Segunda-feira
Sempre imaginei que as associações de telespectadores eram grupos formados por aquelas criaturas exaltadas de anorak verde e óculos espessos à imagem do famoso personagem do Gato Fedorento. A mera ideia de pertencer a uma dessas associações me parece um certificado de insuficiente vida sexual, da alegria em ser geek. Será que se põe uma coisa dessas no currículo pessoal: membro da associação de telespectadores da beira interior desde 1992?!
Imagino o deleite com que estas criaturas emitem um press-release a catalogar a Quinta Das Celebridades como o pior programa do ano. Devem ter passado boa parte dele a analisar as celebridades ocas e as suas conversas fúteis, sem alguma coisa interessante para dizer e incapazes de manter uns com os outros uma conversa com algum nível cultural. Se não se fartaram de ver o programa, pelo menos entendidos na coisa são. Deve ter sido só por interesse científico. O mistério do que vai na cabeça dos indivíduos fica explicado no punchline: entre os melhores programas figura o Jornal Nacional da TVI. Estou a começar a compreender o sentido crítico e as referências desta gente.
As associações de telespectadores são um produto da televisão. A opinião de meia dúzia de gatos pingados e donas de casa que passam o tempo a ver televisão é perfeitamente irrelevante e inconsequente, sendo trazida à luz dos media pela única razão que estes adoram expôr a sua reflexão no espelho do país real. O país real, entenda-se, distorcido pela televisão.
A televisão é realmente um veículo de enorme distorção social. Penso que o problema maior que resulta da cultura televisiva não tem que ver com excesso de sexo ou violência, ou pelo facto de ser o albergue de todo o tipo de miséria intelectual, música pimba, humor boçal e histerismo. O pior, verdadeiramente, é o modo como a cultura massiva da televisão promove subrepticiamente códigos de personalidade, atitudes e modos de ser que o povo consumidor de TV absorve e reproduz na sua vida futura. Assim, na forma de falar e de vestir, nos comportamentos com a família ou a namorada, no ciúme, no egoísmo e na busca dos nossos objectivos pessoais, reproduzimos códigos que interiorizámos das novelas, da moda, da música, enfim, da televisão.
Formatados à caixinha mágica, é o próprio modo de pensar deste tele-povo que parece embutido ao 4 por 3. Alimentadas ao soro da programação, a estas inteligências só lhes resta ver a vida pelo filtro do tédio que a tudo lhes parece, a não ser que configurado ao ritmo da narrativa telenoveleira, ao ruído dos filmes do Bruckheimer e ao attention-span de um spot publicitário.
A vida segue, dentro de momentos.
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One nation
ResponderEliminarunder God
has turned into
one nation under the influence
of one drug
[chorus:]
Television, the drug of the Nation
Breeding ignorance and feeding radiation(...)
Artist: Disposable Heroes Of Hiphoprisy
Album: Hypocrisy Is The Greatest Luxury
Title: Television, The Drug Of The Nation
Pedro Baganha