Declaração de IRS da OA
Para os mais distraídos fica o recado publicado em notícia da Ordem dos Arquitectos: as declarações de IRS relacionadas com as quotizações pagas durante o ano de 2010 só serão emitidas para os membros que solicitarem. Os interessados devem seguir o procedimento indicado no site da OA.
Simetria
Existem duas sequências que unem, mais do que quaisquer outras, estes filmes. A primeira passa-se numa pequena loja de música de Viena, a Teuchtler - Alt & Neu, onde Jesse e Celine escutam em conjunto a música Come Here de Kath Bloom. No segundo filme Jesse acompanha Celine até à porta do seu prédio, para juntos subirem a escada até ao seu apartamento. As duas cenas são filmadas em planos longos, sem interrupção, e em ambas se sobrepõe o silêncio. De onde não há retorno.
[Podem rever a sequência da discoteca aqui. Se quiserem ficar confusos não percam o encontro de Jesse e Celine no filme Waking Life. E para terminar em grande, fica ainda uma vídeo-colagem dos dois filmes ao som do tema Lovesong dos The Cure. Isto é muito, muito bom...]
Eclipse lunar
Filme compactado do eclipse lunar do Solstício de Inverno de 21 de Dezembro de 2010. A música é de Claude Debussy: Nocturnes - Sirènes. Via Joe’s Daily, NotCot.
Da dimensão afectiva da ética
Imagem via The Animal Blog.
É com interesse que tenho procurado acompanhar as reflexões que se vêm desenvolvendo no Animalogos, em particular pela preocupação que também partilho na discussão de temas de dimensão ética. Observo no entanto o que me parece ser uma patologia de pensamento recorrente, presente na abordagem excessivamente abstracta sobre algumas questões que ali se tratam e o risco de tal poder diluir as implicações éticas dos factos em presença.
Um texto recente – Diferentes Culturas, Diferentes Éticas? – é exemplar no modo como incorre num erro de método, ao questionar o conceito de ética sobre uma base lógica, pressupostamente científica. Afirma-se: A ética, como princípio filosófico, é a mesma. A aplicação prática desta é que difere de cultura para cultura. A moralidade impressa a todos os “actos” com animais é divergente, e isso sim, depende da cultura dos vários povos. Valerá a pena questionar o alcance desta proposição.
A ética reflecte um juízo sobre as acções humanas no contexto de ideias morais presentes na sociedade. A ética não é por isso a mesma entre culturas diferentes porque delas decorrem entendimentos diferentes sobre as implicações morais das suas práticas. A recusa presente nas sociedades ocidentais quanto a usar animais domésticos na alimentação tem essa base afectiva, subjectiva, moral, mas ela não deixa, por ser subjectiva, de constituir um “valor”, um conceito sobre o qual se estabeleceu um consenso social alargado. O facto dos valores não serem proposições objectivas não os torna num não-valor.
A ética não é uma ciência pura, não decorre de nenhuma lei (lógica/matemática). Não podemos [edição: ou é muito difícil] estabelecer uma ética universal porque ela traduz um entendimento de natureza cultural sobre princípios morais, de bem e de mal. E não poderemos por isso afirmar que a nossa ética é “superior” à que encontramos nas culturas orientais onde se utilizem cães ou gatos como fonte de alimento. Mas podemos defender a inaceitabilidade dessas práticas no contexto do nosso entendimento cultural sobre a acção humana e o seu impacto sobre o que nos rodeia, ou seja, no nosso juízo ético.
Faço, a este respeito, um pausa para sublinhar um aspecto que considero importante. Tenho o maior respeito pela importância da Ciência para a evolução das sociedades. Julgo mesmo que um dos grandes problemas da sociedade em que vivemos decorre da perda da dimensão científica no domínio da reflexão sobre os problemas e da tomada de decisão, até no campo político.
Mas não posso deixar de alertar para o facto de não se poder sobrepor um entendimento lógico, abstracto, de origem académico-científica, sobre valores culturais de sociedade. Este tipo de discurso corre o risco de promover uma “relativização” desses valores, porque eles não são demonstráveis sobre uma base lógica. Mas a sua anulação, por absurdo, provocaria aquilo que não deixaríamos de considerar uma aberração cultural. Ou seja, em resumo, temos de defender a nossa própria subjectividade, a construção civilizacional em que vivemos.
A questão mais interessante que por isso se levanta naquele texto não é tanto a reflexão comparativa, qualitativa, entre culturas, mas a subjectividade ética das nossas próprias diferenças de critério quanto ao uso de animais para alimentação. Porque aqui colocam-se questões de tabu cultural – comer cães e gatos, ou cavalos – bem como preocupações morais quanto aos processos de criação e abate de animais para consumo humano, e ainda razões de natureza social e ambiental quanto às necessidades alimentares da população. E sobre isso podemos encontrar práticas diferentes na nossa própria sociedade. Porque o nosso modo de vida não é inócuo. Tal facto não nos pode fazer deixar de alimentar ou existir. Mas podemos, ou devemos, ter preocupação ética sobre os impactos que temos sobre o meio que nos rodeia e o modo como os poderemos minimizar.
Sobre essa consciência ética coloca-se o problema da nossa actuação sobre animais sencientes, como bem apontado nos comentários por David. É uma questão muito complexa que resvala para a discussão do direito animal, tema sobre o qual encontramos correntes de pensamento muito diversas. [E sobre o qual, diga-se, seria bom não desenvolver dissertações maniqueístas que confundam a defesa de uma discussão sobre o “direito animal” como um exclusivo de “grupos extremistas defensores dos direitos dos animais”. Cuidado com o risco de, mesmo inconscientemente, promover uma forma de dissonância cognitiva.]
A respeito do debate ali observado não posso deixar de reputar de muito errado o que escreveu Anna Olsson quanto ao tema da experimentação: Uma pessoa pode ter a noção que está a ser explorada, um animal não. Logo, não é óbvio que o direito a ser tratado como um fim em si próprio é relevante para quem não sabe a diferença entre isto e o de ser explorado.
O direito sobre o modo como um animal é tratado é mesmo, pelo contrário, uma questão de princípio, e não uma questão decorrente da capacidade de entendimento do facto de estar a ser explorado. Poderíamos contrapor com o exemplo humano. O facto de uma pessoa possuir limitação cognitiva (por exemplo, até, numa situação de inactividade cerebral) não torna legítima a sua utilização para experimentação.
O que legitima, ou não, um acto de experimentação é o entendimento social sobre a sua justificação de força maior, no âmbito científico, médico, ou mesmo industrial. É uma questão muito difícil e sobre a qual também me debato a nível das minhas escolhas pessoais. Mas que deve ser reflectida, exactamente, no plano ético, numa discussão subjectiva mas que é essencial à formação da ideia de sociedade em que vivemos.
Mete-se o Natal
Acontece todos os anos. O Natal. Mete-se. Quaisquer que sejam os planos que fizeram, os compromissos que agendaram há longos meses, as pessoas chegam e dizem: oh, sabe, mete-se o Natal. Que malandreco, o Natal, aparece assim de repente. Completamente imprevisível, quem poderia adivinhar que ele apareceria por esta altura do ano. E nada mais há a fazer senão encolher os ombros. Que podemos nós fazer, afinal? É Natal.
Um futuro imaginado
2019: A Future Imagined é um mini-documentário que dá a conhecer algumas ideias de Syd Mead sobre a natureza da criatividade e da evolução humana. Um dos mais importantes artistas conceptuais da actualidade, Syd Mead notabilizou-se pelas imagens especulativas que serviram de suporte a obras de ficção científica como Blade Runner, Aliens e Tron. Entre as suas paixões pessoais encontram-se o design de ambientes urbanos e modelos alternativos de transporte, desenvolvendo a sua visão prospectiva sobre futuros possíveis.
Dirigido por Joaquin Montalvan, autor do documentário Visual Futurist: The Art and Life of Syd Mead realizado em 2006. Via Archinect.
A calçadeira
Andava eu a circular pelo quarto noutro dia quando tropecei aparatosamente na calçadeira Omsorg da Ikea. Caso se estejam a perguntar, trata-se de uma calçadeira comprida que parece uma serpente. É mesmo gira. A questão é que já me tinha esquecido que isto existia. Na verdade, nem me lembro de quando a comprei. Estão a ver, eu não uso calçadeira. Eu nem sequer gosto de pessoas que usam calçadeira. Então porque haveria eu de comprar uma? Porque é que compramos estas coisas de design se nunca, mas nunca, as vamos utilizar afinal?
Procura-se: Jornal Arquitectos #239
Eu gostava de partilhar algumas opiniões sobre o que se escreve na última edição do Jornal Arquitectos (#239), com o tema de capa «Ser Crítico». Infelizmente nem a revista chega à minha morada nem o sítio web do Jornal Arquitectos dá sinais de vida. Tendo em conta que a edição #239 corresponde aos meses de Abril-Maio-Junho de 2010, o tempo deve ter parado lá para os lados do JA. Deixo assim o apelo a algum leitor que imbuído de espírito natalício possa digitalizar o artigo do Jorge Figueira e, já agora, o editorial do Manuel Graça Dias, e os envie generosamente por email. Obrigado!
Manifestação pela mudança de direcção do Canil Municipal de Évora
Imagem via Facebook.
Veja a reportagem sobre a manifestação em Évora contra o abate de animais no canil da cidade.
Subscreva a petição pela averiguação das circunstâncias de abate de 7 cães no Canil Municipal de Évora e condições higiénico-sanitárias de alojamento nele praticadas.
«Utilizar animais para fins didácticos»
Decreto-Lei n.º 315/2003 de 17 de Dezembro
Artigo 7.º
Princípios básicos para o bem-estar dos animais
3 — São proibidas todas as violências contra animais, considerando-se como tais os actos consistentes em, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento ou lesões a um animal.
4 — É proibido utilizar animais para fins didácticos e lúdicos, de treino, filmagens, exibições, publicidade ou actividades semelhantes, na medida em que daí resultem para eles dor ou sofrimentos consideráveis, salvo experiência científica de comprovada necessidade e justificada nos termos da lei.
A respeito da utilização de cães vivos, recolhidos pelo Canil Municipal de Évora, para fins didácticos nas aulas de anatomia do curso de Veterinária da Universidade de Évora, era importante não perder de vista o que está em causa.
Em primeiro lugar, importa ter em conta que não está já em dúvida a veracidade daqueles factos: é o director do Hospital Veterinário da U.E. que os confirma, em declarações prestadas ao Jornal de Notícias.
Em segundo lugar, e quanto à discussão da legitimidade ética de tais práticas, há que sinalizar o facto de não estarmos perante algo que possa ser definido como actos de medicina veterinária. Não estamos perante a prestação de consultas para tratamento de patologias a animais, de proprietários particulares ou instituições, cujo estado clínico o justifique.
Estamos perante a simulação de actos de medicina veterinária em animais que são submetidos a procedimentos médicos e cirúrgicos, sem que sejam portadores das patologias que os fundamentem, e que são posteriormente eutanasiados naquela instituição.
São práticas que violam, sem qualquer margem para dúvida, os princípios básicos para o bem-estar dos animais, definidos pelo Decreto-Lei n.º 315/2003, que acima transcrevo, por infligirem sem necessidade lesões e a morte a um animal.
É esta diferença, entre a prática de actos de medicina veterinária, e a sua simulação, que está em causa. Quando responsáveis de uma instituição de ensino superior, com a colaboração de um veterinário municipal, já não são capazes de discernir o significado desta diferença e a distância ética que vai entre uma e outra coisa, estamos perante uma situação muito grave – não apenas no plano legal, mas enquanto corrosão dos valores mais íntimos que deviam conduzir a actuação destes titulares de funções de interesse público.
A Universidade de Évora, a Câmara Municipal e os direitos dos animais – de mal a pior
Se as más práticas seguidas pelo Veterinário Municipal recentemente destacadas na imprensa eram já de si bastante lesivas para imagem do município, eis que vieram hoje a público denúncias da utilização de cães saudáveis para simulação de práticas médicas no curso de Veterinária da Universidade de Évora.
Os cães em questão estariam sinalizados para abate pelo responsável do Canil Municipal, de onde eram enviados para a Universidade e ali submetidos a esterilizações, castrações, simulações de cesarianas e anestesias pelos alunos, sendo posteriormente eutanasiados. O Jornal de Notícias recolheu inúmeros exemplos destas práticas, agora denunciadas por ex-alunos daquela Faculdade e actuais médicos veterinários, obtendo ainda informação de diversas fontes de que tais procedimentos estariam a ser conduzidos de forma regular.
Confrontado com estas acusações, o Presidente da Câmara de Évora afirmou ao semanário Sol desconhecer o caso avançado pelo JN, revelando conhecer apenas a existência de um protocolo entre a Câmara e a Universidade para a incineração de cadáveres de animais, como o caso de cães vítimas de atropelamento na via pública. No entanto, uma nova notícia do JN dá conta de declarações do director do Hospital Veterinário da Universidade de Évora que confirmam aquelas práticas e a recepção de animais provenientes do canil da autarquia.
Na sequência da divulgação deste caso, e em resposta ao jornal Público, a bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários declarou-se contra a utilização de animais vivos como cobaias nas instituições de ensino superior e anunciou a criação de uma comissão que vai averiguar o que se passa a nível nacional.
