Balthazar Aroso



Mais uma firma de arquitectura sediada no Porto com um sítio web bastante sólido e eficaz. Balthazar Aroso apresenta um conjunto de trabalhos de imagem muito forte, expondo os processos de concepção e análise formal com resultados surpreendentes. Destaque para a habitação unifamiliar em Gaia, de formas soltas e uma modelação volumétrica que nasce da grande articulação com o terreno; a fazer lembrar algumas peças da AWG. A visitar e aguardar por novidades desta interessante equipa que certamente irá dar que falar.

Dave Werner

A ver, ler e ouvir o super-criativo portfolio de Dave Werner. Gostavam, não gostavam?

Hyper Domus

A partir da sua edição deste mês a Domus passa a disponibilizar um ficheiro que permite localizar no Google Earth os edifícios em destaque na revista. A novidade chama-se Hyper Domus.

Crítica literária à trigésima edição de O Código Da Vinci

A pedido de um estimado leitor aqui vai a minha “review” ao Código Da Vinci. “Be careful what you ask for. You just might get it.” Era mesmo a desculpa de que precisava. Não se diga que aqui não se faz crítica literária... Uma nota para dizer que este texto já foi publicado, noutro local e sobre outra identidade. Pudores do tempo em que ainda levava a minha reputação a sério.



Incitado por familiares e amigos, eis que dei por mim mergulhado nas portentosas páginas da trigésima edição de O Código Da Vinci, o famoso livro escrito pelo engomado Dan Brown.
O Código Da Vinci é a história fascinante de Robert Langdon, um professor americano de simbologia religiosa na Universidade de Harvard com a cara do Tom Hanks, e da sua química sexual reprimida com a sensual criptologista criminal francesa Sophie Neveu. Nas suas desventuras, Langdon e Neveu descobrem misteriosas pistas deixadas por um cadáver encontrado completamente morto no museu Louvre em Paris. Essas pistas conduzem-nos a alucinante fuga da polícia no Smart vermelho da sexy francesa pelas ruas da cidade-luz, levando-os a imergir nos profundos segredos de uma ordem também ela secreta intitulada Priorado de Sião, da qual Da Vinci terá sido membro sem dizer a ninguém e deixando as cotas em atraso. Esse facto irrita solenemente uns indivíduos maus da Opus Dei que tentam assassinar o par maravilha a todo custo, mas os leitores portugueses terão a desilusão em saber que o padre Vítor Melicias não protagoniza sequer como papel secundário em todo este emocionante thriller.
O livro é muito bom, um verdadeiro page turner. Está para a literatura como um Big-Mac está para a nouvelle cuisine, mas ao fim de 36 milhões de cópias vendidas não me parece que Brown sofra de problemas existenciais ao nível criativo. O Código Da Vinci é, basicamente, um bom filme. Claro que nunca chegamos a saber verdadeiramente quem é Robert Langdon para além de que conduz mal com mudanças e tem medo de andar de elevador. Mas isso também é devidamente compensado pelas tiradas sensuais de Sophie. Infelizmente, desenganem-se, porque as suas pernas não estão representadas na versão ilustrada do best-seller. Merde. Conclusão a respeito deste livro, recomendo que vejam antes o filme lá para Maio de 2006.

