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Terça-feira


JPC em evidente esforço intelectual. Posted by Hello

O que entendemos nós por arte? A pergunta é mais velha do que o sexo. Pessoalmente, não concebo arte sem beleza e não concebo a beleza sem um mínimo de inexaustibilidade. Não sei se o Belo mora no objecto. Ou no observador do objecto – a velha disputa entre objectivistas e subjectivistas. Talvez ambos tenham razão e, com eles, Diderot, o primeiro de todos a apresentar a soma das partes. Sinto apenas que a grande arte é aquela que existe e persiste. Vemos Monet pela primeira vez. Ficamos assombrados com a luz. Depois, a consistência da cor. E quando, anos volvidos, regressamos a Paris, regressamos ao início. A grande arte é uma aventura interminável que somos humanamente incapazes de esgotar. Não conheço ninguém – rigorosamente ninguém – que tenha visto “demasiado” Monet, ou “demasiado” Bronzino, ou “demasiado” Van Eyck. Nunca se vê “demasiado”. Tudo ao contrário da arte contemporânea, ou da maioria dela, que não sobrevive a uma segunda vez. As esculturas de Sarah Lucas, feitas com alfaces e ovos estrelados, são criações inovativas? Não contesto. Mas interessam uma vez. Não interessam nenhuma outra vez. O mesmo para Damien Hirst, Tracey Emin ou Chris Ofili – artistas contemporâneos que, esta semana, viram as suas obras consumidas em incêndio brutal. Milhões de libras em fumo, dizem os entendidos. Uma perda “insubstituível” para a arte britânica, acrescentam os entendidos. Talvez seja. Mas, com a devida vénia, não sei o que será pior: que uma obra de arte desapareça pela força das chamas ou que desapareça em nós depois de um primeiro olhar.
[João Pereira Coutinho, Semanário Expresso edição de 2004-05-29]

Que um idiota como João Pereira Coutinho escreva no Expresso é um bom sinal do estado a que este semanário chegou. Que no mesmo jornal seja colunista a Clara Ferreira Alves torna a sua leitura o equivalente a assistir a um concerto de Maria João Pires seguida de Quim Barreiros. Mas o que é mesmo penoso é ver este menino de beicinho arrogante a exibir a sua sapiência livresca como quem tira ases do baralho. Arrogante de quê, pergunto eu. Este menino tem alguma obra feita, escreveu alguns livros notáveis, tem currículo para mostrar o que vale? Não lhe ficava mal um pouco de humildade, mas JPC é “irreverente” e “genial”, enfim, o pior que há nesta geração que é a minha, exibicionistas de “fortes opiniões” e sem humildade para as sustentar em factos.
Em JPC tudo é sentença e ideologia. Não lhe interessa a apresentação e a análise da realidade, ele não é analista, ele é essa nata do jornalismo, um comentador. Assim, cada parágrafo é um manifesto, tudo é interpretação, ponto de vista, “bias”. Um irreverente de trela pronto a reescrever os factos ao sabor da sua ideologia.
Que a direcção do Expresso dê carta branca a que este menino escreva uma coluna onde regista toda a porcaria que lhe sai da cabeça é a machadada final. Eis JPC em todo o seu esplendor pontapeando as cinzas do incêndio que na passada semana destruiu um número vasto de obras de arte da colecção de Charles Saatchi. Obras de artistas contemporâneos, a maioria representante da chamada Britart entre outras consumidas pelo fogo. Por entre as peças polémicas de Damien Hirst e Tracey Emin arderam obras como Mood Change One de Michael Craig-Martin, Hedone’s de Patrick Caulfield, Che Guevara’s Mountain Hideaway de Dexter Dalwood, 20 trabalhos da autoria de Martin Maloney, e ainda o quadro O Embaixador De Jesus da portuguesa Paula Rego.
Do alto dos seus vinte e tal anos, João Pereira Coutinho bem podia ficar calado se este acontecimento lhe mereceu tanto desprezo assim, mas que venha cuspir para cima dos leitores coisas como A grande arte é uma aventura interminável que somos humanamente incapazes de esgotar. (...)Tudo ao contrário da arte contemporânea, ou da maioria dela, que não sobrevive a uma segunda vez, e ironizar sobre a perda insubstituível do património que ali desapareceu é verdadeiramente revoltante. Talvez este conservador imberbe tenha de voltar aos livros de onde saíu para compreender que se em 1900 todas as obras de Monet tivessem pegado fogo muitas vozes como a dele se teriam feito sentir, menosprezando e regozijando-se com a sua destruição. Que, como apresentou Kundera, a arte deste século perdeu a ideia de um rumo ascendente cujo caminho conduziria a um glorioso final. Que vivemos hoje num mundo muito mais complexo em que as noções de significado, percepção, consistência, objectividade, paradoxo, não são mais as mesmas. Que muita da arte contemporânea retrata essa complexidade, esse diálogo tangente entre a realidade e a sua representação. Que aquilo que somos e aquilo que pensamos são coisas diferentes, e que o mesmo se aplica a JPC.

3 comentários:

  1. Que bom ver alguém a chamar ao JPC aquilo que ele é: um idiota chapado, cuja única virtude é não ter medo de dizer o que pensa (o que, na verdade, até nem é pouco). Faz-me impressão o sucesso dele e outros que tais aqui na blogosfera, como se tivessem descoberto a pólvora. Pergunto-me porque não compravam antes o Independente, onde além de o poderem ler a ele, sempre tinham outros comentadores de direita, uns melhores outros piores. E sempre contribuíam para pagar os salários à malta que lá trabalhava.

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  2. JPC és um menino!!!
    e depois n gosto das tuas últimas letras.
    Seu comuna inveterado!

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  3. Posted by: CC (sem paciencia para me registar)
    Gosto muito deste blog, encontro sempre aqui informacao util e uma janela para coisas que nao procuraria mas gosto de descobrir. Quanto a esta discussao, acho louvavel que dentro dos (i)limites da blogosfera o larquitectol lance argumentos para que se proceda aquilo que, precisamente, JPC evita a todo o custo: a mera possibilidade de discussao. Como por exemplo, alguem conseguiria ter visto "demasiado" Rachel Whiteread? E ja agora, a arte contemporanea nao se resume a arte britanica, e a arte britanica nao se resume a Brit Art.

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