* * *
Perante os factos relatados nestas notícias tomei a iniciativa de contactar amigos veterinários de Lisboa, com ligações a instituições de ensino superior, que me confirmaram que tal prática é, no seu entendimento, ilegal, e eticamente inaceitável. Disseram-me que nos estabelecimentos onde leccionam os alunos contactam com a prática profissional em consultas de tratamento a animais particulares e, também, provenientes de associações, sempre com supervisão de um professor. No segundo caso, tratam-se de animais que regressam às suas instituições de acolhimento para adopção. E a formação prática dos alunos tem continuidade no período de experiência profissional subsequente em regime de estágio.
Toda esta situação não pode assim deixar de levantar interrogações muito sérias. Se, como diz o Presidente da Câmara de Évora, a autarquia não estabeleceu nenhum protocolo com a Universidade de Évora com vista a fornecer animais para fins «didáticos», com que autoridade estabeleceu o Veterinário Municipal tal colaboração com essa instituição?
Por outro lado, que exemplo de cultura profissional está a Universidade de Évora a dar aos seus alunos? Como podemos esperar que uma instituição superior se afirme como bastião de ética no espaço social, como é sua obrigação, quando os seus dirigentes são os primeiros a subscrever atitudes de retrogradismo desfasadas do pensamento e das boas práticas do seu tempo?
Em conclusão, resta aguardar pelos resultados do inquérito ao funcionamento do Canil anunciado pelo Presidente da Autarquia. Não é apenas de um conflito interno que se trata; é a imagem do Município perante todo o país que está em causa. Esperemos que não se venha a verificar uma retaliação sobre aqueles funcionários que tiveram a coragem de denunciar os actos inaceitáveis seguidos pelo Veterinário Municipal. Os cidadãos, de Évora e de todo o país, cá estarão para ver – e actuar, se necessário.
Os cães em questão estariam sinalizados para abate pelo responsável do Canil Municipal, de onde eram enviados para a Universidade e ali submetidos a esterilizações, castrações, simulações de cesarianas e anestesias pelos alunos, sendo posteriormente eutanasiados. O Jornal de Notícias recolheu inúmeros exemplos destas práticas, agora denunciadas por ex-alunos daquela Faculdade e actuais médicos veterinários, obtendo ainda informação de diversas fontes de que tais procedimentos estariam a ser conduzidos de forma regular.
Confrontado com estas acusações, o Presidente da Câmara de Évora afirmou ao semanário Sol desconhecer o caso avançado pelo JN, revelando conhecer apenas a existência de um protocolo entre a Câmara e a Universidade para a incineração de cadáveres de animais, como o caso de cães vítimas de atropelamento na via pública. No entanto, uma nova notícia do JN dá conta de declarações do director do Hospital Veterinário da Universidade de Évora que confirmam aquelas práticas e a recepção de animais provenientes do canil da autarquia.
Na sequência da divulgação deste caso, e em resposta ao jornal Público, a bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários declarou-se contra a utilização de animais vivos como cobaias nas instituições de ensino superior e anunciou a criação de uma comissão que vai averiguar o que se passa a nível nacional.
Perante os factos relatados nestas notícias tomei a iniciativa de contactar amigos veterinários de Lisboa, com ligações a instituições de ensino superior, que me confirmaram que tal prática é, no seu entendimento, ilegal, e eticamente inaceitável. Disseram-me que nos estabelecimentos onde leccionam os alunos contactam com a prática profissional em consultas de tratamento a animais particulares e, também, provenientes de associações, sempre com supervisão de um professor. No segundo caso, tratam-se de animais que regressam às suas instituições de acolhimento para adopção. E a formação prática dos alunos tem continuidade no período de experiência profissional subsequente em regime de estágio.
Toda esta situação não pode assim deixar de levantar interrogações muito sérias. Se, como diz o Presidente da Câmara de Évora, a autarquia não estabeleceu nenhum protocolo com a Universidade de Évora com vista a fornecer animais para fins «didáticos», com que autoridade estabeleceu o Veterinário Municipal tal colaboração com essa instituição?
Por outro lado, que exemplo de cultura profissional está a Universidade de Évora a dar aos seus alunos? Como podemos esperar que uma instituição superior se afirme como bastião de ética no espaço social, como é sua obrigação, quando os seus dirigentes são os primeiros a subscrever atitudes de retrogradismo desfasadas do pensamento e das boas práticas do seu tempo?
Em conclusão, resta aguardar pelos resultados do inquérito ao funcionamento do Canil anunciado pelo Presidente da Autarquia. Não é apenas de um conflito interno que se trata; é a imagem do Município perante todo o país que está em causa. Esperemos que não se venha a verificar uma retaliação sobre aqueles funcionários que tiveram a coragem de denunciar os actos inaceitáveis seguidos pelo Veterinário Municipal. Os cidadãos, de Évora e de todo o país, cá estarão para ver – e actuar, se necessário.
Évora, um mau exemplo na defesa dos animais
Évora voltou a ser notícia nacional por más razões. Os relatos da pouca sensibilidade do veterinário municipal, Dr. Flor Ferreira, para com a questão da protecção dos animais abandonados circulam desde há muito por entre os habitantes da cidade. Desta vez, no entanto, a iniciativa deste responsável pelo canil da autarquia que resolveu abater, de uma só vez e pelas suas próprias mãos, sete animais ali acolhidos, tem vindo a merecer uma exposição mediática sem precedentes.
As informações sobre este caso começaram a circular pela internet há vários dias, através de blogues e por email. Uma exposição do caso dá conta de um comunicado interno formulado por duas veterinárias ao serviço do município, pelo qual denunciaram diversas situações abusivas que estariam a ocorrer no Canil Municipal de Évora. Estas técnicas dão conta das pressões exercidas pelo veterinário municipal no sentido de forçar a prática regular de abate aos animais recolhidos naquelas instalações por um período superior a um mês. Nessa comunicação dão a conhecer as suas diligências pessoais com vista a divulgar e viabilizar os processos de adopção, facilitando a entrega de animais fora do horário de funcionamento do canil.
«No final de Outubro de 2010, porém, o Dr. Flor Ferreira comunicou-lhes que estavam proibidas de aceder à zona de alojamento dos animais a partir das 16 horas, apesar de o horário de trabalho se estender até às 17h30. Nessa sequência, a porta vem sendo encerrada por um dos funcionários às 16 horas, o qual depois fica na posse da chave.
Por outro lado, não é permitido às duas referidas veterinárias prestar qualquer tipo de assistência a um animal depois de encerrada a porta. Igualmente estão proibidas de entregar qualquer animal para adopção a partir das 16 horas e aos fins-de-semana, inclusive ao Sábado de manhã em que estão ao serviço uma veterinária e um funcionário do canil.»
O mesmo artigo dá a conhecer os contornos do acto cometido por aquele veterinário e que tem motivado a indignação de muitos munícipes.
«Segundo uma fonte que não se quis identificar, o descrito acto ocorreu após a realização de uma reunião no dia 9 de Novembro, à qual o Dr. Flor Ferreira compareceu na qualidade de veterinário municipal para discutir a forma de implementar, em Évora, a Campanha pela Esterilização (CNE), representada por quatro senhoras pertencentes ao Grupo de Évora dessa Campanha.
Durante essa reunião, e perante a proposta de esterilização de gatos errantes, à semelhança do que vem sendo praticado por diversas câmaras municipais ao abrigo do art.º 21º do DL nº315/2003 acima citado, o referido veterinário municipal manifestou-se contrário a tal prática, que considera ilegal, adiantando que as câmaras que o fazem estão a cometer ilegalidades.
As representantes da CNE manifestaram, ainda, indignação face ao número elevado de abates no canil de Évora (cerca de 500 animais por ano, segundo adiantaram) e face à proibição de adopções de cães a residentes em apartamentos imposta por aquele veterinário municipal, o que, no entendimento das mesmas, reduz consideravelmente as possibilidades de adopção e é atentatório do princípio da igualdade e do direito à adopção.
Após a realização da referida reunião, durante a qual se exaltou diversas vezes e afirmou que lhe custava ter que abater animais, o Dr. Flor Ferreira foi encontrado, no dia seguinte, no canil, de seringa na mão, tendo abatido os referidos sete cães, cinco dos quais em processo de adopção.»
Nota: A proibição de adopções de cães a residentes em apartamentos é manifestamente ilegal, violando o disposto no Decreto-Lei nº. 276/2001, com a redacção definida pelo Decreto-Lei nº. 315/2003. E em caso algum as opiniões pessoais de um veterinário municipal se podem sobrepor à aplicação da legislação em vigor.
O caso foi noticiado na SIC e em diversos jornais de âmbito nacional. O Jornal de Notícias dá conta da organização de uma manifestação de repúdio por estes actos, marcada para a próxima segunda-feira em frente à autarquia. Por outro lado, cresce um sentimento de inquietação perante o silêncio dos dirigentes do município e o receio de retaliação que possam sofrer as duas veterinárias que denunciaram os factos ali sucedidos. A situação é tanto mais preocupante quando se sabe que o número de adopções de animais do canil aumentou consideravelmente nos últimos anos, em resultado das diligências e do empenho pessoal destas duas funcionárias.
A Câmara de Évora apresenta-se assim, ao contrário do que vem sucedendo em diversos municípios do país, como um exemplo de más práticas na questão da protecção e defesa dos animais abandonados. Para além de ter retirado apoios às associações locais que procuram actuar nesta área, enfrentando inúmeras dificuldades materiais e humanas, é a própria prática de gestão do Canil Municipal que se exibe como uma mancha na imagem desta capital de distrito. Numa cidade que se pretende dar a conhecer como um exemplo de cultura, com toda a responsabilidade que tal implica ao nível nacional e internacional, práticas subdesenvolvidas e retrógradas como as que agora se verificaram são inaceitáveis e deixam transparecer o longo caminho a percorrer para estar à altura do título de Património da Humanidade que tão briosamente ostenta.
Por tudo isto, como residente de Évora há mais de uma década, não deixo de sentir uma imensa tristeza.
As informações sobre este caso começaram a circular pela internet há vários dias, através de blogues e por email. Uma exposição do caso dá conta de um comunicado interno formulado por duas veterinárias ao serviço do município, pelo qual denunciaram diversas situações abusivas que estariam a ocorrer no Canil Municipal de Évora. Estas técnicas dão conta das pressões exercidas pelo veterinário municipal no sentido de forçar a prática regular de abate aos animais recolhidos naquelas instalações por um período superior a um mês. Nessa comunicação dão a conhecer as suas diligências pessoais com vista a divulgar e viabilizar os processos de adopção, facilitando a entrega de animais fora do horário de funcionamento do canil.
«No final de Outubro de 2010, porém, o Dr. Flor Ferreira comunicou-lhes que estavam proibidas de aceder à zona de alojamento dos animais a partir das 16 horas, apesar de o horário de trabalho se estender até às 17h30. Nessa sequência, a porta vem sendo encerrada por um dos funcionários às 16 horas, o qual depois fica na posse da chave.
Por outro lado, não é permitido às duas referidas veterinárias prestar qualquer tipo de assistência a um animal depois de encerrada a porta. Igualmente estão proibidas de entregar qualquer animal para adopção a partir das 16 horas e aos fins-de-semana, inclusive ao Sábado de manhã em que estão ao serviço uma veterinária e um funcionário do canil.»
O mesmo artigo dá a conhecer os contornos do acto cometido por aquele veterinário e que tem motivado a indignação de muitos munícipes.
«Segundo uma fonte que não se quis identificar, o descrito acto ocorreu após a realização de uma reunião no dia 9 de Novembro, à qual o Dr. Flor Ferreira compareceu na qualidade de veterinário municipal para discutir a forma de implementar, em Évora, a Campanha pela Esterilização (CNE), representada por quatro senhoras pertencentes ao Grupo de Évora dessa Campanha.
Durante essa reunião, e perante a proposta de esterilização de gatos errantes, à semelhança do que vem sendo praticado por diversas câmaras municipais ao abrigo do art.º 21º do DL nº315/2003 acima citado, o referido veterinário municipal manifestou-se contrário a tal prática, que considera ilegal, adiantando que as câmaras que o fazem estão a cometer ilegalidades.
As representantes da CNE manifestaram, ainda, indignação face ao número elevado de abates no canil de Évora (cerca de 500 animais por ano, segundo adiantaram) e face à proibição de adopções de cães a residentes em apartamentos imposta por aquele veterinário municipal, o que, no entendimento das mesmas, reduz consideravelmente as possibilidades de adopção e é atentatório do princípio da igualdade e do direito à adopção.
Após a realização da referida reunião, durante a qual se exaltou diversas vezes e afirmou que lhe custava ter que abater animais, o Dr. Flor Ferreira foi encontrado, no dia seguinte, no canil, de seringa na mão, tendo abatido os referidos sete cães, cinco dos quais em processo de adopção.»
Nota: A proibição de adopções de cães a residentes em apartamentos é manifestamente ilegal, violando o disposto no Decreto-Lei nº. 276/2001, com a redacção definida pelo Decreto-Lei nº. 315/2003. E em caso algum as opiniões pessoais de um veterinário municipal se podem sobrepor à aplicação da legislação em vigor.
O caso foi noticiado na SIC e em diversos jornais de âmbito nacional. O Jornal de Notícias dá conta da organização de uma manifestação de repúdio por estes actos, marcada para a próxima segunda-feira em frente à autarquia. Por outro lado, cresce um sentimento de inquietação perante o silêncio dos dirigentes do município e o receio de retaliação que possam sofrer as duas veterinárias que denunciaram os factos ali sucedidos. A situação é tanto mais preocupante quando se sabe que o número de adopções de animais do canil aumentou consideravelmente nos últimos anos, em resultado das diligências e do empenho pessoal destas duas funcionárias.