Sinais de desregulamentação

Ainda não se vislumbram muitos detalhes sobre o novo projecto de “licenciamento na hora” que o governo pretende introduzir no âmbito do programa alargado de desburocratização da administração pública. Não se conhece a definição para “projectos menos complexos” nem os termos em que lhes será “dispensada a autorização dos municípios”. A solução a testar no concelho de Odivelas será certamente meritória mas qual poderá ser afinal o seu alcance?
É difícil sustentar que a solução dos problemas que enfermam a acção licenciadora do Estado se resolvam com algumas medidas pontuais. A falta de capacidade técnica e a incompreensão do que é o serviço público conduziu os cidadãos à descrença e ao cinismo. Não se trata apenas da acção do Estado com os cidadãos, muitas vezes é o próprio Estado contra o Estado, confrontando-se entidades e autoridades em lutas sem justificação de que resulta nada mais que improdutividade e júbilo para os activistas da inacção.
É por isto que vão ganhando legitimidade na opinião pública as vozes do nosso sector empresarial que reclamam uma redução nos custos e prazos na execução de processos. O impacto do mau funcionamento da administração na economia portuguesa é um dos sintomas mais conhecidos da nossa desvantagem competitiva. E no entanto as entidades continuam a comportar-se nos termos dos velhos paradigmas de sempre, alheias às consequências mas propalando-se como grandes paladinos na defesa do interesse público, por fim formatado a ideologia abstracta uma vez que o produto da sua acção de décadas é visivelmente nulo. Fazem-no, de resto, em desrespeito da lei, dos prazos e termos com que deviam pautar o seu relacionamento com os cidadãos.
É este tecido fértil à falência que é tão propício à desregulamentação, de que esta nova medida é apenas mais um sinal. É mais fácil seguir a via da implementação de pequenas medidas de cariz meramente jurídico, do que enfrentar a inércia institucional que torna difíceis as grandes mudanças. As instituições são feitas de pessoas, e tradicionalmente, as pessoas são reluctantes à mudança por receio dos seus efeitos. Em Portugal, venceu-se o medo de mudar por um discurso de ininterruptas reformas, cuja estaticidade revela bem a irracional preferência que temos pela situação existente. No Estado, a confiança no precedente é um lugar seguro; escondidos nos formalismos dos procedimentos, os funcionários tornam-se donos das suas regras. Neste tecido cultural, a cultura da crítica trabalha depressa para quebrar o espírito da inovação e do risco. É uma cultura restritiva, individualista e socialmente fraca. E no entanto, incapaz de produzir seja o que for, questiona porque não consegue os máximos resultados do mínimo investimento intelectual que coloca nos seus planos.
No que ao urbanismo diz respeito, os nossos doutrinadores poderão continuar agarrados à ideia melancólica de um ordenamento do território supervisionado pelo Estado, como sua incumbência e responsabilidade constitucionalmente atribuída. E no entanto, ele continuará a perder a sua capacidade de actuação indo a reboque da iniciativa privada, fruto da incapacidade em tornar-se criador de doutrina técnica e promotor de boas práticas. Primeiro com pequenas medidas, depois com a desregulamentação progressiva das suas funções. O interesse público, esse continuará reduzido a uma mera decoração para ilustrar preâmbulos de decretos-lei. Como já vem sendo há muito.

Slum Ecology



Outros lugares da insustentabilidade no limiar do novo século. Em África, na Ásia e América Latina, cidades crescem espontaneamente e tornam-se organismos perigosos onde a sobrevivência é difícil. À escala global, são laboratórios ecológicos onde se desenvolvem as patologias mais mortais. Slum Ecology é um artigo extenso sobre estas realidades-limite, a ler na Orion Online.

BLOGUITOS: os melhores da blogosfera alternativa

Bom, parece que sempre vou publicar isto afinal. Esteve mesmo quase quase para não acontecer, perdido entre a desmotivação invernal e uma gripe terrível. De qualquer modo, aqui fica, mesmo se completamente fora de tempo. Era para ter sido publicado na semana dos Bloggies, e onde é que isso já vai... Acendam-se as luzes, toque o rufo, aqui ficam os meus...



Os BLOGUITOS são a minha selecção dos melhores da blogosfera alternativa. Agora que acabam de ser conhecidos os famosos Bloggies (er...), aproveito para apresentar a minha própria escolha, pessoal, subjectiva e intransmissível. Porque sim.
Se eu tivesse a estaleca do Fairvue Central também fazia uma superpágina com votações e prémios e sei lá o quê, mas como não estão reunidas as condições para isso, assumo o papel majestático de ditar, assim mesmo, quem foram os blogues de destaque do ano que passou. Aqui não cabem Abruptos ou coisas que tais. Quem recebe mais de mil visitas por dia está automaticamente eliminado. Por isso, senhoras e senhores, vistam-se de gala, apertem ligas e laçarotes e aproveitem para passear fora do mainstream e percorrer lugares altamente recomendáveis.

