Terça-feira
Dizia o Woody Allen que existem dois tipos de pessoas: as que sentem a realidade sobre um ponto de vista dramático e fatalista e que por isso têm um olhar sério sobre a vida; e as outras, que vêem a vida de forma tão pessimista que já só lhes resta rir.
Portugal é um país de gestores de fila de espera, aqueles que quando atendem o telefone dizem sempre que estavam a pensar em nós. O bom gestor de filas de espera, quando tem dez clientes, diz-lhes que é para amanhã e escolhe um. No dia seguinte, diz aos outros nove que afinal é para o dia seguinte. E a um cliente novo que surgir: pode ser já para a semana.
Já é suficientemente mau que estas figuras existam em tantos lugares da nossa vida. Mas o que é superlativamente grave é quando começamos a ter a sensação de que os próprios políticos se estão a tornar, eles mesmos, em gestores de fila de espera.
Este peixe que nos querem vender, de que desta vez é que é, agora é que é a sério, agora é que podemos mesmo acreditar. E eu, confesso, até queria andar iludido, ser crente, mobilizar-me para essa mudança e dar o meu voto confiante a um grupo político que meteu a mão na consciência e resolveu dar tudo e o melhor para o país.
Mas será possível acreditar em tal coisa? Será possível acreditar nestes políticos, à esquerda e à direita, que parecem ter a espessura de um outdoor? Estes políticos a quem não é sequer permitido um momento de espontaneidade, um rasgo de humanidade que seja?
Uns, quando falam sem guião reproduzem o estribilho de lugares-comuns que aprenderam na escola partidária. Outros reduzem-se à demagogia ou então ao disparate. Será possível esperar um desígnio nacional, um conjunto de objectivos sólidos e credíveis para o país. Eu já não falo em ideologias, trituradas que foram na máquina de embutir políticos e jotinhas. E o que fica: os cínicos e os loucos, cheios de razão? Eu não quero ter razão e acabar aos gritos Avenida da Liberdade abaixo com grandes barbas e sem tomar banho. Por isso vou votar nas próximas eleições, não com a razão, mas com o coração. Prefiro andar iludido. E, provavelmente, ser de novo enganado. Vamos a isso, já estou a ouvir a música de fundo das campanhas eleitorais. Venha o carnaval! Pode ser que desta vez ganhe uma torradeira.
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