A Câmara de Évora apresenta-se assim, ao contrário do que vem sucedendo em diversos municípios do país, como um exemplo de más práticas na questão da protecção e defesa dos animais abandonados. Para além de ter retirado apoios às associações locais que procuram actuar nesta área, enfrentando inúmeras dificuldades materiais e humanas, é a própria prática de gestão do Canil Municipal que se exibe como uma mancha na imagem desta capital de distrito. Numa cidade que se pretende dar a conhecer como um exemplo de cultura, com toda a responsabilidade que tal implica ao nível nacional e internacional, práticas subdesenvolvidas e retrógradas como as que agora se verificaram são inaceitáveis e deixam transparecer o longo caminho a percorrer para estar à altura do título de Património da Humanidade que tão briosamente ostenta.
Por tudo isto, como residente de Évora há mais de uma década, não deixo de sentir uma imensa tristeza.
IV Obra Falada no IST em Novembro
O nucleAr - Núcleo de Estudantes de Arquitectura do Instituto Superior Técnico - realiza este Novembro a 4ª edição da Obra Falada. Trata-se de um ciclo de conferências que os alunos têm vindo a organizar nos últimos anos, no âmbito do qual se "convidam vários arquitectos para apresentarem as suas últimas obras, com o objectivo de dar a conhecer diferentes abordagens e ideias, suscitar interesses diversos e levantar dúvidas quanto às matérias que a própria arquitectura aborda".
São estes os convidados para a IV Obra Falada:
16 Novembro: António Belém Lima
23 Novembro: Atelier de Santos
30 Novembro: José Manuel Carvalho Araújo
3 Dezembro: Manuel Tainha
O evento irá decorrer no anfiteatro do Complexo Interdisciplinar do IST, às 18h. A entrada é livre. Mais em nuclear.ist.utl.pt.
CONFERÊNCIA Arquitectura [in] ]out[ Política ADIADA
Da direcção de comunicação da Trienal de Arquitectura de Lisboa chega um pedido de divulgação do presente comunicado.
Por razões alheias à vontade da Trienal de Arquitectura de Lisboa, que se prendem com a organização da Cimeira da Nato nos próximos dias 19 e 20 de Novembro e de maneira a evitar transtornos já anunciados, nomeadamente o cancelamento de voos, manifestações e a inclusão da Aula Magna no perímetro de segurança estabelecido, a Conferência da Trienal ARQUITECTURA [IN] ]OUT[ POLITICA prevista para estes mesmos dias, é adiada para Janeiro de 2011, em data a anunciar muito em breve.
Os bilhetes já adquiridos continuam válidos. Quem desejar ser reembolsado deverá dirigir-se ao local onde adquiriu o bilhete.
Por razões alheias à vontade da Trienal de Arquitectura de Lisboa, que se prendem com a organização da Cimeira da Nato nos próximos dias 19 e 20 de Novembro e de maneira a evitar transtornos já anunciados, nomeadamente o cancelamento de voos, manifestações e a inclusão da Aula Magna no perímetro de segurança estabelecido, a Conferência da Trienal ARQUITECTURA [IN] ]OUT[ POLITICA prevista para estes mesmos dias, é adiada para Janeiro de 2011, em data a anunciar muito em breve.
Os bilhetes já adquiridos continuam válidos. Quem desejar ser reembolsado deverá dirigir-se ao local onde adquiriu o bilhete.
M.
Alguém me disse que na vida, a partir de certa altura, não existem anos bons. Há sempre algo mais que se perde do que aquilo que se ganha. Sei, no fundo, que não é verdade. Que as coisas boas, por breves que possam ser ou parecer, valerão sempre muito mais do que o mal que por vezes nos possa atingir.
A Margarida era uma lutadora. Uma gata franzina que nunca cresceu, tribulações de uma doença na infância, porque os gatos também podem ser crianças. Se a vida se regesse pela lógica, há muito que nos teria abandonado. Mas a M., no tempo breve que nos concedeu, ofereceu-nos duas vidas. Renasceu para nos lembrar que vale sempre a pena ter esperança, sem garantias, assim é o seu mistério. E se agora resta o vazio, nos seus recantos, no silêncio celebramos aquilo que nada pode preencher. Pois quem poderia pedir generosidade maior.
Projectos estruturantes [1] – Introdução
Comecemos por um exemplo simples. Imagine o leitor que tinha decidido ser promotor privado de um equipamento destinado a utilização colectiva. Consideremos, para efeitos deste pequeno exercício, um ginásio – porque não?
Ainda que possa ter desde o início um sonho quanto à qualidade, ao ambiente, aos equipamentos e serviços do seu ginásio, esse não será o seu ponto de partida. O leitor, que é um gestor precavido, resolve considerar previamente o local – ou locais – onde julga ser possível instalar o seu estabelecimento. Quantas pessoas habitam nessa zona? Quais os extractos sociais dominantes, o poder de compra, os hábitos de vida e de consumo dos seus potenciais clientes? E qual a concorrência já implantada nas proximidades? Assim, em função do apuramento destes dados e da realidade que o rodeia, bem como da sua capacidade para reunir capital – próprio e, eventualmente, a crédito – você começa a definir ideias precisas quanto ao investimento, à dimensão do espaço e aos custos que pode vir a assumir.
Quantos utentes espero ter? Que equipamentos terei de comprar – e quanto custam? Quantos trabalhadores terei de contratar? E qual a área adequada para garantir a sua funcionalidade? E, também, que custos de exploração poderei suportar – em material de apoio, gastos de energia, limpeza e demais despesas mensais? E na manutenção futura do espaço e das máquinas? E em publicidade? E impostos? E por aí fora…
O leitor, que está agora a pensar como um verdadeiro gestor e sabe o que quer, vai então estabelecer diálogo com um projectista – desejavelmente um arquitecto – que vai desenvolver o seu programa, os seus objectivos, as suas necessidades quanto ao ginásio que pretende gerir. É você que decide os termos deste caderno de encargos preliminar; e é porque estabeleceu esses princípios que os projectistas poderão ir ao encontro do que você realmente pretende. Desejavelmente, um bom arquitecto deverá não apenas satisfazer soluções pré-estabelecidas que possa ter como apresentar-lhe alternativas, ser aditivo, estudar consigo as melhores possibilidades técnicas – que você talvez desconheça – e outras formas de organização espacial e funcional, porventura mais eficazes, que de todo não lhe haviam ocorrido. Através deste esforço colaborativo, você e o seu arquitecto estão agora em condições para obter o melhor projecto possível.
Imagine agora o leitor que, em vez de ser promotor de uma obra de exploração privada, é antes promotor de um empreendimento público: um equipamento desportivo, um espaço cultural, uma escola, um centro de saúde. Entenderá o leitor que, por se tratar de uma promoção estatal, está isento de aplicar o mesmo detalhe e igual rigor na definição dos princípios que vão determinar tal empreendimento?
Poderá dizer-se: mas estes equipamentos, ao contrário do exemplo anterior, têm por objectivo uma função de interesse público e não se motivam pela obtenção de rentabilidade, de lucro. É verdade. Mas neste pensamento está igualmente um erro de partida. É que todos esses equipamentos são igualmente pagos pelo cidadão. Podemos dizer que não são pagos directamente – no ingresso, na propina, na factura médica – mas também eles são pagos, a todo o momento e na íntegra, através dos impostos de todos os contribuintes.
Mais do que isto, importa perguntar se será lícito promover empreendimentos – mesmo nos casos em que a sua rentabilidade seja forçosamente deficitária – sem considerar seriamente todas as possibilidades de optimizar os seus custos, eliminar desperdícios e adequar a sua estrutura às necessidades reais que ele virá suprir. Pelo contrário, são exactamente esses empreendimentos públicos – aqueles cujo funcionamento dificilmente será capaz de obter ganhos capazes de cobrir as despesas de exploração – que mais devem ser estudados ao pormenor. Eles representam, afinal, um esforço financeiro acrescido para o futuro da sua vida útil. O contrário seria dizer, por absurdo, que o Estado poderia aumentar impostos cada vez que construísse uma escola ou um hospital.
Aquilo que vamos observando no modo como os agentes públicos têm promovido obra pública, tanto a nível central como local, tem sido a enorme falta de cultura de gestão e de sensibilidade quanto ao rigor que lhes seria exigido no planeamento da aplicação dos dinheiros públicos. E um dos problemas centrais reside exactamente no entendimento que fazemos, colectivamente, do Estado enquanto entidade abstracta. Em boa verdade, o Estado só existe porque colectivamente o pagamos – e porque esses dinheiros são fruto da produção e do trabalho de muitos, quem exerce funções públicas devia ter sobre si a responsabilidade singular de utilizá-los com enorme rigor e seriedade.
Voltarei ao tema para reflectir sobre exemplos concretos e sobre a necessidade de alterar toda uma cultura de más práticas de gestão que se instalou nas últimas décadas neste domínio e que, pese embora o enorme problema de liquidez que aflige hoje o Estado Português, parece persistir até ao limite do insustentável, com consequências dramáticas para o futuro de todos.
Ainda que possa ter desde o início um sonho quanto à qualidade, ao ambiente, aos equipamentos e serviços do seu ginásio, esse não será o seu ponto de partida. O leitor, que é um gestor precavido, resolve considerar previamente o local – ou locais – onde julga ser possível instalar o seu estabelecimento. Quantas pessoas habitam nessa zona? Quais os extractos sociais dominantes, o poder de compra, os hábitos de vida e de consumo dos seus potenciais clientes? E qual a concorrência já implantada nas proximidades? Assim, em função do apuramento destes dados e da realidade que o rodeia, bem como da sua capacidade para reunir capital – próprio e, eventualmente, a crédito – você começa a definir ideias precisas quanto ao investimento, à dimensão do espaço e aos custos que pode vir a assumir.
Quantos utentes espero ter? Que equipamentos terei de comprar – e quanto custam? Quantos trabalhadores terei de contratar? E qual a área adequada para garantir a sua funcionalidade? E, também, que custos de exploração poderei suportar – em material de apoio, gastos de energia, limpeza e demais despesas mensais? E na manutenção futura do espaço e das máquinas? E em publicidade? E impostos? E por aí fora…
O leitor, que está agora a pensar como um verdadeiro gestor e sabe o que quer, vai então estabelecer diálogo com um projectista – desejavelmente um arquitecto – que vai desenvolver o seu programa, os seus objectivos, as suas necessidades quanto ao ginásio que pretende gerir. É você que decide os termos deste caderno de encargos preliminar; e é porque estabeleceu esses princípios que os projectistas poderão ir ao encontro do que você realmente pretende. Desejavelmente, um bom arquitecto deverá não apenas satisfazer soluções pré-estabelecidas que possa ter como apresentar-lhe alternativas, ser aditivo, estudar consigo as melhores possibilidades técnicas – que você talvez desconheça – e outras formas de organização espacial e funcional, porventura mais eficazes, que de todo não lhe haviam ocorrido. Através deste esforço colaborativo, você e o seu arquitecto estão agora em condições para obter o melhor projecto possível.
Imagine agora o leitor que, em vez de ser promotor de uma obra de exploração privada, é antes promotor de um empreendimento público: um equipamento desportivo, um espaço cultural, uma escola, um centro de saúde. Entenderá o leitor que, por se tratar de uma promoção estatal, está isento de aplicar o mesmo detalhe e igual rigor na definição dos princípios que vão determinar tal empreendimento?
Poderá dizer-se: mas estes equipamentos, ao contrário do exemplo anterior, têm por objectivo uma função de interesse público e não se motivam pela obtenção de rentabilidade, de lucro. É verdade. Mas neste pensamento está igualmente um erro de partida. É que todos esses equipamentos são igualmente pagos pelo cidadão. Podemos dizer que não são pagos directamente – no ingresso, na propina, na factura médica – mas também eles são pagos, a todo o momento e na íntegra, através dos impostos de todos os contribuintes.
Mais do que isto, importa perguntar se será lícito promover empreendimentos – mesmo nos casos em que a sua rentabilidade seja forçosamente deficitária – sem considerar seriamente todas as possibilidades de optimizar os seus custos, eliminar desperdícios e adequar a sua estrutura às necessidades reais que ele virá suprir. Pelo contrário, são exactamente esses empreendimentos públicos – aqueles cujo funcionamento dificilmente será capaz de obter ganhos capazes de cobrir as despesas de exploração – que mais devem ser estudados ao pormenor. Eles representam, afinal, um esforço financeiro acrescido para o futuro da sua vida útil. O contrário seria dizer, por absurdo, que o Estado poderia aumentar impostos cada vez que construísse uma escola ou um hospital.
Aquilo que vamos observando no modo como os agentes públicos têm promovido obra pública, tanto a nível central como local, tem sido a enorme falta de cultura de gestão e de sensibilidade quanto ao rigor que lhes seria exigido no planeamento da aplicação dos dinheiros públicos. E um dos problemas centrais reside exactamente no entendimento que fazemos, colectivamente, do Estado enquanto entidade abstracta. Em boa verdade, o Estado só existe porque colectivamente o pagamos – e porque esses dinheiros são fruto da produção e do trabalho de muitos, quem exerce funções públicas devia ter sobre si a responsabilidade singular de utilizá-los com enorme rigor e seriedade.
Voltarei ao tema para reflectir sobre exemplos concretos e sobre a necessidade de alterar toda uma cultura de más práticas de gestão que se instalou nas últimas décadas neste domínio e que, pese embora o enorme problema de liquidez que aflige hoje o Estado Português, parece persistir até ao limite do insustentável, com consequências dramáticas para o futuro de todos.