CATEGORIAS:

ARQUITECTURA E URBANISMO

POSTHABITAT
http://posthabitat.blogspot.com/

PAISAGISMO

DIAS COM ÁRVORES
http://dias-com-arvores.blogspot.com/

AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE

QUINTA DO SARGAÇAL
http://www.sargacal.com/

INTERVENÇÃO URBANA

VIVER NA ALTA DE LISBOA
http://viveraltadelisboa.blogspot.com/

CITY BLOG

O CÉU SOBRE LISBOA (LISBOA)
http://o-ceu-sobre-lisboa.blogspot.com/

DESIGN

COMUNICARTE DESIGN
http://comunicartedesign.blogspot.com/

FOTOGRAFIA

FOTOBEN
http://fotoben.blogspot.com/

EXPRESSÃO ARTÍSTICA

SABOR A SAL
http://margarida23.blogspot.com/

SKETCH BLOG

ESPIRRO NO MATO
http://espirro-no-mato.weblog.com.pt/

REVELAÇÃO DE 2005

O VERDETE
http://overdete.blogspot.com/

BLOGUE COM MELHOR DESIGN

LA DOUBLE VIE DE VERONIQUE
http://ladoubleviedeveronique.blogspot.com/

BLOGUE DO ANO

QUINTA DO SARGAÇAL
http://www.sargacal.com/
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1. O logotipo fui eu que desenhei... Fui eu que... eu...
2. O júri é um tipo com o meu nome, e é soberano, mas se tiverem paciência reclamem nos comentários. Ou, melhor, dêem a conhecer blogues ainda mais interessantes que eu desconheça. Ou digam qual é o vosso. Ou não. Ou...
3. E já agora, isto também não é para levar muito a sério. Há para aí tanta coisa boa, e mais tanta ainda por descobrir. E ninguém tem de agradecer a linkar-me de volta. Não pensem que ficaram famosos. E... e...

Últimas novidades



O Últimas Reportagens também apresenta algumas novidades, entre as quais uma afinação do interface que inclui um directório de todas as reportagens fotográficas para um acesso mais fácil.
Na secção de Dossiers Especiais está agora disponível um ensaio sobre a Casa Barreira Antunes ou Casa Elementar, um dos trabalhos mais icónicos dos Aires Mateus. Foi também uma fotografia desta casa que me fez descobrir Fernando Guerra, sendo por isso curioso rever este seu trabalho agora ainda com mais profundidade.

Já que estamos tão perto, vale também a pena percorrer o dossier da École Paradis sobre um projecto educativo promovido pela professora Katell Jolivet da École Élémentaire Paradis, de Meulan, que envolveu os seus alunos num trabalho de descoberta da arquitectura por via da investigação fotográfica. A história está toda lá e as imagens são prova desta viagem inspiradora à criatividade e à descoberta pelos mais novos por uma realidade de que os julgaríamos tão distantes. Verdadeiramente exemplar, a mostrar que a única coisa que não funciona é a falta de imaginação.

Arrumar a casa

Pior do que receber emails sobre o novo blogue que vão deixar de escrever daqui a duas semanas é encontrar transcrições de textos inteiros na caixa de comentários. Regresso assim de uns dias de saúde mais instável, já com a sensação de mal poder deixar isto sem que coisas estranhas comecem a acontecer.
Passemos a coisas importantes. Uma novidade na lista de arquitectura com o sítio web de Virginio Moutinho, que expõe uma selecção de projectos muito interessante e ainda apresenta trabalhos na área do design e arte urbana.
Outro destaque para Miguel Coelho e o seu portfolio de fotografia de arquitectura. Um olhar temático com particular incidência sobre a produção da escola do Porto.
Por outras paragens, o BLDGBLOG continua a manter elevada a fasquia de coisas boas. Para além da recente entrada sobre a Biennalle di Venezia, é obrigatório seguir a ligação para a página de David Maisel e os seus notáveis projectos fotográficos, entre os quais o famoso Black Maps. Recomenda-se a passagem pelos textos e ainda a leitura da sua recente entrevista na Archinect, de todo a não perder.

Retratos de família

Um conjunto de dicas interessantes para quem quer tirar melhores fotos da família, em Family Pictures That Don't Suck. No Exposure.

Uma enciclopédia para o terceiro mundo

Muito curioso este projecto da CD3WD que reuniu uma espécie de enciclopédia temática, uma base de dados com documentos sobre as mais diversas áreas como saúde, agricultura, construção, produção alimentar, tratamento de solos, tratamento de águas e outros, orientados para o apoio ao desenvolvimento em países do terceiro mundo.

