violência, a sua história transmite-se nos pequenos detalhes, nos gestos de amizade, de corrupção, de culpa. O realismo da linguagem e das imagens é total, sem sermões e sem ideologia. Este é um grande filme brasileiro e um grande filme em língua portuguesa.
Cidade De Deus é um filme de 2002 realizado por Fernando Meirelles, tendo sido nomeado para 4 Óscares (Fotografia, Realização, Montagem e Argumento Adaptado), e vencido, entre outros, o prémio BAFTA para a Melhor Montagem e o British Independent Film Award para Melhor Filme Estrangeiro.
Quando a violência é uma linguagem e a sobrevivência uma palavra escrita com sangue, quando as crianças matam a rir e são estropiadas ao som de gargalhadas, a vida corre mais depressa do que uma galinha a fugir da navalha. Lá, na Cidade De Deus.
“Cidade De Deus” é o nome de um conjunto habitacional construído nos anos 60 que se veio a transformar numa enorme favela dos arredores do Rio de Janeiro e um centro dos negócios do tráfico de drogas no Brasil. O filme com o mesmo nome faz um retrato cru e fascinante do percurso dos meninos do morro, que se vieram a tornar em mega-traficantes da favela no início dos anos 80. Pelos olhos de Buscapé (Alexandre Rodrigues), um jovem pobre, negro e sensível que cresce naquele universo de violência, vemos reunir os escombros de uma grande história real. Buscapé tem o sonho de vir a ser fotógrafo, e é a sua falta de coragem para entrar no crime que o vai colocar no centro de uma das maiores guerras de quadrilhas do Rio.
Nas entrelinhas desta bela história está o registo muito actual do crescimento de uma urbanidade desumana. A cidade que cresce e cerca o bairro sem luz, sem escolas, sem saneamento, esquecida do governo. É aquele povo sem esperança e sem emprego que vai penetrando na criminalidade, pelo pequeno furto até chegar à maioridade: drogas. E armas. O filme disseca a estrutura da violência, do tráfico e da corrupção em que se instala. Mas para lá disso, sem fazer ensaio psicológico e sem ficar pela superficialidade estética da violência, a sua história transmite-se nos pequenos detalhes, nos gestos de amizade, de corrupção, de culpa. O realismo da linguagem e das imagens é total, sem sermões e sem ideologia. Este é um grande filme brasileiro e um grande filme em língua portuguesa.
Cidade De Deus é um filme de 2002 realizado por Fernando Meirelles, tendo sido nomeado para 4 Óscares (Fotografia, Realização, Montagem e Argumento Adaptado), e vencido, entre outros, o prémio BAFTA para a Melhor Montagem e o British Independent Film Award para Melhor Filme Estrangeiro.
|change|is|coming|to|america|
Quarta-feira
(...) Esta noite a mensagem não podia ter sido mais clara em todo o país. A mudança está a chegar à América.
Diante de nós estendem-se meses de esforço e desafio. Não temos ilusões a respeito da máquina de ataque Republicana e aquilo que os nossos oponentes irão tentar fazer.
Mas eu sei que estamos à altura da tarefa. Eu sou um lutador. Durante mais de trinta anos, estive nas linhas da frente do combate pela justiça e pelos valores americanos.
E em 2004, nós vamos dizer a verdade sobre o que aconteceu ao nosso país, e vamos lutar para devolver à América o seu futuro e a sua esperança.
Existem forças poderosas que querem que a América continue no seu presente rumo. E existem também milhões de americanos feridos pelas políticas que favorecem os poucos, e que duvidam que o governo possa novamente trabalhar para eles. Milhões mais vivem diariamente no medo de perderem os seus empregos, ou perder a sua segurança social, ou as suas pensões.
A minha campanha é sobre substituir a dúvida pela esperança, e substituir o medo pela segurança.
Juntos iremos construir uma fundação para o crescimento, rejeitando os cortes aos impostos de Bush para os ricos, para reduzir o défice para metade em quatro anos e investir em segurança social e em educação.
Vamos rejeitar todos os favores fiscais e os buracos financeiros que premeiam as corporações que jogam com a legislação fiscal para levar o dinheiro para fora e evitar as suas responsabilidades para com a América.