Da blogosfera para a atmosfera
De que falamos quando falamos sobre os blogues? Como encarar essa constelação tão diversa de conteúdos que tem em comum o facto único de partilhar uma imensa infra-estrutura de conexões em rede?
Se falamos das vicissitudes da blogosfera portuguesa, então tratamos de um assunto bem específico e distante do emaranhado dessa rede interminável. Num panorama onde nunca se afirmou uma cultura ou uma ética blogue, o espaço online tornou-se na caricatura de uma horizontalidade sem referências que vai dando corpo a uma devastadora terraplanagem intelectual, um espaço de relativização absoluta onde tudo vale o mesmo e já nada tem valor. De resto, até o diálogo assertivo e recíproco se revela tantas vezes uma impossibilidade real. A blogosfera nacional alimenta-se do conflito, de uma dissimulação identitária que se exprime no acknowledgment do grupo, meras lógicas de rejeição ou colagem que nada têm de expressão intelectual ou troca de opinião. Nesse território opaco até a hiperligação vai sendo negligenciada, perdendo-se aquela que é uma instituição única da rede quando comparada com outros suportes de comunicação: a capacidade de estabelecer ligações.
A esse respeito, e sobre as particularidades com que o fenómeno dos blogues se instalou em Portugal, Pacheco Pereira apresentou um retrato da paisagem que nos rodeia:
Não é por se usar a mesma ferramenta de software que os americanos, brasileiros, japoneses e chineses que deixamos de ser portugueses, de levar para lá o nosso mundo exterior. Não somos ricos na Rede se somos pobres cá fora, não somos sofisticados em linha, se somos trogloditas cá fora, não sabemos mais e pensamos melhor nas páginas do Blogger do que pensamos cá fora, nos cafés de província, ou no Bairro Alto ou no Lux ou nas páginas dos jornais, não se é cosmopolita lá dentro se se é provinciano cá fora, não se é subserviente cá fora e independente no ecrã diante do computador, não se é burro cá fora e inteligente lá dentro.
O que se passa é que esse verdadeiro mostruário em linha, feito de mil egos à solta, revela mesmo a nossa pobreza, a nossa rudeza, a falta de independência face aos poderosos, grandes, pequenos e médios, os péssimos hábitos de pensar a falta de estudos e trabalho, de leitura e de "mundo", que caracterizam o nosso "Portugalinho". Nem podia ser de outra maneira. Com a diferença que nos blogues o retrato é mais brutal porque mais arrogante e mais solto, ou pelo anonimato, ou pela completa falta de noção de si próprio de quem, por poder escrever sem edição para os milhões de leitores potenciais da Rede, acha que é crítico de cinema instantâneo, engraçadista brilhante, analista político, escritor genial de aforismos, herói único da denúncia dos males do mundo, e portador de todas as soluções que só não são aplicadas porque os outros, a começar pelo blogue do lado e a acabar no fim do mundo, são todos corruptos, vendidos e tristes. [Abrupto: A cultura de blogue nacional]
Pese embora a verdade destas palavras, será um erro descurar o poder dos blogues como veículos capazes de nos ligar a uma poderosa rede de troca de pensamento, tanto pelas imensas possibilidades de acesso a informação como pela oportunidade de projectar conteúdos “lá dentro” – um equívoco, aliás, que o próprio Pacheco Pereira não comete. Mais do que isso, será um erro maior ignorar que muitas das patologias que afectam a blogosfera são um prolongamento de fenómenos bem entranhados no país que existe “lá fora”.
Aquilo a que se refere o Nuno Grande não terá tanto a ver com esse universo abrangente que é, em boa verdade, a blogosfera – também de arquitectura, território onde dificilmente poderemos descurar coisas como o BLDGBLOG, o Subtopia, o City of Sound, o Life Without Buildings, o Lewism ou o Progressive Reactionary, entre tantos outros. Não esquecendo o blogue de crítica de arquitectura, pura e dura, redigido – e muitas vezes ilustrado – pelo Lebbeus Woods.
Essa blogosfera de arquitectura – infinitamente mais vasta e espalhada pelo mundo – dá corpo ao que de melhor tem a internet enquanto extensão possível e prometedora de uma economia baseada em conhecimento. Com formas e registos diversos, os blogues não estão necessariamente sujeitos ao imediatismo e apenas com um olhar restrito poderemos defender que estão isentos do escrutínio. Se eles se apresentam como plataformas de auto-publicação, estão igualmente sujeitos a formas espontâneas de referenciação e valorização, dentro e fora da rede.
Nada impede que nessa infra-estrutura se possa desenvolver o exercício da crítica e que isso possa ser feito em Portugal, como o demonstra João Lopes a propósito da cultura da imagem e, também, especificamente sobre cibercultura, no Sound + Vision. E nada impede, de igual modo, que isso possa ser feito em relação à arquitectura. Já aconteceu no passado com o Epiderme do Pedro Jordão, porventura o melhor blogue de arquitectura que se produziu entre nós.
O que decorre, no entanto, da argumentação de Nuno Grande é uma forma algo paternalista no modo de abordar a blogosfera – ou, dito de outra forma, os blogues – sem se considerar a complexidade que o próprio termo encerra. Em qualquer disciplina, fazer crítica dá trabalho... pressupõe investigação, leitura, consulta de fontes, entrevista, debate, confrontação, refere. Todas estas coisas se podem encontrar em qualquer dos blogues atrás citados. É certo que os blogues não estão sujeitos aos constrangimentos de uma supervisão editorial - com toda a responsabilidade pública que esse exercício encerra - não estando por isso dependentes do seu escrutínio prévio. Não sendo assim formas institucionalmente creditadas de certificação de conteúdos, os blogues apresentam um enorme potencial para o diálogo assertivo e directo - não me referindo aqui ao "comentário" mas ao tipo de discurso de escrita que um suporte de expressão pessoal permite, muito diverso daquele que podemos encontrar no domínio da publicação escrita.
Os blogues, para o bem e para o mal, não têm monitores e não respondem perante ninguém. É essa a sua força e, como será fácil compreender, a sua fraqueza, mas a sua importância reside nisso mesmo: no facto de viverem numa posição exterior face aos outros suportes de comunicação. Acima de tudo, os blogues exprimem-se com uma voz pessoal, têm um ponto de vista. No seu imediatismo, na sua subjectividade, são um exercício cheio de potencial para estabelecer ligações e escrutiná-las num espaço público, imediato e, tantas vezes, contraditório.
Não devemos esperar que os blogues se tornem num espaço alternativo, em competição com a publicação escrita e, muito menos, com a crítica. Mal daqueles que abandonem a pesquisa de saber, nos jornais, nas revistas, nos livros, e julguem poder construir conhecimento nos posts de um blogue. Mas estes podem complementar a transmissão e reflexão de conteúdos, permitindo, quando sucedidos, criar uma cadeia de comunicação na sua pequena comunidade de ligações, aberta a todos. Deveríamos assim, bloggers e não bloggers, reconhecer os pontos fortes de uns e de outros, e contribuir para melhorar a rede de pensamento que a nova paisagem digital permite estabelecer.
* * *
No que ao meu blogue se refere o texto original do Pedro Machado Costa, não deixo de sentir alguma perplexidade por se fazer apontamento de um desabafo ocasional e pouco recorrente como exemplo dessa incapacidade de estabelecer um diálogo mais sério na blogosfera, neste caso em torno da arquitectura. A nossa blogosfera é rica de exemplos em que o desabafo constante serve de registo e imagem de marca a formas de expressão pessoal.
Tendo em conta o contexto da discussão, talvez importe observar que este blogue não é um espaço de crítica de arquitectura, antes um espaço de opinião e divulgação de conteúdos. Nos seus bons momentos, A Barriga de um Arquitecto serviu como reflexo das minhas aventuras pelo mundo online, motivado unicamente por encontrar bom material e partilhá-lo. De resto, serve para falar dos temas que me interessam e preocupam, seja o planeamento territorial, o urbanismo, a política de obras públicas, a gestão urbanística, as práticas de licenciamento, a cultura da imagem e, até, a crítica, entre tantas outras coisas. E, já agora, dos ecos de uma trienal.
Como blogger sei bem do que fala o Pedro quando se lamenta da falta de reciprocidade que encontra nas suas reflexões. Talvez tenha razão o autor do Ma-Shamba quando escreveu, em tempos, que um blogue é uma ilusão, a ilusão de ser lido. Ou talvez sejam temas que não motivam o interesse dos outros arquitectos bloggers, ou de quem escreve nas revistas da especialidade. E eu não tenho de me queixar, pois encontro igual interesse nas coisas que escrevem e, evidentemente, preferem.
Não é pelo facto de, tal como o Geof Manaugh, escrever um blogue, que tenho a ilusão de estar a fazer um BLDGBLOG. Como não é pelo facto de organizarmos conferências, convidarmos figuras de renome internacional, e falarmos ao seu lado, que estamos, de igual para igual, a fazer e a pensar sobre as mesmas coisas. Escrevo um blogue porque não sei passar sem ele. E que por isso me entrego à meritocracia subjectiva da blogosfera, perdendo-me, e por vezes encontrando-me, nessa implacável forma de selecção natural que é o mundo nebuloso da rede em que vivemos.
Se falamos das vicissitudes da blogosfera portuguesa, então tratamos de um assunto bem específico e distante do emaranhado dessa rede interminável. Num panorama onde nunca se afirmou uma cultura ou uma ética blogue, o espaço online tornou-se na caricatura de uma horizontalidade sem referências que vai dando corpo a uma devastadora terraplanagem intelectual, um espaço de relativização absoluta onde tudo vale o mesmo e já nada tem valor. De resto, até o diálogo assertivo e recíproco se revela tantas vezes uma impossibilidade real. A blogosfera nacional alimenta-se do conflito, de uma dissimulação identitária que se exprime no acknowledgment do grupo, meras lógicas de rejeição ou colagem que nada têm de expressão intelectual ou troca de opinião. Nesse território opaco até a hiperligação vai sendo negligenciada, perdendo-se aquela que é uma instituição única da rede quando comparada com outros suportes de comunicação: a capacidade de estabelecer ligações.
A esse respeito, e sobre as particularidades com que o fenómeno dos blogues se instalou em Portugal, Pacheco Pereira apresentou um retrato da paisagem que nos rodeia:
Não é por se usar a mesma ferramenta de software que os americanos, brasileiros, japoneses e chineses que deixamos de ser portugueses, de levar para lá o nosso mundo exterior. Não somos ricos na Rede se somos pobres cá fora, não somos sofisticados em linha, se somos trogloditas cá fora, não sabemos mais e pensamos melhor nas páginas do Blogger do que pensamos cá fora, nos cafés de província, ou no Bairro Alto ou no Lux ou nas páginas dos jornais, não se é cosmopolita lá dentro se se é provinciano cá fora, não se é subserviente cá fora e independente no ecrã diante do computador, não se é burro cá fora e inteligente lá dentro.
O que se passa é que esse verdadeiro mostruário em linha, feito de mil egos à solta, revela mesmo a nossa pobreza, a nossa rudeza, a falta de independência face aos poderosos, grandes, pequenos e médios, os péssimos hábitos de pensar a falta de estudos e trabalho, de leitura e de "mundo", que caracterizam o nosso "Portugalinho". Nem podia ser de outra maneira. Com a diferença que nos blogues o retrato é mais brutal porque mais arrogante e mais solto, ou pelo anonimato, ou pela completa falta de noção de si próprio de quem, por poder escrever sem edição para os milhões de leitores potenciais da Rede, acha que é crítico de cinema instantâneo, engraçadista brilhante, analista político, escritor genial de aforismos, herói único da denúncia dos males do mundo, e portador de todas as soluções que só não são aplicadas porque os outros, a começar pelo blogue do lado e a acabar no fim do mundo, são todos corruptos, vendidos e tristes. [Abrupto: A cultura de blogue nacional]
Pese embora a verdade destas palavras, será um erro descurar o poder dos blogues como veículos capazes de nos ligar a uma poderosa rede de troca de pensamento, tanto pelas imensas possibilidades de acesso a informação como pela oportunidade de projectar conteúdos “lá dentro” – um equívoco, aliás, que o próprio Pacheco Pereira não comete. Mais do que isso, será um erro maior ignorar que muitas das patologias que afectam a blogosfera são um prolongamento de fenómenos bem entranhados no país que existe “lá fora”.
Aquilo a que se refere o Nuno Grande não terá tanto a ver com esse universo abrangente que é, em boa verdade, a blogosfera – também de arquitectura, território onde dificilmente poderemos descurar coisas como o BLDGBLOG, o Subtopia, o City of Sound, o Life Without Buildings, o Lewism ou o Progressive Reactionary, entre tantos outros. Não esquecendo o blogue de crítica de arquitectura, pura e dura, redigido – e muitas vezes ilustrado – pelo Lebbeus Woods.
Essa blogosfera de arquitectura – infinitamente mais vasta e espalhada pelo mundo – dá corpo ao que de melhor tem a internet enquanto extensão possível e prometedora de uma economia baseada em conhecimento. Com formas e registos diversos, os blogues não estão necessariamente sujeitos ao imediatismo e apenas com um olhar restrito poderemos defender que estão isentos do escrutínio. Se eles se apresentam como plataformas de auto-publicação, estão igualmente sujeitos a formas espontâneas de referenciação e valorização, dentro e fora da rede.