Chan Chan 2006



Uma equipa portuguesa composta por três recém-licenciados em arquitectura, João Caria Lopes, Carlos Sequeira e Tiago Santos, foi premiada no Concurso Internacional Chan Chan 2006 organizado pela Agência Internacional Arquitectum, alcançando o 3º lugar na competição.
Um dos objectivos da Arquitectum é promover o estímulo à criação arquitectónica sem restrições técnicas ou artísticas, ensaiando intervenções sobre locais únicos, notáveis e enigmáticos pela sua natureza. Neste caso, o sítio escolhido foi a cidadela histórica de Chan Chan, no Peru, conhecida como a maior cidade pré-colombiana da América e notabilizada pelas suas estruturas em adobe. Foi eleita como Património da Humanidade pela UNESCO em 1986.
O concurso agora lançado pretendia introduzir um novo elemento sobre este contexto, um alojamento de praia (beach lodge), acomodação que fugisse dos normais parâmetros da função turística, do resort. A arquitectura deveria tornar-se parte integrante do cenário oceânico e relacionar-se com o território inscrito da cidadela.
As várias propostas em concurso são acessíveis no site da Arquitectum, entre as quais figura a da equipa portuguesa. Fica o destaque para esta notável presença, entre 341 equipas concorrentes.
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Imagem: painel da proposta portuguesa (clique para ampliar).
Referências:
Chan Chan - Wikipedia;
Chan Chan Archaeological Zone – UNESCO World Heritage Centre.

Google Mars

Entretanto, quem se queira evadir dos seus problemas terrenos, tem agora à disposição o novo Google Mars. É bom, muito bom mesmo, como tudo o que a Google faz. Não se esqueçam de percorrer os directórios de topo para encontrar locais interessantes, pontos de aterragem de sondas e pequenos homenzinhos verdes. Bom, talvez isso não, mas existem várias histórias curiosas sobre o planeta vermelho disponíveis em base de dados.
A Google avisa ainda que está em preparação uma versão utilizável na plataforma Google Earth, permitindo sobrevoar a geografia tridimensional de Marte. Para já, um pequeno video dá a ideia do que poderá vir a ser a experiência.

Google compra Sketchup

A Google, esse polvo capitalista, acaba de noticiar a compra da @Last Software, criadora do Sketchup. Quem diria que o pequeno software de desenho tridimensional se tornaria um dia tão colunável. Agora só falta o lançamento de uma versão gratuita à la Google Earth.

(via)

Bloggies 2006



Eles estão aí, os lindos e os famosos, os melhores dos melhores da blogosfera internacional. Em directo da Fairvue Central, eis os Bloggies 2006.

A saber, o prémio para o melhor blogue do ano vai para o provocador PostSecret. O europeu mais votado foi o My Boyfriend Is A Twat, deixando à Vitriolica Webb’s Ite a alegria da nomeação ainda assim muito estimável. Entre os meus favoritos, o destaque vai para o espectacular prémio de melhor design entregue Joshuaink.com. De resto, uma categoria sempre muito interessante de percorrer. Os outros nomeados eram: Kottke.org, Delicious Days, a repetente Karen Cheng e ainda Subtraction.
Da lista de coisas boas constam ainda: Cooking Diva (latino-americano), Photojunkie (canadiano), FlickrBlog (fotoblogue), Go Fug Yourself (entretenimento), ProBlogger (web development), It’s Raining Noodles (teen weblog), Needcoffee.com (best-kept-secret) e muito, muito mais.
Por isso, toca a correr até lá para ver o que de melhor se faz por esse mundo fora. Linky linky...

Tacteando o caminho

Volto muitas vezes a este texto, Daniel. Sara "Sushi Lover"

Ter um blogue tem estas coisas boas, os pequenos gestos que fazem entrar a luz pelos nossos dias adentro. Obrigado Sara. Republico este texto para ti.

Tacteando o caminho



Em geometria descritiva usa-se a palavra charneira para descrever o eixo de rotação de um plano. A charneira é a linha de viragem de uma projecção, ou em sentido figurado, o momento em que a realidade se transforma.