Vamos criar novos incentivos à produtividade que recompensem as boas companhias que criam e mantêm bons empregos aqui no nosso país.
Vamos lutar pelas protecções ao emprego e ao ambiente no centro de cada acordo de comércio externo – e vamos subir o salário mínimo para que ninguém que trabalha quarenta horas por semana tenha de viver na pobreza na América.
E iremos ao encontro de um dos desafios históricos da nossa geração, com um plano audacioso para a independência energética investindo em tecnologias de futuro e criando 500.000 novos empregos, para que jovens americanos em uniforme nunca fiquem reféns do petróleo do Médio Oriente.
(...) E voltaremos a juntar-nos à comunidade de nações e renovar as nossas alianças porque isso é essencial à victória final na guerra ao terrorismo.
A Administração Bush conduziu a mais arrogante, inapta, irresponsável e ideológica política externa da história moderna.
(...) Nós rejeitamos as políticas do medo e da distorção.
E iremos honrar o ideal de América de Lincoln, como “a melhor última esperança da terra”.
(...) A minha campanha é sobre restaurar essa fé, sobre falar clara e honestamente ao povo americano. É sobre conduzir a América numa nova direcção, conduzida pelos perenes valores que esta nação proclamou nos últimos 200 anos.
(...) E assim a mensagem ecoa esta noite por esta terra: Preparem-se – vem aí um novo dia.
John Kerry, 2 de Março de 2004.
(...) Esta noite a mensagem não podia ter sido mais clara em todo o país. A mudança está a chegar à América.
Diante de nós estendem-se meses de esforço e desafio. Não temos ilusões a respeito da máquina de ataque Republicana e aquilo que os nossos oponentes irão tentar fazer.
Mas eu sei que estamos à altura da tarefa. Eu sou um lutador. Durante mais de trinta anos, estive nas linhas da frente do combate pela justiça e pelos valores americanos.
E em 2004, nós vamos dizer a verdade sobre o que aconteceu ao nosso país, e vamos lutar para devolver à América o seu futuro e a sua esperança.
Existem forças poderosas que querem que a América continue no seu presente rumo. E existem também milhões de americanos feridos pelas políticas que favorecem os poucos, e que duvidam que o governo possa novamente trabalhar para eles. Milhões mais vivem diariamente no medo de perderem os seus empregos, ou perder a sua segurança social, ou as suas pensões.
A minha campanha é sobre substituir a dúvida pela esperança, e substituir o medo pela segurança.
Juntos iremos construir uma fundação para o crescimento, rejeitando os cortes aos impostos de Bush para os ricos, para reduzir o défice para metade em quatro anos e investir em segurança social e em educação.
Vamos rejeitar todos os favores fiscais e os buracos financeiros que premeiam as corporações que jogam com a legislação fiscal para levar o dinheiro para fora e evitar as suas responsabilidades para com a América.
Vamos criar novos incentivos à produtividade que recompensem as boas companhias que criam e mantêm bons empregos aqui no nosso país.
Vamos lutar pelas protecções ao emprego e ao ambiente no centro de cada acordo de comércio externo – e vamos subir o salário mínimo para que ninguém que trabalha quarenta horas por semana tenha de viver na pobreza na América.
E iremos ao encontro de um dos desafios históricos da nossa geração, com um plano audacioso para a independência energética investindo em tecnologias de futuro e criando 500.000 novos empregos, para que jovens americanos em uniforme nunca fiquem reféns do petróleo do Médio Oriente.
(...) E voltaremos a juntar-nos à comunidade de nações e renovar as nossas alianças porque isso é essencial à victória final na guerra ao terrorismo.
A Administração Bush conduziu a mais arrogante, inapta, irresponsável e ideológica política externa da história moderna.
(...) Nós rejeitamos as políticas do medo e da distorção.
E iremos honrar o ideal de América de Lincoln, como “a melhor última esperança da terra”.
(...) A minha campanha é sobre restaurar essa fé, sobre falar clara e honestamente ao povo americano. É sobre conduzir a América numa nova direcção, conduzida pelos perenes valores que esta nação proclamou nos últimos 200 anos.
