[if not now then when]

Sexta-feira



A história de um reencontro de hora e meia contado no tempo real de um fascinante percurso de fim de tarde pelas ruas de Paris. Para Celine e Jesse é uma vida inteira que se joga Antes Do Anoitecer (Before Sunset), o filme de Richard Linklater com argumento do realizador e dos próprios actores Julie Delpy e Ethan Hawke.

É como reencontrar velhos amigos. Revê-los é uma descoberta: estão diferentes, mais velhos e de olhos mais vincados. As marcas da experiência e da desilusão fazem-se sentir, mas também estão mais maduros e interessantes. Por vezes não são como estaríamos à espera mas no fundo continuam os mesmos dois, personagens em busca de um destino qualquer.
Talvez a melhor maneira de descrever Sunset em relação a Sunrise é que o primeiro filme era uma história de partida e este de chegada. Existe um drama subterrâneo que se vai revelando mas não são precisos gestos melodramáticos ou romance cor-de-rosa. Não existe beijo com a torre Eiffel ao fundo mas tão só o percurso mergulhado numa cidade e uma longa conversa que os conduz a um dos finais mais fantásticos da história do cinema. Um filme onde o peso do que fica por dizer é tão valioso como tudo aquilo que se diz.

Não consigo falar deste filme sem deixar de fazer sentido. Falar sobre uma coisa que se ama é como abrir uma caixa de segredos que os outros não deviam ver porque não compreenderiam, porque ficariam a olhar para nós perplexos sem perceber o que existe ali de tão valioso que quase nos faz ir às lágrimas. É que não me revendo nestes personagens (eles mesmos) revejo-me exactamente naquilo que eles são, sei exactamente aquilo que eles são e as coisas de que eles estão a falar. Eu compreendo este filme para lá das palavras, na leitura dos gestos e dos silêncios, dos pequenos desconfortos e dos sublimes momentos. Sim, a vida é isto mesmo e não estamos longe de poder ser assim. Poucos na vida se sentirão inundados por esta magia inexplicável que muitos nunca hão-de conhecer. “As memórias são uma coisa boa se não tivermos de lidar com o passado” diz Celine para Jesse. Mas todos nós sabemos um dia que o passado é algo de que não se pode fugir e que o percurso da vida é demasiado frágil para não fazermos as pazes com aquilo em que nos tornámos. Eis Jesse e Celine, como ramos no rio descendo a corrente das palavras de um qualquer poeta-pedinte de Viena, que um dia lhes escreveu.

Daydream, delusion, limousine, eyelash
Oh baby with your pretty face
Drop a tear in my wineglass
Look at those big eyes
See what you mean to me
Sweet-cakes and milkshakes
I'm delusion angel
I'm fantasy parade
I want you to know what I think
Don't want you to guess anymore
You have no idea where I came from
We have no idea where we're going
Latched in life
Like branches in a river
Flowing downstream
Caught in the current
I'll carry you
You'll carry me
That's how it could be
Don't you know me?
Don't you know me by now?

2 comentários:

  1. este blog está excepcional, junta várias artes numa só, de uma forma simples e ao mesmo tempo precisa. Adorei e vou continuar a seguir. Quanto ao filme, não há mesmo palavras para descrever, o sentimento inerente de ver esta hora e meia passar e os dois a deixarem-se levar pela ternura e empatia que está em todos os momentos. Excepcional!

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