Nada impede que nessa infra-estrutura se possa desenvolver o exercício da crítica e que isso possa ser feito em Portugal, como o demonstra João Lopes a propósito da cultura da imagem e, também, especificamente sobre cibercultura, no Sound + Vision. E nada impede, de igual modo, que isso possa ser feito em relação à arquitectura. Já aconteceu no passado com o Epiderme do Pedro Jordão, porventura o melhor blogue de arquitectura que se produziu entre nós.
O que decorre, no entanto, da argumentação de Nuno Grande é uma forma algo paternalista no modo de abordar a blogosfera – ou, dito de outra forma, os blogues – sem se considerar a complexidade que o próprio termo encerra. Em qualquer disciplina, fazer crítica dá trabalho... pressupõe investigação, leitura, consulta de fontes, entrevista, debate, confrontação, refere. Todas estas coisas se podem encontrar em qualquer dos blogues atrás citados. É certo que os blogues não estão sujeitos aos constrangimentos de uma supervisão editorial - com toda a responsabilidade pública que esse exercício encerra - não estando por isso dependentes do seu escrutínio prévio. Não sendo assim formas institucionalmente creditadas de certificação de conteúdos, os blogues apresentam um enorme potencial para o diálogo assertivo e directo - não me referindo aqui ao "comentário" mas ao tipo de discurso de escrita que um suporte de expressão pessoal permite, muito diverso daquele que podemos encontrar no domínio da publicação escrita.
Os blogues, para o bem e para o mal, não têm monitores e não respondem perante ninguém. É essa a sua força e, como será fácil compreender, a sua fraqueza, mas a sua importância reside nisso mesmo: no facto de viverem numa posição exterior face aos outros suportes de comunicação. Acima de tudo, os blogues exprimem-se com uma voz pessoal, têm um ponto de vista. No seu imediatismo, na sua subjectividade, são um exercício cheio de potencial para estabelecer ligações e escrutiná-las num espaço público, imediato e, tantas vezes, contraditório.
Não devemos esperar que os blogues se tornem num espaço alternativo, em competição com a publicação escrita e, muito menos, com a crítica. Mal daqueles que abandonem a pesquisa de saber, nos jornais, nas revistas, nos livros, e julguem poder construir conhecimento nos posts de um blogue. Mas estes podem complementar a transmissão e reflexão de conteúdos, permitindo, quando sucedidos, criar uma cadeia de comunicação na sua pequena comunidade de ligações, aberta a todos. Deveríamos assim, bloggers e não bloggers, reconhecer os pontos fortes de uns e de outros, e contribuir para melhorar a rede de pensamento que a nova paisagem digital permite estabelecer.
No que ao meu blogue se refere o texto original do Pedro Machado Costa, não deixo de sentir alguma perplexidade por se fazer apontamento de um desabafo ocasional e pouco recorrente como exemplo dessa incapacidade de estabelecer um diálogo mais sério na blogosfera, neste caso em torno da arquitectura. A nossa blogosfera é rica de exemplos em que o desabafo constante serve de registo e imagem de marca a formas de expressão pessoal.
Tendo em conta o contexto da discussão, talvez importe observar que este blogue não é um espaço de crítica de arquitectura, antes um espaço de opinião e divulgação de conteúdos. Nos seus bons momentos, A Barriga de um Arquitecto serviu como reflexo das minhas aventuras pelo mundo online, motivado unicamente por encontrar bom material e partilhá-lo. De resto, serve para falar dos temas que me interessam e preocupam, seja o planeamento territorial, o urbanismo, a política de obras públicas, a gestão urbanística, as práticas de licenciamento, a cultura da imagem e, até, a crítica, entre tantas outras coisas. E, já agora, dos ecos de uma trienal.
Como blogger sei bem do que fala o Pedro quando se lamenta da falta de reciprocidade que encontra nas suas reflexões. Talvez tenha razão o autor do Ma-Shamba quando escreveu, em tempos, que um blogue é uma ilusão, a ilusão de ser lido. Ou talvez sejam temas que não motivam o interesse dos outros arquitectos bloggers, ou de quem escreve nas revistas da especialidade. E eu não tenho de me queixar, pois encontro igual interesse nas coisas que escrevem e, evidentemente, preferem.
Não é pelo facto de, tal como o Geof Manaugh, escrever um blogue, que tenho a ilusão de estar a fazer um BLDGBLOG. Como não é pelo facto de organizarmos conferências, convidarmos figuras de renome internacional, e falarmos ao seu lado, que estamos, de igual para igual, a fazer e a pensar sobre as mesmas coisas. Escrevo um blogue porque não sei passar sem ele. E que por isso me entrego à meritocracia subjectiva da blogosfera, perdendo-me, e por vezes encontrando-me, nessa implacável forma de selecção natural que é o mundo nebuloso da rede em que vivemos.
Arquitectura do défice
Dois terços da minha vida profissional foram passados no Estado. Hoje, uma grande parte do meu trabalho na função pública – talvez mesmo a mais importante – consiste na produção de programas e cadernos de encargos de concurso para a elaboração de projectos de arquitectura.
Aquilo que eu e a equipa com que trabalho procuramos fazer é detalhar, tanto quanto possível, os objectivos, as necessidades, mas também todas as contingências que enquadram uma determinada obra. Por vezes esse esforço obriga a avançar um pouco pelo projecto adentro, desenvolvendo uma planificação conceptual ao nível de estudo prévio ou anteprojecto, mas mais importante do que isso, o elemento crucial reside em estabelecer o equilíbrio correcto entre o desejo daquilo que se pretende ver projectado e o enquadramento objectivo da gestão funcional e financeira em que a obra se deve vir a desenvolver.
Diria, em resumo, que a parte mais importante do meu trabalho consiste em poupar dinheiro ao Estado ou, pelo menos, garantir uma adequada aplicação dos seus meios financeiros na procura em obter a melhor qualidade possível. Não é um trabalho fácil e aprender a fazê-lo bem feito tem sido uma tarefa de vários anos. Trabalhar com as contingências é um acto contra-natura para os arquitectos. Em geral procuramos encontrar modos de fugir ao que chamamos de condicionantes. A minha missão tem sido fazer o oposto. Abraçar essas condicionantes e fazer delas uma parte determinante do encontro das soluções de arquitectura.
Uma das maiores fragilidades na promoção de arquitectura (e urbanismo) por parte das muitas entidades estatais – ministérios, autarquias e demais instituições públicas – reside na programação débil dos projectos que desenvolvem. Poucos parecem compreender que o projecto de arquitectura é algo que começa muito antes de uma concepção formal ou mesmo de um organigrama de funções. Que o acto de promover algo depende de uma necessidade profunda de contextualização das suas necessidades, da procura, das tendências da comunidade, do espaço e da sua utência futura. Para que essa contextualização seja possível é fundamental que os promotores desse processo, aqueles que o influenciam e que tomam decisões, sejam, de alguma forma, parte da equipa. Se não há bons projectos sem bons arquitectos, tal é igualmente impossível na ausência de bons promotores que conheçam a fundo aquilo sobre o qual estão a decidir.
Desconheço a atenção que os outros órgãos do Estado dão a este trabalho e o rigor com que o desenvolvem. O que observo são repetidos exemplos de desproporção dos investimentos relativamente às capacidades operativas que apresentam na sua vida funcional. Quanto maiores as obras, mais dramáticas se tornam as consequências financeiras da sua execução. Infelizmente, também parecem ser os maiores investimentos os que mais latitude oferecem aos seus projectistas. No vazio programático, os arquitectos tomam por vezes decisões que consomem recursos sem fundamentação racional e que resultam na gestão difícil, tantas vezes deficitária, da sua vida futura.
Podemos considerar que a responsabilidade derradeira por este problema pertence, em exclusivo, aos promotores, aos decisores públicos. Mas podem os arquitectos, enquanto classe, apresentar-se perante a sociedade como observadores inocentes deste fenómeno? A ideia que a boa obra, formal, de arquitectura, tudo justifica, é afinal uma ilusão que vamos alimentando mais do que quaisquer outros. Eu, pelo menos, ainda não ouvi ninguém queixar-se.
Aquilo que eu e a equipa com que trabalho procuramos fazer é detalhar, tanto quanto possível, os objectivos, as necessidades, mas também todas as contingências que enquadram uma determinada obra. Por vezes esse esforço obriga a avançar um pouco pelo projecto adentro, desenvolvendo uma planificação conceptual ao nível de estudo prévio ou anteprojecto, mas mais importante do que isso, o elemento crucial reside em estabelecer o equilíbrio correcto entre o desejo daquilo que se pretende ver projectado e o enquadramento objectivo da gestão funcional e financeira em que a obra se deve vir a desenvolver.
Diria, em resumo, que a parte mais importante do meu trabalho consiste em poupar dinheiro ao Estado ou, pelo menos, garantir uma adequada aplicação dos seus meios financeiros na procura em obter a melhor qualidade possível. Não é um trabalho fácil e aprender a fazê-lo bem feito tem sido uma tarefa de vários anos. Trabalhar com as contingências é um acto contra-natura para os arquitectos. Em geral procuramos encontrar modos de fugir ao que chamamos de condicionantes. A minha missão tem sido fazer o oposto. Abraçar essas condicionantes e fazer delas uma parte determinante do encontro das soluções de arquitectura.
Uma das maiores fragilidades na promoção de arquitectura (e urbanismo) por parte das muitas entidades estatais – ministérios, autarquias e demais instituições públicas – reside na programação débil dos projectos que desenvolvem. Poucos parecem compreender que o projecto de arquitectura é algo que começa muito antes de uma concepção formal ou mesmo de um organigrama de funções. Que o acto de promover algo depende de uma necessidade profunda de contextualização das suas necessidades, da procura, das tendências da comunidade, do espaço e da sua utência futura. Para que essa contextualização seja possível é fundamental que os promotores desse processo, aqueles que o influenciam e que tomam decisões, sejam, de alguma forma, parte da equipa. Se não há bons projectos sem bons arquitectos, tal é igualmente impossível na ausência de bons promotores que conheçam a fundo aquilo sobre o qual estão a decidir.
Desconheço a atenção que os outros órgãos do Estado dão a este trabalho e o rigor com que o desenvolvem. O que observo são repetidos exemplos de desproporção dos investimentos relativamente às capacidades operativas que apresentam na sua vida funcional. Quanto maiores as obras, mais dramáticas se tornam as consequências financeiras da sua execução. Infelizmente, também parecem ser os maiores investimentos os que mais latitude oferecem aos seus projectistas. No vazio programático, os arquitectos tomam por vezes decisões que consomem recursos sem fundamentação racional e que resultam na gestão difícil, tantas vezes deficitária, da sua vida futura.
Podemos considerar que a responsabilidade derradeira por este problema pertence, em exclusivo, aos promotores, aos decisores públicos. Mas podem os arquitectos, enquanto classe, apresentar-se perante a sociedade como observadores inocentes deste fenómeno? A ideia que a boa obra, formal, de arquitectura, tudo justifica, é afinal uma ilusão que vamos alimentando mais do que quaisquer outros. Eu, pelo menos, ainda não ouvi ninguém queixar-se.
Escrita nas paredes
Expression é uma instalação interactiva do Studio 2Roqs, uma projecção de mensagens enviadas por SMS através das faces de dois edifícios. A instalação esteve exposta numa praça de Bordéus no passado mês de Maio, fazendo lembrar a Dreaming Wall, aqui publicada anteriormente. Descoberto no blogue espanhol Flores en el ático, também com versão tumblelog a não perder.
Nonsense
O texto do Tiago Mota Saraiva é uma tolice. Assim mesmo. Falo com a tranquilidade de quem não tem nada a ver a trienal. Mas aquela demagogia sobre o preço dos bilhetes é, à falta de melhor expressão, uma load of bull. Façam o trabalho de casa e comparem com o custo de participação em qualquer conferência de qualquer evento semelhante, no panorama europeu, e terão algumas surpresas. O Tiago podia, já agora, ter tido o rigor de explicar que o preço de inscrição é substancialmente mais baixo no caso de estudantes e estagiários. Mas compreendo que se estivesse incluído um concerto dos U2 já ninguém se queixava.
Quanto ao architect’s belly showroom – lolada – não comento, porque aí até é capaz de ter alguma razão…
Quanto ao architect’s belly showroom – lolada – não comento, porque aí até é capaz de ter alguma razão…
O sistema (está bem e recomenda-se)
Quando a realidade que nos rodeia assume contornos dramáticos – como os da actual crise, por exemplo – surgem reacções de perplexidade. Como foi possível chegar até aqui? Tais reacções esquecem o óbvio: um encadeamento de causas, factos e decisões que só poderiam conduzir a estas consequências. E que tais acções servem os interesses de um grande número de pessoas.
O filme brasileiro Tropa de Elite apresenta, a certa altura, um mosaico do negócio do tráfico de droga. É mesmo o maior motivo de interesse de todo o filme. Ali se retratam três mundos diferentes: os gangues do morro, a corrupção policial e a classe média-alta do Rio, em particular do meio universitário. Aquilo que nos é dado a ver é um sistema em perfeito funcionamento, uma cadeia de interesses de diversos intervenientes que actuam de forma convergente. Os motivos para tal são muito diversos, percorrendo um espectro que vai da ambição de poder à necessidade de sobrevivência. Mas nenhum desses “actores” – traficantes, polícia, jovens – é, por si só, ideólogo da violência. O crime brutal é uma consequência colateral da realidade do tráfico.
Outro aspecto interessante é o papel da força policial, o BOPE, naquele contexto. Não está em causa se a sua acção é certa ou errada; por vezes é mesmo altamente questionável. Mas ao actuar fora daquela pirâmide de interesses, este quarto actor choca com todos os outros fazendo despoletar uma inusitada violência. Eles são a anomalia na ordem estabelecida.