(...) E assim a mensagem ecoa esta noite por esta terra: Preparem-se – vem aí um novo dia.
John Kerry, 2 de Março de 2004.
|uma|história|de|sucesso|
Terça-feira
Há um feiticeiro na trilogia “O Senhor Dos Anéis” e chama-se Peter Jackson. Este estranho neo-zelandês autor de filmes obscuros e sanguinolentos é hoje um dos mais respeitados cineastas do mundo e o motivador de um enorme orgulho nacional, que conduziu cem mil compatriotas seus a sair à rua, em romaria, no dia da antestreia mundial de “O Regresso Do Rei”. Mas não é dos filmes que vos quero falar. Quero contar-vos uma outra história de sucesso...
Em 1993, um grupo de jovens cineastas neo-zelandeses, nos quais se incluía Peter Jackson, formava uma pequena firma chamada Weta Digital. Inicialmente com apenas um único computador, localizado nas traseiras de uma velha casa de Wellington, pôs em marcha a tarefa de realizar os efeitos visuais para um filme que o próprio Jackson estava a realizar, com o título de “Heavenly Creatures”.
Desde este começo humilde há dez anos, a companhia aumentou rapidamente em tamanho e capacidade, e tornou-se a autora de alguns dos efeitos visuais mais conceituados e premiados da indústria cinematográfica. Hoje, a Weta é proprietária de um verdadeiro arsenal de hardware e software e emprega um exército de centenas de técnicos e artistas. Claramente implantada no mercado do cinema, tem vindo a desenvolver um trabalho de referência na área dos efeitos visuais e digitais, e é um exemplo de elevado profissionalismo, criatividade, capacidade artística e saber técnico.
O sucesso desta firma e a sua responsabilidade no sucesso da trilogia “O Senhor Dos Anéis” colocou a Nova Zelândia no mapa da indústria de cinema atraindo muitos profissionais de todo o mundo a fixar-se e desenvolver aí a sua actividade. O país é hoje o palco escolhido para a produção de muitos filmes de grande orçamento, nomeadamente de produção americana, e como consequência um fantástico ponto de atracção turística.
O mais interessante nesta história de sucesso reside no enquadramento que rodeia o nascimento da Weta. E apesar do fabuloso potencial natural da Nova Zelândia, não se pode sequer dizer que tenha beneficiado de uma vantajosa localização geográfica. Porque o êxito desta empresa reside exactamente na sua matéria prima, que são as pessoas e o seu elevado “know-how” técnico e profissional. Para um país de pequena dimensão como o nosso, tão acostumado a suspirar pelas desvantagens sociais e económicas, a conjuntura, o governo e todas as fatalidades que nos rodeiam, um país em que as pessoas são vistas como um custo e não um investimento, o exemplo desta firma neo-zelandesa pode servir-nos como prova de que a aposta em formação e elevado profissionalismo individual pode ser um fantástico motor de progresso, produtividade e desenvolvimento.
Há um feiticeiro na trilogia “O Senhor Dos Anéis” e chama-se Peter Jackson. Este estranho neo-zelandês autor de filmes obscuros e sanguinolentos é hoje um dos mais respeitados cineastas do mundo e o motivador de um enorme orgulho nacional, que conduziu cem mil compatriotas seus a sair à rua, em romaria, no dia da antestreia mundial de “O Regresso Do Rei”. Mas não é dos filmes que vos quero falar. Quero contar-vos uma outra história de sucesso...
Em 1993, um grupo de jovens cineastas neo-zelandeses, nos quais se incluía Peter Jackson, formava uma pequena firma chamada Weta Digital. Inicialmente com apenas um único computador, localizado nas traseiras de uma velha casa de Wellington, pôs em marcha a tarefa de realizar os efeitos visuais para um filme que o próprio Jackson estava a realizar, com o título de “Heavenly Creatures”.
Desde este começo humilde há dez anos, a companhia aumentou rapidamente em tamanho e capacidade, e tornou-se a autora de alguns dos efeitos visuais mais conceituados e premiados da indústria cinematográfica. Hoje, a Weta é proprietária de um verdadeiro arsenal de hardware e software e emprega um exército de centenas de técnicos e artistas. Claramente implantada no mercado do cinema, tem vindo a desenvolver um trabalho de referência na área dos efeitos visuais e digitais, e é um exemplo de elevado profissionalismo, criatividade, capacidade artística e saber técnico.