Quando, em 1992, eu e o meu irmão planeámos viajar para o Nepal, vimo-nos empurrados pelo incrível apoio dos pais cuja motivação roçava a inconsciência. Nesses dias conversei com a minha prima Margarida que já lá tinha estado e nos havia inicialmente proposto a ideia da aventura. Ela contou-me como tudo aquilo era fantástico e diferente, o que tinha visto e o que devíamos fazer. No final da conversa teceu umas palavras sobre como, quando regressou, tudo lhe parecia estranho. O regresso tinha sido deprimente, tudo lhe parecia distante como se nada retivesse a mesma importância.
Não pude compreender aquilo e rapidamente o esqueci na densidade da viagem. A chegada a Nova Delhi de noite sem reservas, o ambiente sufocante, uma viagem de comboio rumo a norte até ao fim da linha, um autocarro pela monção e a passagem na fronteira fora de horas. O Nepal foi como devia ter estado à espera, estranho e fascinante como só podia ser aos olhos límpidos e inexperientes de dois jovens ocidentais.
A aventura que um dia espero contar aqui com o tempo devido e as fotografias entretanto guardadas numa pasta poeirenta, foram um tempo de charneira nas nossas vidas. Não o podíamos ver mas pudemos comparar nos nossos retratos, o antes e o depois. A experiência ficou guardada nos traços da cara como minúsculas marcas que escorreram junto do olhar e nas barbas por fazer que entretanto nos iam crescendo. E quando regressámos recordei as palavras da Margarida, pois também a mim tudo pareceu distante nesse regresso a Portugal. Não era o país que me desagradava, mas esta existência sem parâmetro de comparação que nos submerge num monte de futilidades diárias.
Esse tipo de sensação vamos perdendo com o passar dos dias, à medida que a lucidez se vai esbatendo na rotina do tempo. O que fica no fim é como um sonho quase esquecido, mas que nos diz no fundo da mente que algo não está certo como um pequeno alerta no prisma distorcido das percepções quotidianas.
A realidade é que o mundo é um lugar ambíguo onde é difícil cultivar grandes certezas. Ao pôr o pé fora da Europa pela primeira vez compreendemos que não era o mundo que estava lá fora mas antes nós que sempre viveramos num estranho aquário, ignorantes da nossa própria condição.
No Nepal, com a lucidez da distância de milhares de quilómetros, descobri pela primeira vez o que significa ser Português. De volta a Portugal, foi difícil não acabar por esquecê-lo. Nestes dias em que vamos tacteando o caminho sem conseguir ver o que espreita para lá do horizonte tenho tentado recordar aqueles longos dias de viagem num país longínquo, onde a lembrança do som das gaivotas junto ao mar ao pôr do sol me fazia perceber aquilo de que eu era feito. E olho à minha volta para um país de gente esquecida, ignorantemente insatisfeita com a sua falta de generosidade e maturidade.
Entretanto, dia a dia, vamos perdendo o tempo que passa, à espera de uma charneira nas nossas vidas.

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Este texto foi publicado em 10 de Fevereiro de 2005.

Contos de Lua Cheia



Mais uma noite de lua cheia. Mais uma noite para ouvir contos. Desta vez o contador é o José Craveiro (Portugal), no dia 14 de Março, às 18 horas, na livraria Som das Letras.

Este é um projecto da Trimagisto para a divulgação do acto de contar estórias. Actividade ancestral e bastante enraizada na nossa cultura, as estórias encontraram um novo fôlego e uma nova pertinência nos nossos dias, seja na aproximação dos indivíduos num acto lúdico (e não só), hoje em dia tão afastados pelas relações mediatizadas, seja no incentivo à leitura das camadas mais novas, renovando a relação com os livros e com a ficção.
Esperamos pela Vossa presença.

Um abraço,
Som das Letras e Trimagisto.

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LIVRARIA SOM DAS LETRAS - RUA JOÃO DE DEUS, nº21, 1º ESQ. 7000 - 534 ÉVORA

Este momento

Neste preciso momento, enquanto escrevo estas palavras, a pequena Amélie está deitada enroscada no meu colo, adormecida. Tem estado a recuperar e se tudo correr bem encontrará um doce porto de abrigo no fim desta jornada. A todos os que foram deixando mensagens de apoio envio o meu agradecimento, e prometo dar notícias do seu destino que parece estar a caminho de uma resolução bastante feliz.