O que quero dizer é que quando olhamos para a pobreza, as desigualdades, as perplexidades que nos rodeiam nas actuais circunstâncias, esquecemos que todas essas consequências são o sub-produto de um sistema que funciona perfeitamente. Nele se estabeleceu uma rede de interesses que actua de forma colaborante e em que todos, de uma forma ou outra, participam. Partidos políticos, empresas, banca, estado e funcionários, corporações, ordens, sindicatos. Podemos não gostar das consequências que esse sistema produziu. Mas só uma enorme desatenção pode motivar qualquer perplexidade por algo que só podia ser evidente. O Portugal de hoje é um país em que ninguém está disposto a fazer concessões, seja em que circunstância for. Ninguém quer perder o seu estatuto, o seu poder, o seu conforto, a sua paz de espírito. E quase todos contribuíram num enquistar de interesses, optimizando as suas circunstâncias sem nunca medir os efeitos da sua acção individual.
Num tempo em que se fala de responsabilidade deveríamos questionar se a auto-regulação é possível em democracia. É isso que está em causa. Será possível à nossa democracia corrigir internamente os seus desvios, as suas disfunções, contra o próprio sistema que entretanto se estabeleceu? Ou estaremos condenados a mudar, de rojo, pela insolvência absoluta? As perspectivas parecem, hoje, pender para o lado da insustentabilidade, pondo em causa as noções de sociedade e democracia que pensávamos estar a construir.
Podemos não gostar do mundo em que vivemos. Mas não podemos dizer que estamos surpreendidos com tudo o que está a acontecer.
O filme brasileiro Tropa de Elite apresenta, a certa altura, um mosaico do negócio do tráfico de droga. É mesmo o maior motivo de interesse de todo o filme. Ali se retratam três mundos diferentes: os gangues do morro, a corrupção policial e a classe média-alta do Rio, em particular do meio universitário. Aquilo que nos é dado a ver é um sistema em perfeito funcionamento, uma cadeia de interesses de diversos intervenientes que actuam de forma convergente. Os motivos para tal são muito diversos, percorrendo um espectro que vai da ambição de poder à necessidade de sobrevivência. Mas nenhum desses “actores” – traficantes, polícia, jovens – é, por si só, ideólogo da violência. O crime brutal é uma consequência colateral da realidade do tráfico.
Outro aspecto interessante é o papel da força policial, o BOPE, naquele contexto. Não está em causa se a sua acção é certa ou errada; por vezes é mesmo altamente questionável. Mas ao actuar fora daquela pirâmide de interesses, este quarto actor choca com todos os outros fazendo despoletar uma inusitada violência. Eles são a anomalia na ordem estabelecida.
O que quero dizer é que quando olhamos para a pobreza, as desigualdades, as perplexidades que nos rodeiam nas actuais circunstâncias, esquecemos que todas essas consequências são o sub-produto de um sistema que funciona perfeitamente. Nele se estabeleceu uma rede de interesses que actua de forma colaborante e em que todos, de uma forma ou outra, participam. Partidos políticos, empresas, banca, estado e funcionários, corporações, ordens, sindicatos. Podemos não gostar das consequências que esse sistema produziu. Mas só uma enorme desatenção pode motivar qualquer perplexidade por algo que só podia ser evidente. O Portugal de hoje é um país em que ninguém está disposto a fazer concessões, seja em que circunstância for. Ninguém quer perder o seu estatuto, o seu poder, o seu conforto, a sua paz de espírito. E quase todos contribuíram num enquistar de interesses, optimizando as suas circunstâncias sem nunca medir os efeitos da sua acção individual.
Num tempo em que se fala de responsabilidade deveríamos questionar se a auto-regulação é possível em democracia. É isso que está em causa. Será possível à nossa democracia corrigir internamente os seus desvios, as suas disfunções, contra o próprio sistema que entretanto se estabeleceu? Ou estaremos condenados a mudar, de rojo, pela insolvência absoluta? As perspectivas parecem, hoje, pender para o lado da insustentabilidade, pondo em causa as noções de sociedade e democracia que pensávamos estar a construir.
Podemos não gostar do mundo em que vivemos. Mas não podemos dizer que estamos surpreendidos com tudo o que está a acontecer.
Freud, o boneco de acção
Enquanto não passamos para coisas mais sérias, que tal buscar um pouco de entretenimento brincando com esta – a derradeira – colecção de bonecos de acção. Afinal os intelectuais também podem ser geeks. Via Coudal.
Street View, a privacidade e os portugueses
Apesar das aparências, a escultura de João Cutileiro é o único conteúdo pornográfico desta imagem (entretanto retirada do Google Street View).
Muitos portugueses parecem ser sensíveis quanto à possibilidade de se verem fotografados nas ruas e praças das nossas cidades. Os outros, presumo, estão a publicar fotos no Facebook em fato de banho. Seja como for, de tempos a tempos regressa a polémica sobre as questões da privacidade no que respeita à filmagem e captura de imagens em locais públicos, tema que chega a motivar inquietação em certos sectores partidários e da opinião pública.
Os motivos que sustentam essas tomadas de posição são discutíveis, em especial quando estão em causa razões de segurança como a investigação criminal, a dissuasão do vandalismo ou a prevenção de incêndios, apenas para citar alguns exemplos. De resto, ou algo me está a escapar, ou não tenho em conta que os portugueses sejam um povo assim tão interessante, dedicado à prática de actividades de questionável recorte em plena via pública. Certo é que, no caso do serviço Street View, a diligente Comissão Nacional de Protecção de Dados não parece disposta a cessar de colocar entraves à recolha de imagens pelo Google.
O interesse público do Street View não é difícil de demonstrar. Tendo em conta que o Código Civil Português contempla o direito ao registo de imagem no âmbito da reprodução de lugares públicos, bem como para fins didácticos ou culturais, e que o Google tem a preocupação adicional em desfocar as caras das pessoas bem como as matrículas dos automóveis, dificilmente se pode alegar que o Street View viole o direito à imagem estabelecido pela nossa legislação (Artigo 79º do CCP). A CNPD alega a falibilidade do software de edição automática de imagem do Google, existindo casos em que a desfocagem não é plenamente sucedida. Como resultado, Portugal continua uma espécie de deserto no mapa azul do Street View, juntando-se à Alemanha, Irlanda e Luxemburgo para fazer parte do grupo de melindrosos da Europa Ocidental. Salva-se Lisboa e Porto, porque até na Internet o resto é paisagem.
Logicamente insustentável
Sentado na área de restauração de um qualquer centro comercial dou por mim a observar as pessoas que me rodeiam. A reduzida disponibilidade de mesas livres origina uma pequena altercação entre um casal que se abeirava de uma mesa vaga, de tabuleiros na mão, e um outro grupo que se antecipou para reservar a mesa e não arredou pé. Eis um pequeno exemplo da nossa falta de atenção para a vida em comunidade. Não apenas pela faceta comportamental do episódio, mas pela própria lógica que lhe está assente.
Consideremos que duas pessoas ocupam uma mesa de dois lugares durante dez minutos, em média, para uma refeição. Isto significa que cada mesa terá uma utência máxima de doze pessoas por hora.
Imaginemos agora que cada um desses pequenos grupos decide reservar a mesa, tomando cinco minutos de espera (enquanto cada um vai buscar a sua refeição) e depois dez minutos para comer, num total de quinze minutos. Cada mesa passou agora a ter uma utência máxima de oito pessoas por hora, o que corresponde a uma redução para dois terços da capacidade inicial.
Independentemente do rigor dos números deste exercício, é certo que quanto mais pessoas reservarem as mesas, menos estarão disponíveis. Perante este facto – a percepção de que existem cada vez menos mesas disponíveis – mais pessoas estarão tentadas a fazer o mesmo. Ou seja, o mau comportamento promove o mau comportamento. E aquilo que parece fazer perfeito sentido, numa lógica individual, tem como resultante colectiva uma forma de insustentabilidade. No final, quando todas as pessoas adoptarem este comportamento, não existirão mesas disponíveis para todos.
Talvez não seja razoável alimentar a expectativa que as pessoas tenham presente a matemática na sua tomada de decisões pessoais. Mas devíamos questionar o modo como os comportamentos se estabelecem “por defeito”, no centro comercial, na estrada, na vida em geral, porque são essas pequenas lógicas adquiridas, sem qualquer sustentação, que são as mais difíceis de demover e os verdadeiros obstáculos a todas as campanhas de formação e informação com que julgamos poder resolver muitos problemas. Não estou a dizer que sei como fazê-lo, tão só que me parece uma tarefa bem mais difícil do que pode parecer à primeira vista.
Consideremos que duas pessoas ocupam uma mesa de dois lugares durante dez minutos, em média, para uma refeição. Isto significa que cada mesa terá uma utência máxima de doze pessoas por hora.
Imaginemos agora que cada um desses pequenos grupos decide reservar a mesa, tomando cinco minutos de espera (enquanto cada um vai buscar a sua refeição) e depois dez minutos para comer, num total de quinze minutos. Cada mesa passou agora a ter uma utência máxima de oito pessoas por hora, o que corresponde a uma redução para dois terços da capacidade inicial.
Independentemente do rigor dos números deste exercício, é certo que quanto mais pessoas reservarem as mesas, menos estarão disponíveis. Perante este facto – a percepção de que existem cada vez menos mesas disponíveis – mais pessoas estarão tentadas a fazer o mesmo. Ou seja, o mau comportamento promove o mau comportamento. E aquilo que parece fazer perfeito sentido, numa lógica individual, tem como resultante colectiva uma forma de insustentabilidade. No final, quando todas as pessoas adoptarem este comportamento, não existirão mesas disponíveis para todos.
Talvez não seja razoável alimentar a expectativa que as pessoas tenham presente a matemática na sua tomada de decisões pessoais. Mas devíamos questionar o modo como os comportamentos se estabelecem “por defeito”, no centro comercial, na estrada, na vida em geral, porque são essas pequenas lógicas adquiridas, sem qualquer sustentação, que são as mais difíceis de demover e os verdadeiros obstáculos a todas as campanhas de formação e informação com que julgamos poder resolver muitos problemas. Não estou a dizer que sei como fazê-lo, tão só que me parece uma tarefa bem mais difícil do que pode parecer à primeira vista.
Editorial
Dizem que os blogues, quando abandonados pelos seus autores, morrem. Assim pensava eu também, antecipando o abandono gradual de leitores, inevitável, perante a incapacidade em continuar a escrever que dominou a minha vida pessoal nestes últimos tempos. No entanto, fazendo essa coisa tão inconfessável como consultar as estatísticas, fui observando o regresso de leitores durante este mês de Setembro. Como deixar de imaginar o que lhes passará pela cabeça? Devem perguntar-se: afinal o que aconteceu com este tipo? Isto acaba assim, sem mais nem menos, sem uma palavra?
A Internet, é certo, tem vida própria. Bastaria olhar para a minha conta no Facebook, que raramente visito, mas que continua a crescer muito para lá do razoável. Mais de duzentos amigos? Este não sou eu com certeza!
Sei que com o blogue é diferente. Por aqui vão passando aqueles que me foram acompanhando por entre dilemas de edição, mudanças de humor, português e inglês, altos e baixos. Alguns deles, que eu não conheço pessoalmente, foram fazendo chegar um feedback de reclamações surpreendentemente afectivas, através de amigos e conhecidos e por email. Por isso me é devido um agradecimento a todos, individualmente, que me visitam com regularidade, não esquecendo aqueles que vão aguardando em silêncio pelo regresso do blogue. Foi a pensar em vocês que comecei igualmente a pensar nas razões porque comecei a escrever este blogue em primeiro lugar e a desejar escrever novamente.
Celebrando uma espécie de retorno às origens voltei um pouco atrás na formatação da página. Também voltarei a escrever mais em português deixando as traduções, quando disponíveis, apenas na página alternativa do bA para melhor facilidade de leitura. O meu outro blogue escapista, dedicado a desenvolver alegremente a minha costela uber geek, continuará exclusivamente em inglês – e está a crescer rapidamente. De resto, mesmo quando não estou a escrever, estou quase sempre a ler, disponibilizando as coisas mais interessantes na página de itens partilhados do google reader, sempre acessível.
Até já…
A Internet, é certo, tem vida própria. Bastaria olhar para a minha conta no Facebook, que raramente visito, mas que continua a crescer muito para lá do razoável. Mais de duzentos amigos? Este não sou eu com certeza!
Sei que com o blogue é diferente. Por aqui vão passando aqueles que me foram acompanhando por entre dilemas de edição, mudanças de humor, português e inglês, altos e baixos. Alguns deles, que eu não conheço pessoalmente, foram fazendo chegar um feedback de reclamações surpreendentemente afectivas, através de amigos e conhecidos e por email. Por isso me é devido um agradecimento a todos, individualmente, que me visitam com regularidade, não esquecendo aqueles que vão aguardando em silêncio pelo regresso do blogue. Foi a pensar em vocês que comecei igualmente a pensar nas razões porque comecei a escrever este blogue em primeiro lugar e a desejar escrever novamente.
Celebrando uma espécie de retorno às origens voltei um pouco atrás na formatação da página. Também voltarei a escrever mais em português deixando as traduções, quando disponíveis, apenas na página alternativa do bA para melhor facilidade de leitura. O meu outro blogue escapista, dedicado a desenvolver alegremente a minha costela uber geek, continuará exclusivamente em inglês – e está a crescer rapidamente. De resto, mesmo quando não estou a escrever, estou quase sempre a ler, disponibilizando as coisas mais interessantes na página de itens partilhados do google reader, sempre acessível.