O sucesso desta firma e a sua responsabilidade no sucesso da trilogia “O Senhor Dos Anéis” colocou a Nova Zelândia no mapa da indústria de cinema atraindo muitos profissionais de todo o mundo a fixar-se e desenvolver aí a sua actividade. O país é hoje o palco escolhido para a produção de muitos filmes de grande orçamento, nomeadamente de produção americana, e como consequência um fantástico ponto de atracção turística.
O mais interessante nesta história de sucesso reside no enquadramento que rodeia o nascimento da Weta. E apesar do fabuloso potencial natural da Nova Zelândia, não se pode sequer dizer que tenha beneficiado de uma vantajosa localização geográfica. Porque o êxito desta empresa reside exactamente na sua matéria prima, que são as pessoas e o seu elevado “know-how” técnico e profissional. Para um país de pequena dimensão como o nosso, tão acostumado a suspirar pelas desvantagens sociais e económicas, a conjuntura, o governo e todas as fatalidades que nos rodeiam, um país em que as pessoas são vistas como um custo e não um investimento, o exemplo desta firma neo-zelandesa pode servir-nos como prova de que a aposta em formação e elevado profissionalismo individual pode ser um fantástico motor de progresso, produtividade e desenvolvimento.
|editorial|
Segunda-feira
[via Abrupto] O Abrupto nunca foi pensado como tendo como primeiro interlocutor os outros blogues, mas o mundo exterior, as pessoas que não vivem dentro da blogosfera, mas na atmosfera. Como todos os blogues não é imune ao meio, mas não é escrito em primeiro lugar para a comunidade, mas para quem vem de fora, como acontece com a maioria dos seus leitores.
O que é que motiva alguém a escrever um blog? Eu, por exemplo, não sou jornalista nem A Barriga De Um Arquitecto tem uma linha editorial. Este espaço não é especificamente sobre arquitectura, mas também não é sobre generalidades. Nasceu da vontade de registar ideias que a preguiça me impedia de anotar. O blog motiva-me a escrever, apenas isso. Porquê, porque é a coisa mais próxima de um pequeno caderno que este novo mundo digital inventou. Afinal, porque é tão minimal como um papel e um lápis.
Acho que percebo parte do desânimo do Pacheco Pereira. Uma coisa que me aborrece são aquelas discussões parolas entre blogs, do tipo: “ele disse aquilo de mim, ora toma lá disto”. Também acho que se não se tem nada para dizer mais vale ficar calado. Sempre é melhor do que comentar meia dúzia de notícias do dia anterior... Mal por mal, antes falar do filme que se vai ver logo à noite. A sério...
O problema da blogosfera é que, apesar de aqui navegarem uns milhares de portugueses, é um universo fechado sem grande expressão fora dele. É fácil perdermo-nos aqui dentro porque é difícil falar lá para fora... Durante muito tempo a blogosfera não me interessou mesmo nada. Parecia-me que se resumia tudo àquele mundo das páginas pessoais “olá cá estou eu diz-me o que pensas”. Depois comecei a perceber que existe mesmo uma comunidade blog e que este espaço permite aceder a um novo tipo de informação. Por entre o lixo que cabe a cada um saber evitar, existe em muitos bloguistas uma genuína vontade de partilhar uma visão sobre a vida e o mundo sem qualquer “agenda” ou objectivo oculto: esse tem sido o critério com que tenho escolhido os blogs (especialmente de língua estrangeira) referenciados ao fundo da barra de links.
Mais ou menos temáticos, os blogs são objectos vivos da experiência e do desejo de comunicar o que nos rodeia. Por isso arrisco-me a dizer que os blogs vieram para ficar, mesmo com o desinteresse alheado dos media ou com sobressaltos de moda.
