Segunda-feira
Por entre os vários processos de aculturação a que são sujeitos os exemplares masculinos da nossa espécie, somos a certa altura submetidos à ideia de que todos os homens têm de ser grandes experts em bricolage. Confrontado então com a necessidade de fazer alguns trabalhos caseiros eis-me nos limites da minha masculinidade.
Usando aquela técnica habitual, de actuar como se soubesse perfeitamente o que estou a fazer e já o tivesse feito mil vezes, lá estava eu a manejar as ferramentas ao estilo fashion na melhor imitação que sei fazer daquele tipo americano que parece o namorado da Barbie e aparece no People & Arts a fazer obras em casa de outras pessoas...
Infelizmente a vida não é como esses programas de televisão. Ou a fechadura não encaixa, ou o parafuso não entra, ou o cão roeu o berbequim. Seja lá o que for, a bricolage e eu, eu e a bricolage, há qualquer coisa que não bate certo.
Lembro-me do dia em que tentei montar uma campainha e quando liguei à corrente eléctrica a coisa deu um estalo na minha mão libertando faíscas como um fogo de artifício. Não aconteceu nada de grave para além de uma certa sensação de tremideira. Isso e as pontas dos dedos farruscadas de preto.
A minha mulher, que tomava chá com uma amiga na cozinha, gritou lá de dentro se estava tudo bem. Com a minha fleuma britânica respondi algo como "sim amor, foi só o quadro que disparou", desci o escadote em câmara lenta e fui à casa de banho lavar das mãos todas as provas da minha incompetência.
Talvez tenha chegado a hora de inverter este paradigma. Que tal habituar as meninas a tornarem-se autênticas Laras Crofts do martelo e da chave inglesa enquanto nós ficamos na cozinha a beber um belo Jackson’s Picadilly Green Tea With Lemon e conversamos com os amigos sobre os jogos da semana. Decididamente, a tradição já não é mesmo o que era.
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Entendo perfeitamente o que dizes. Lá em casa o "bricoman" é a minha mulher (ainda para mais é artista plástica).
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