It's magic, Lesra



Rubin "Hurricane" Carter: You see 'em much, your folks?
Lesra: Yeah, but sometimes it's hard though. Yeah, well-Yeah, it's hard.
Rubin "Hurricane" Carter: You give them hope.
Lesra: Yeah, I guess.
Rubin "Hurricane" Carter: You do. You give 'em hope because you have transcended, Lesra. It is very important to transcend the places that hold us. You know that? You've learned to read. You've learned to write. Writing is- It's magic. You feel that sometimes?
Lesra: Yeah, I guess I do. Mm-hmm.
Rubin "Hurricane" Carter: When I started writing, I discovered that I was doing more than just telling a story. See, writing is a weapon, and it's more powerful than a fist can ever be. Every time I sat down to write, I could rise above the walls of this prison. I could look out over the walls all across the state of New Jersey, and I could see Nelson Mandela in his cell writing his book. I could see Huey. I could see Dostoyevsky. I could see Victor Hugo, Emile Zola. And they would say to me, "Rube, what you doin' in there?" And I say, "Hey, I know all you guys." It's magic, Lesra.
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A ver LesraMartin.com.

Gente vulgar



Gente Vulgar foi a estreia de Robert Redford na realização e a obra que conquistou o Óscar para melhor filme em 1980, contra Raging Bull de Martin Scorsese. Continua a ser para os críticos da cerimónia de Hollywood um dos casos mais paradigmáticos da falta de rigor da Academia.
Goste-se ou não, os Óscares permanecem como o maior evento de promoção da indústria cinematográfica. Por isso mesmo, continua a motivar amores e ódios de estimação (ver Cinema 2000). É certo que nunca compreenderemos como Rocky ganhou o prémio principal a Taxi Driver, ou Forrest Gump a Pulp Fiction. Os exemplos sucedem-se. Não é hoje difícil descortinar quais os títulos que marcaram o futuro do cinema e se tornaram referências icónicas da sua linguagem.
E no entanto, a surpresa contida na cerimónia desse ano de 1980 persiste como um dos momentos mais erradamente consensuais de que há memória. Gente Vulgar é um filme de percurso discreto, tendo-se tornado objecto de culto para um restrito número de cinéfilos. Trata-se de uma das mais belas e desvalorizadas pérolas da sétima arte, esta história de um jovem adolescente em luta com os seus demónios interiores e do terrível complexo de culpa pela morte de um irmão exemplar. É, acima de tudo, um dos mais puros retratos da desagregação de uma família, da desconexão na fronteira dos sentimentos humanos e dos frágeis fios que nos unem nos lugares mais inesperados da vida. Uma história subtil, densa e arrebatadora sobre pessoas comuns e as crises que nos fazem ocultar os mais duros demónios ou enfrentá-los e transcender no caminho da consciência e da redenção.
Talvez alguns prefiram a beleza monumental do preto e branco de Scorsese e a memorável estatuária humana do Touro Enraivecido, mas confesso que é no tecido de aparências simples e complexa densidade subterrânea que encontro paralelos com a realidade da vida e as razões que, hoje e sempre, me continuam a conduzir à sala de cinema. É que essa forma de amor que é a cinefilia não é tão só a adoração das grandes paisagens desertas de Lean ou a sinfonia voadora de Coppola, antes a paixão pela magia que se encerra nos pequenos lugares, e as verdades que neles nos tocam e transcendem. Gente Vulgar é para mim um desses lugares, onde gosto de regressar vezes e vezes sem conta.

Biblioteca e centro cívico em Castellanza



Um projecto da DAP Studio apresentado na Arch’it. Uma fábrica transformada em centro público e contentor de saber, exemplo dos novos caminhos do minimalismo numa arquitectura cada vez mais contaminada pela acção do design, pela procura de nitidez de fronteiras entre a intervenção e a pré-existência e onde os seus elementos se assumem cada vez mais individualizados, soltos, únicos.

Cad Monkeys



A ler o ensaio Abstraction of Living de Jimenez Lai, no Archinect.