A Barriga De Um Arquitecto começou como tantos outros, por brincadeira. Escrevia para mim aquilo que me interessava. No entanto, começo a ter medo que com o tempo o blog comece a ter vida própria. Eu explico: à medida que o tempo passa dou por mim mais interessado a espreitar as estatísticas do Bravenet. É inevitável. E se isto pode parecer anedótico para alguns (o Abrupto de José Pacheco Pereira recebe mais de 1000 visitantes por dia), para mim um dia acima dos trinta visitantes já é um dia excelente. Devia importar-me com isso? A resposta é evidente: não. Mas porque sou apenas humano, permitam-me registar aqui o facto de este fim-de-semana termos recebido o nosso visitante nº 1000, e estarmos quase a alcançar as 3000 “page views”. Nada mal para menos de dois meses de contagem.
A todos vocês, especialmente àqueles que continuam a visitar A Barriga De Um Arquitecto, o meu muito obrigado.
Daniel Carrapa / A Barriga De Um Arquitecto
[via Abrupto] O Abrupto nunca foi pensado como tendo como primeiro interlocutor os outros blogues, mas o mundo exterior, as pessoas que não vivem dentro da blogosfera, mas na atmosfera. Como todos os blogues não é imune ao meio, mas não é escrito em primeiro lugar para a comunidade, mas para quem vem de fora, como acontece com a maioria dos seus leitores.
O que é que motiva alguém a escrever um blog? Eu, por exemplo, não sou jornalista nem A Barriga De Um Arquitecto tem uma linha editorial. Este espaço não é especificamente sobre arquitectura, mas também não é sobre generalidades. Nasceu da vontade de registar ideias que a preguiça me impedia de anotar. O blog motiva-me a escrever, apenas isso. Porquê, porque é a coisa mais próxima de um pequeno caderno que este novo mundo digital inventou. Afinal, porque é tão minimal como um papel e um lápis.
Acho que percebo parte do desânimo do Pacheco Pereira. Uma coisa que me aborrece são aquelas discussões parolas entre blogs, do tipo: “ele disse aquilo de mim, ora toma lá disto”. Também acho que se não se tem nada para dizer mais vale ficar calado. Sempre é melhor do que comentar meia dúzia de notícias do dia anterior... Mal por mal, antes falar do filme que se vai ver logo à noite. A sério...
O problema da blogosfera é que, apesar de aqui navegarem uns milhares de portugueses, é um universo fechado sem grande expressão fora dele. É fácil perdermo-nos aqui dentro porque é difícil falar lá para fora... Durante muito tempo a blogosfera não me interessou mesmo nada. Parecia-me que se resumia tudo àquele mundo das páginas pessoais “olá cá estou eu diz-me o que pensas”. Depois comecei a perceber que existe mesmo uma comunidade blog e que este espaço permite aceder a um novo tipo de informação. Por entre o lixo que cabe a cada um saber evitar, existe em muitos bloguistas uma genuína vontade de partilhar uma visão sobre a vida e o mundo sem qualquer “agenda” ou objectivo oculto: esse tem sido o critério com que tenho escolhido os blogs (especialmente de língua estrangeira) referenciados ao fundo da barra de links.
Mais ou menos temáticos, os blogs são objectos vivos da experiência e do desejo de comunicar o que nos rodeia. Por isso arrisco-me a dizer que os blogs vieram para ficar, mesmo com o desinteresse alheado dos media ou com sobressaltos de moda.
A Barriga De Um Arquitecto começou como tantos outros, por brincadeira. Escrevia para mim aquilo que me interessava. No entanto, começo a ter medo que com o tempo o blog comece a ter vida própria. Eu explico: à medida que o tempo passa dou por mim mais interessado a espreitar as estatísticas do Bravenet. É inevitável. E se isto pode parecer anedótico para alguns (o Abrupto de José Pacheco Pereira recebe mais de 1000 visitantes por dia), para mim um dia acima dos trinta visitantes já é um dia excelente. Devia importar-me com isso? A resposta é evidente: não. Mas porque sou apenas humano, permitam-me registar aqui o facto de este fim-de-semana termos recebido o nosso visitante nº 1000, e estarmos quase a alcançar as 3000 “page views”. Nada mal para menos de dois meses de contagem.
A todos vocês, especialmente àqueles que continuam a visitar A Barriga De Um Arquitecto, o meu muito obrigado.
Daniel Carrapa / A Barriga De Um Arquitecto
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