Quinta-feira
Notas:
Eu acredito que há duas dimensões separadas que coexistem na arquitectura. Uma é substantiva e refere-se à função, segurança e economia, e uma vez que a arquitectura acomoda a vivência humana, não pode ignorar estes elementos do real. No entanto, pode a arquitectura ser arquitectura com isto apenas? Uma vez que a arquitectura é uma forma de expressão humana, quando abandona as exigências da construção pura para entrar no domínio da estética, faz surgir a questão da arquitectura como arte.
(...) Originalmente, a construção humana oferecia o mais fundamental abrigo dos elementos naturais. Então, aquele arquitecto teórico da Roma antiga, Vitrúvio, propôs três princípios fundamentais da arquitectura – "utilitas", "venustas", "firmitas": "utilitas" refere-se à função (utilidade) e "firmitas" à força (firmeza), ambas são medidas do potencial arquitectónico, enquanto "venustas" (delicadeza ou beleza) reside na dimensão da imaginação.
A arquitectura moderna em que me tenho referenciado também retém a função (clara), a estrutura (exposta) e o material (bruto) como princípios – características que tendem a ser acedidas a partir da dimensão do real e do substantivo. A ficcionalidade ou imaginação, a outra dimensão, é omitida inteiramente. No entanto, Vitrúvio enfatizou a "venustas", por outras palavras atracção ou beleza, como uma necessidade para além da firmeza e da função. O mesmo é dizer que, também ele, considerou a dimensão ficcional ou a imaginação combinada com a dimensão real, como a síntese que afecta profundamente a espiritualidade humana. Desde a génese da arquitectura, o seu destino tem sido não poder ser fruto apenas da funcionalidade.
Excerto do discurso de Tadao Ando na aceitação do prémio Pritzker de 1995.
A arquitectura é uma arte, mas uma arte pública. A maior parte das vezes o público não escolhe a arquitectura como escolheria um museu para visitar. Assim, a arquitectura é-nos imposta na nossa vida quotidiana, nas nossas casas, nos lugares de trabalho. E por esta razão, o arquitecto-artista tem de responder pelo seu trabalho; ele deve uma explicação. É-nos constantemente exigido para nos exprimirmos. E isso é normal.
E porque a arquitectura é uma arte pública, os arquitectos, ao contrário de outros artistas, não gozam de uma liberdade criativa pessoal completa. É-lhes esperado que o seu trabalho contenha uma espécie de legitimidade, providenciando as respostas certas às necessidades de uma determinada época.
Excerto do discurso de Christian de Portzamparc na aceitação do prémio Pritzker de 1994.
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