A liberdade de duvidar



Olhando para trás para os piores períodos, parece-nos sempre que foram tempos em que havia pessoas que acreditavam em algo com fé e dogmatismo absolutos. E levavam tão a sério essas crenças que insistiam em que toda a gente concordasse com elas. E em seguida faziam coisas que estavam em contradição directa com essas próprias crenças apenas para manterem que o que haviam afirmado era verdadeiro. (...)

Esta liberdade de duvidar é uma questão importante em ciência e, creio, também noutros campos. Nasceu de uma luta. Foi uma luta ser permitido duvidar, não ter certezas. Não queria que esquecêssemos a importância dessa luta e, como consequência, que a abandonássemos. Sinto uma grande responsabilidade enquanto cientista que sabe do grande valor de uma filosofia da ignorância e do progresso que essa filosofia tornou possível, progresso esse que é fruto da liberdade de pensamento. Sinto a responsabilidade de proclamar o valor dessa liberdade e de ensinar que não devemos temer a dúvida, mas antes devemos acolhê-la como a possibilidade de um novo potencial para os seres humanos. Se sabemos que não temos a certeza, temos a possibilidade de melhorar as coisas. Quero exigir esta liberdade para as gerações futuras.

Richard P. Feynman*, 1963.
*Prémio Nobel da Física em 1965

2 comentários:

  1. Belíssimo. Sempre admirei Dick Feynmann, sobretudo como pessoa. É frequentemente difícil ver o obvious, baralhados que estamos com coisas mesquinhas. Ele conseguia-o.

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  2. Talvez seja um pessimista, mas parece-me que o progresso e cada vez mais o fruto da liberdade de pensamento de alguns..!

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