Até já…
Nowherescape
As if things weren’t slow enough around here, I’ve actually decided to start a new blog. It’s called Nowherescape and is focused on the issue of art and architecture in video games. The making of fictional landscapes – buildings, cities, planets – is becoming a central element of this new form of interactive entertainment. Games are starting to transcend the mere attainment of objectives to penetrate in the realm of inhabitance, architecture often becoming the driving force behind these simulated subjective experiences.
If this is a topic you find interesting, make sure to visit, bookmark, link or subscribe at your heart’s content. Hope you all enjoy.
De memória e ruínas
Image credits: Ruin’Arte. Scroll down to read this text in English.
Muitas coisas na bagagem virtual após várias semanas fora da rede. Fica, por agora, o destaque a uma página web descoberta um pouco ao acaso: o fotoblogue Ruin’Arte. Somando já diversas referências na imprensa nacional, este projecto do fotógrafo de publicidade e arquitectura Gastão de Brito e Silva tem vindo a tornar-se num inesperado catálogo de um património arquitectónico imenso entregue ao esquecimento e ao abandono.
O olhar romântico que atravessa as imagens do Ruin’Arte não deixa de revelar o sentido dramático de uma exposição sobre a nossa relação com o passado construído, cujos contornos contêm também uma dimensão social e política. Ali podemos encontrar edificações notáveis de cariz religioso, construções fabris, velhos solares palacianos, habitações rurais, inúmeros exemplos de desamor para com a nossa própria identidade.
Na sua entrada mais recente dá-se a conhecer a história da Casa do Passal, a residência de Aristides de Sousa Mendes em Cabanas do Viriato. A ruína daquela casa é um retrato da injustiça cometida sobre o próprio homem, um dos maiores heróis da nossa história.
O meu desejo é mais estar com Deus contra o homem, do que com o homem contra Deus - escreveu Aristides de Sousa Mendes ao justificar o seu incumprimento de instruções provenientes do governo de Portugal. A coragem com que deliberou emitir dezenas de milhares de vistos a refugiados de guerra, entre os quais se estima uma dezena de milhar de judeus, condenou-o à exoneração do cargo de cônsul em Bordéus. Ordenado a regressar a Portugal em 1940, Sousa Mendes regressa na sua própria viatura liderando uma coluna de veículos de refugiados que, dotados dos seus vistos e defendidos de forma dramática na fronteira, puderam finalmente ingressar em território nacional.
Muitos dos refugiados de Aristides terão passado pela Casa de Passal, registada agora no seu estado actual pelo autor do Ruin’Arte. Fica, com as imagens, o apelo que ali se deixa, para que a casa e a memória da vida de Aristides de Sousa Mendes possa encontrar a homenagem que tanto lhe continua a ser devida.
Image credits: Ruin’Arte.
Ruin’Arte is a Portuguese photoblog that is dedicated to the documentation of abandoned buildings. Noteworthy religious constructions, industrial structures, ancient palaces, noble countryside residences; many examples of an unfortunate disregard towards our heritage and history.
In its latest entry we are introduced to the story of the Casa do Passal, once the residence of Aristides de Sousa Mendes in the location of Cabanas do Viriato. The ruin of the house seems to resonate with the unfairness committed against him, one of the greatest heroes of our history.
I would rather stand with God against man, than with man against God - wrote Aristides de Sousa Mendes as he justified his disobedience to direct instructions from the Portuguese government at the outbreak of World War II. During his service in the consulate of Bordeaux, France, Aristides courageously issued thousands of visas to war refugees, among which are estimated over ten thousand Jews. For his actions, Aristides was discharged from his position and ordered to return to Portugal in 1940. He travels in his own automobile leading a column of vehicles of refugees, escaping from the Nazi occupied France and a certain deportation to concentration camps.
Many of the refugees of Aristides supposedly passed through the Casa do Passal. The house has been recently recorded in its current condition by the author of Ruin’Arte, leaving an appeal to its restoration in honor of the life and memory of Aristides de Sousa Mendes. Jump to Ruin’Arte for more pictures – it’s in Portuguese only but you can access it through Google Translate if you prefer.
These fine gentlemen
Image credits: Guillermo Pérez.
The fine gentleman of the Biel Ballester Trio, including the man himself, were here in Évora last night, performing as part of the Jazz na Cidade [Jazz in the City] festival. You may remember one of Biel Ballester’s compositions, the Formentera Bolero, composed for the film Vicky Cristina Barcelona. If it makes you curious, don’t miss the websites above to access additional music.
Mr. Serious
Moby, our world famous three-legged dog, plays cool at his latest visit to the vet. Isn’t he something?
Oh, and yeah. I'm back!
The Economist on blogging
Ah, what a strange creature I am. I should have figured out something was wrong with me the day I stopped reading architecture magazines and started to buy The Economist. Go figure.
As it happens, they’ve decided to take a look at the current state of the blogosphere – The Evolving Blogosphere: An Empire Gives Away (spotted via Kottke). Well, then, the question for today is: has Facebook and Twitter broken the blogs’ monopoly?
The Economist makes the common mistake of mixing both. Twitter probably stands on its own as a short message web-based service. It successfully blends personal thoughts with special-interest news sharing. It has a simple and intuitive interface, it’s blog-friendly and integrates all sorts of external applications with remarkable versatility. It’s a sure winner.
Facebook and its siblings are completely different products. They’ve assimilated the blog dynamic and gave the user the possibility to engage in a personal network. Blogs have a slow growth rate and the blogosphere can seem like a lonely place sometimes. But blogs actually operate as networks, they intersect, they allow the user to control its connections and information feeds. The social networking world is an opaque digital landscape; it forces you to move within its own system. So Facebook may be good for immediate conversations, offering instant gratification within your group of friends and a misleading sense of feedback. Blogs, however, stand as a forum for individual publishing and personal expression.
These monsters of social networking probably stand as the greatest threat the blogosphere has ever seen. The reasons for that, as The Economist fails to apprehend, is not in the numbers alone. It’s not just the fact that blogs may be loosing their share number of online readers but that social networking is establishing a very different kind of web culture. Blogs started and remain, to a great extent, independent endeavours. They are public domain. Social networks, on the other hand, have seized the blog format and turned it into a corporate culture product. They are private domain.
As it happens, they’ve decided to take a look at the current state of the blogosphere – The Evolving Blogosphere: An Empire Gives Away (spotted via Kottke). Well, then, the question for today is: has Facebook and Twitter broken the blogs’ monopoly?
The Economist makes the common mistake of mixing both. Twitter probably stands on its own as a short message web-based service. It successfully blends personal thoughts with special-interest news sharing. It has a simple and intuitive interface, it’s blog-friendly and integrates all sorts of external applications with remarkable versatility. It’s a sure winner.
Facebook and its siblings are completely different products. They’ve assimilated the blog dynamic and gave the user the possibility to engage in a personal network. Blogs have a slow growth rate and the blogosphere can seem like a lonely place sometimes. But blogs actually operate as networks, they intersect, they allow the user to control its connections and information feeds. The social networking world is an opaque digital landscape; it forces you to move within its own system. So Facebook may be good for immediate conversations, offering instant gratification within your group of friends and a misleading sense of feedback. Blogs, however, stand as a forum for individual publishing and personal expression.
These monsters of social networking probably stand as the greatest threat the blogosphere has ever seen. The reasons for that, as The Economist fails to apprehend, is not in the numbers alone. It’s not just the fact that blogs may be loosing their share number of online readers but that social networking is establishing a very different kind of web culture. Blogs started and remain, to a great extent, independent endeavours. They are public domain. Social networks, on the other hand, have seized the blog format and turned it into a corporate culture product. They are private domain.
Architecture in the age of incrementalism
Political science states the difference between rationalism and incrementalism. A rationalist approach aspires to create an ideal system, identifying the factors, elements or activities that are essential to its foundation and providing the necessary resources to put them into practice. The latter approach, of incremental nature, is based on a contrasting set of principles. It is founded in the belief that a perfect system is impossible to establish. To create a system from what already exists consequently becomes the challenge, starting from the available knowledge and means and, from these, gradually introduce the necessary changes in order to achieve the best possible outcome. In conclusion, one could say that these approaches reflect the difficulty in reconciling the ideal with the real.
Both approaches have benefits and disadvantages. A rationalist model can eliminate barriers and promote radical transformations, achieving greater impact and visibility. It is more likely, however, to disregard existing assets and know-how by virtue of impositive measures. On the other hand, an incremental philosophy may benefit communication and participation, suggesting a bottom-up model of governance, but it is also more permeable to popular views that are not always conducive to effective solutions. The incremental approach is more vulnerable to demagoguery.
Our academic culture promotes theoretical, rational methodologies, in detriment of a more grounded, preconditioned, form of thinking. It is easier to envision a theoretical model based on analysis and synthesis of a controlled set of variables than to elaborate from the complex reality that comprehends innumerous factors and a broad range of uncertainty. One of the problems we face, then, is a tendency to generate simplified models of thinking.
As architects, Modernism is still a big part of our intellectual heritage. In no other time in history was the notion of rationalism engaged so deeply. As a movement, Modernism was an attempt to face urgent problems within new urban realities. It was a world pressured by industrialization, primary issues of urban health, housing needs, the introduction of the automobile. The depression and the war dictated systematization and economic restraint, which reflected deeply in the principles and work of architects such as Gropius, Breuer, Mies, Aalto, men that would personify the theoretical core of the international style. But Modernism as an ideology was firmly grounded on a world dominated by the ideals of a powerful, leading State, in the realms of politics and economics.
We are very distant from the world these men lived and believed in. The political centers of government are no longer the most influent forces of society. In the face of an unparalleled post-global economic austerity, the institutions of central government are likely to lose further influence and authority. This is not unrelated to the way architecture is evolving, not only in its aesthetic dimension but as a force of social transformation.
As the architectural landscape of our times is being shaped by the media-driven corporate world, few real movements have been able of pushing forward a new paradigm of architectural production. Although new web-based communication structures and an open-source mentality have been feeding remarkable possibilities (the most noticeable of which is the example of Architecture for Humanity) such manifestations remain overlooked as a source of investigation by both academies and published opinion. These incremental architectural manifestations are disregarded as marginalized forms of practice, perceived by the critics as lacking influence within the sphere of architectural discourse. Undoubtedly, the Cameron Sinclair crew isn’t trying to appease the critics taste for aesthetic radicalism and intellectual edge. What they are doing is promoting ground-breaking global conversations that acknowledge the importance of small, cheap and impactful design processes. And they are actually trying to build stuff on communities that lack means and resources most of us would take for granted. So maybe it’s time for us to start questioning what being influent is all about. Do we aim to establish our names as brands and feature in magazine covers, or have a deeper impact in peoples lives instead. It’s a matter of choosing which role we, architects, choose to play in the future of our discipline and in the society we live in.
Both approaches have benefits and disadvantages. A rationalist model can eliminate barriers and promote radical transformations, achieving greater impact and visibility. It is more likely, however, to disregard existing assets and know-how by virtue of impositive measures. On the other hand, an incremental philosophy may benefit communication and participation, suggesting a bottom-up model of governance, but it is also more permeable to popular views that are not always conducive to effective solutions. The incremental approach is more vulnerable to demagoguery.
Our academic culture promotes theoretical, rational methodologies, in detriment of a more grounded, preconditioned, form of thinking. It is easier to envision a theoretical model based on analysis and synthesis of a controlled set of variables than to elaborate from the complex reality that comprehends innumerous factors and a broad range of uncertainty. One of the problems we face, then, is a tendency to generate simplified models of thinking.
As architects, Modernism is still a big part of our intellectual heritage. In no other time in history was the notion of rationalism engaged so deeply. As a movement, Modernism was an attempt to face urgent problems within new urban realities. It was a world pressured by industrialization, primary issues of urban health, housing needs, the introduction of the automobile. The depression and the war dictated systematization and economic restraint, which reflected deeply in the principles and work of architects such as Gropius, Breuer, Mies, Aalto, men that would personify the theoretical core of the international style. But Modernism as an ideology was firmly grounded on a world dominated by the ideals of a powerful, leading State, in the realms of politics and economics.
We are very distant from the world these men lived and believed in. The political centers of government are no longer the most influent forces of society. In the face of an unparalleled post-global economic austerity, the institutions of central government are likely to lose further influence and authority. This is not unrelated to the way architecture is evolving, not only in its aesthetic dimension but as a force of social transformation.
As the architectural landscape of our times is being shaped by the media-driven corporate world, few real movements have been able of pushing forward a new paradigm of architectural production. Although new web-based communication structures and an open-source mentality have been feeding remarkable possibilities (the most noticeable of which is the example of Architecture for Humanity) such manifestations remain overlooked as a source of investigation by both academies and published opinion. These incremental architectural manifestations are disregarded as marginalized forms of practice, perceived by the critics as lacking influence within the sphere of architectural discourse. Undoubtedly, the Cameron Sinclair crew isn’t trying to appease the critics taste for aesthetic radicalism and intellectual edge. What they are doing is promoting ground-breaking global conversations that acknowledge the importance of small, cheap and impactful design processes. And they are actually trying to build stuff on communities that lack means and resources most of us would take for granted. So maybe it’s time for us to start questioning what being influent is all about. Do we aim to establish our names as brands and feature in magazine covers, or have a deeper impact in peoples lives instead. It’s a matter of choosing which role we, architects, choose to play in the future of our discipline and in the society we live in.
Visual Acoustics, now on DVD
Visual Acoustics: The Modernism of Julius Shulman is a documentary film by Eric Bricker, now available on DVD (US release).
Architectural photography is often questioned on ethical terms regarding the conflict between the objective documentation of the built environment and the creative endeavour of the photographer. There is an underlying misconception at work that resonates with the idea that photographs are taken instead of made, a notion that implies the sense that the images themselves are already there. This false impression disregards the fact that the task of the photographer extends far beyond the mere capture of the real; the very translation of the physical world into the realm of photography requires a complex thread of choices considering multiple factors such as composition, lighting and exposure.
In a world dominated by digital culture and the widespread use of composite technology, the work of Julius Shulman remains a tribute to the creative and visionary dimension of photography as art. His visual records of modern architecture and urban L.A. are a negation of neutrality, presenting both an ostentatious glamour and style as well as a personal sense of mise-en-scène. These calculated images, often introducing characters and implicit narratives, revealed an author actively committed to the pursuit of a modernist iconography.
Visual Acoustics: The Modernism of Julius Shulman is a fascinating portrayal of the life and work of this self-taught master, revealing the memories and techniques behind his vision. The documentary revisits many of the houses photographed by Shulman in the past, capturing not only the buildings but the historical and sociological atmosphere that surrounded them. Trailer and additional details after the jump. Click to expand. [+/-]
The design bias
I don't think sustainability is a design aesthetic, any more than having electricity in your building, or telephones, or anything else. It's an ethic, a basic consideration that we have to have as architects designing buildings. (…) in 10 years we're not going to talk about sustainability anymore, because it's going to be built into the core processes of architecture.
This quote from Robert Stern circled through the web recently. The notion that sustainability will cease to be an issue within a decade is quite debatable but Stern raises an interesting argument. He is correct to claim that sustainability is not a design aesthetic. In fact, it is not even a design problem as much as it is an industrial one.
Some of the greatest energy impacts that can be quantified within the process of building are the outcome of the techniques applied during its construction. Also, just as important as the efficiency of the materials applied, is the energy footprint of their fabrication. And this poses a problem for us, architects, because it is still very hard to get precise data regarding these issues. But what is worse is that, for the most part, we are not really paying attention to any of this. We are instead focusing on sustainability as a design problem.
The reasons behind this lie in the foundations of our education. The central part of architectural learning relies in the notion of architecture as a process of design. We are formatted to solve problems through design. That is what makes us most distinctive from engineers. But, when regarding sustainability, this might pose a problem of thinking. We must begin to address this issue through quantifiable numbers. It is not something we can solve through formal creativity alone.
When facing these problems at an urban scale, the implications seem even more daunting. REX’s recent proposal for the LOW2NO urban development competition in Helsinki presents an interesting effort to deal with these issues in their full complexity. It is an extraordinarily ambitious project with great theoretical repercussions. It attempts to deal with the phenomena of city dispersion considering its implications to a wider notion of ecological balance. Joshua Prince-Ramus reminds us that building energy efficiency is a relatively small factor when compared to the carbon intensive lifestyles that accompany mass suburban migration. A problem that needs to be addressed beyond design, looking into the very decision making processes that guide the management of resources and the distribution of buildings and infrastructures in the territory.
Trying to connect
About a couple of months ago Bob Borson referenced me in one of his ever motivating posts as he contemplated the blogger’s million dollar question: How big is your blog? I’ve been wanting to give Bob some feedback on that topic but my life being crazy as it usually is, this time with a car crash in the middle to make things even more complicated, it’s been hard to get my thoughts together to write what I wanted to say. So, a bit late but still, here goes…
Bob started his blog – Life of an Architect – in January this year. If you haven’t visited it yet, you should. There’s some really great stuff going on there, not only because he is a truly diligent and prolific blogger but also because, as it turns out, he has very interesting friends as well. I’ve been thoroughly enjoying those guest articles although I would never make Bob’s mistake of letting my own wife write a post. Oho…
Anyways, just recently one of Bob’s friends, Derek Leavitt, wrote this interesting set of Rules for an Architect’s blog. It kind of goes full circle with his original post since writing a successful blog is about finding balance between what attracts readers and what makes the experience fulfilling to yourself. So, most likely quoting Mr. Miyagi, a personal blog is all about finding your own balance. And therefore the original question then becomes something like…
How big is big enough?
I started my own blog in December 2003. Now that’s a long time because, as we all know, blog years are like dog years. This blog has gone through many mutations and I’ve certainly made all sorts of mistakes in the process. But a couple of years ago I was making it big for an architecture-related blog, hitting the thousand daily visitors mark. Yep, those were the days because, for several different reasons, nowadays that average has been cut in half. And that’s okay.
Let me be honest about it. I’m not saying I’m happier for that fact. What I mean is that I’ve been trying to find that sense of balance, to find the reasons that drive my need to write a personal blog. And to me it has become a mixture of interrogations: who I’m writing to and who I’m trying to connect with. And the latter part of this equation really is a great measure of what makes a successful blog. Who are you reaching through the web? Who is tracking what you write and what feedback are you getting from it?
That has become a far more important measure of success than the single number of visitors one gets on a daily basis. And so I have come to realize that I’m trying to reach people who share similar interrogations, on architecture and life in general, and although I’ve been loosing ground on my home base of readers, the world map has been lighting up on my Analytics account. And it feels great.
As I face this new stage of my blogging experience, going through the set of rules outlined by Derek certainly makes a lot of sense to me. At the core of it lies the importance of humanizing the writing process. Simply put: be honest, be different. Share what you know. Share what you don’t know. A personal blog doesn’t have to be about yourself but it should be about your own vision, your doubts and your ideas. That’s what makes it universal, no matter where you are.
And if you stick to it, and keep learning and growing, people will come from all parts of the world. And in this nebulous landscape of the digital web, you will matter.
Bob started his blog – Life of an Architect – in January this year. If you haven’t visited it yet, you should. There’s some really great stuff going on there, not only because he is a truly diligent and prolific blogger but also because, as it turns out, he has very interesting friends as well. I’ve been thoroughly enjoying those guest articles although I would never make Bob’s mistake of letting my own wife write a post. Oho…
Anyways, just recently one of Bob’s friends, Derek Leavitt, wrote this interesting set of Rules for an Architect’s blog. It kind of goes full circle with his original post since writing a successful blog is about finding balance between what attracts readers and what makes the experience fulfilling to yourself. So, most likely quoting Mr. Miyagi, a personal blog is all about finding your own balance. And therefore the original question then becomes something like…
How big is big enough?
I started my own blog in December 2003. Now that’s a long time because, as we all know, blog years are like dog years. This blog has gone through many mutations and I’ve certainly made all sorts of mistakes in the process. But a couple of years ago I was making it big for an architecture-related blog, hitting the thousand daily visitors mark. Yep, those were the days because, for several different reasons, nowadays that average has been cut in half. And that’s okay.
Let me be honest about it. I’m not saying I’m happier for that fact. What I mean is that I’ve been trying to find that sense of balance, to find the reasons that drive my need to write a personal blog. And to me it has become a mixture of interrogations: who I’m writing to and who I’m trying to connect with. And the latter part of this equation really is a great measure of what makes a successful blog. Who are you reaching through the web? Who is tracking what you write and what feedback are you getting from it?
That has become a far more important measure of success than the single number of visitors one gets on a daily basis. And so I have come to realize that I’m trying to reach people who share similar interrogations, on architecture and life in general, and although I’ve been loosing ground on my home base of readers, the world map has been lighting up on my Analytics account. And it feels great.
As I face this new stage of my blogging experience, going through the set of rules outlined by Derek certainly makes a lot of sense to me. At the core of it lies the importance of humanizing the writing process. Simply put: be honest, be different. Share what you know. Share what you don’t know. A personal blog doesn’t have to be about yourself but it should be about your own vision, your doubts and your ideas. That’s what makes it universal, no matter where you are.
And if you stick to it, and keep learning and growing, people will come from all parts of the world. And in this nebulous landscape of the digital web, you will matter.
We love Denmark
You don’t need to travel to Shanghai to get a glimpse of the Danish Pavilion with this incredible time-lapse rollercoaster. When you’re finished, don’t forget to watch the UK Pavilion as well: here and here.
Art on the wall
Fragments of otherwise dormant urban fabric are brought to life by these eccentric figures. Sam3 (Spain), Os Gémeos (Brasil) and Blu (Italy) passed through Lisbon and left some inspired paintings on the walls of a couple of abandoned buildings. There are many of images to see on the web, just check the following links to get the idea: Stick2Target, Unurth, L (Flickr). Via Horizonte Artificial, People and Place.
Next: Collective Housing in progress
NEXT: Collective Housing in Progress is the latest book from a+t architecture publishers.
As the long established correlation between urban growth and economic development is becoming increasingly questioned, in the aftermath of a global economic crisis, architecture is looking into the processes that determine the ever changing built environment with renewed interest. Every act of architecture carries the possibility of transformation of its external reality. In this unfolding debate, collective housing once again claims its central role in the balance between the autonomous building and the world that surrounds it.
NEXT: Collective Housing in Progress, questions the programmatic complexity of contemporary architecture in its utmost urban implications. Although remarkably different in their approach, the projects now featured in this book carry the strong attempt to preserve the social qualities of architecture in a mutating economic environment. Variables like density, energy efficiency, transportation costs, new structures of technology and communications, all come into play in a conscious effort to redefine public life within the city. These are projects that seek to refill and regenerate the urban landscape, proposing programmatic indetermination, integration of social and cultural spaces, flexibility of uses and, ultimately, a call to intensity beyond density.
NEXT is the latest book from a+t’s Density series, featuring 30 European and American projects designed by 29 different young architectural practices, fully illustrated, detailed and analyzed through technical drawings and schematic diagrams. Visit a+t for additional information on this and other publications.
Atelier Data + MOOV: Forwarding Dallas, Dallas, United States, 2009-2012.
REX: Low2No, Helsinki, Finland, 2009.
Modostudio: Kilpailuohjelma, Lohja, Finland, 2008.
AllesWirdGut: Herzberg Public Housing, Vienna, Austria, 2007-2010.
Atelier Zündel & Cristea: Rue de Charenton Residences, Paris, France, 2007-2010.
The tyranny of common sense: Ken Robinson on TED
What’s there to say, really? It’s Ken Robinson. I personally love the man and vow to publish every presentation he delivers on TED for as long as I have a blog. He’s very funny but he delves into very serious issues. In this latest talk Ken Robinson makes the case for a radical change in the way we approach education and towards a greater sense of pursuit for that which moves us in life. Make sure to watch his outstanding TEDTalks – Ken Robinson says schools kill creativity and Bring on the learning revolution! – and don’t miss his previous presentation at the Hammer Lectures where he developed many of these ideas.
Ears to the wind
What a beautiful example of design motivated by the will to explore and interact with the natural environment. Inclusive Studio’s intervention on the austere landscape of the Parc Natural del Garraf in Cataluña is guided by principles of accessibility, delivering a path of sensorial discovery. The outstanding sound capturing trumpets reveal the echoes of the mountain, the frogs and the crickets, the wind in the trees. The touching wheels invite to discover the texture of the branches and the surface of the rocks. Don’t miss Inclusive Studio’s website for this and other projects. Via Edgar Gonzalez.
Rethinking city streets
It’s time to make our streets safer for everyone, purple creatures included.
The United States may be one the most motorized societies in the world but it is also witnessing a profound cultural transformation regarding the way city planners deal with the issue of transportation and its consequences on urban planning and street design. Streetfilms is a good starting place to discover many case-studies and good practice examples on a wide array of topics such as traffic calming , car-free design and pedestrian safety.
One of its latest videos – Fixing the Great Mistake: Autocentric Development – reveals the historical consequences of the implementation of wide roadways in New York in the first half of the 20th century. In the 1930’s and 40’s, virtually all major car lanes in the city were widened and the public sidewalks become greatly reduced, raising heated reactions from local residents.
Currently, the public administration is promoting a series of strategies to correct the mistakes inherited from decades of auto-centric development, to reclaim public space and improve the quality of life of its inhabitants. The revision of Times Square and the expansion of NYC’s Bike Network are the most visible projects of this undergoing urban design revolution.
San Francisco’s Pavement to Parks proposal is another interesting initiative – see People, Parklets, and Pavement to Parks. This urban program is promoting the conversion of parking areas into outdoor public spaces and cafes as an attempt to support commerce and social life in the local community.
The city of San Francisco has been developing a long-term plan towards sustainable mobility since 2006. The Better Streets Plan is a remarkable example of systematic codification of street typologies and urban practices. Its aim is to promote sustainable habits regarding transport in the urban neighborhood, establishing new forms of street design that invite multiple uses, including safe, active and ample spaces for pedestrians, bicycles and public transit. Access the Better Streets documentation page and download the plan draft to find more about it.
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OVERVIEW: Narrated by Dustin Hoffman, VISUAL ACOUSTICS celebrates the life and career of Julius Shulman, the world’s greatest architectural photographer, whose images brought modern architecture to the American mainstream. Shulman captured the work of nearly every major modern and progressive architect since the 1930s including Frank Lloyd Wright, Richard Neutra, John Lautner and Frank Gehry. His images epitomized the singular beauty of Southern California’s modernist movement and brought its iconic structures to the attention of the general public. This unique film is both a testament to the evolution of modern architecture and a joyful portrait of the magnetic, whip-smart gentleman who chronicled it with his unforgettable images.