Quarta-feira
Depois de cinicamente julgar esgotados o conteúdo e as possibilidades humanas do Movimento Moderno na arquitetura, aparece na Europa um novo lançamento: o Post-Modern, que pode ser definido como a Retromania, o complexo da impotência frente à impossibilidade de sair de um dos mais estarrecedores esforços humanos no Ocidente.
A vanguarda nas artes vive comendo os restos daquele grande Capital. A nova palavra de ordem é: “chupar ao máximo os princípios da documentação histórica reduzidos a consumo”. A Retromania impera, na Europa e nos Estados Unidos, absolvendo criticamente os penetras da arquitetura, que, desde o começo da industrialização gratificam as classes mais abastadas com as reciclagens espirituais do Passado. Cornijas, portais, frontões, trifórios e bífores, arcos romanos, góticos e árabes, colunas e cúpulas grandes e pequenas nunca deixaram de acompanhar num coro baixinho, discreto e sinistro, a marcha corajosa do Movimento Moderno brutalmente interrompida pela Segunda Guerra Mundial.
É história velha. Estão voltando os arcos e as colunas do nazi-fascismo, a história tomada como Monumento e não como Documento. (Michel Foucault: “L’Histoire esc ce qui transforme des Documents en Monuments”. É justamente o contrário : a História é aquilo que transforma os Monumentos em Documentos. Claro que Monumento não se refere somente a uma obra de arquitetura mas também as “ações coletivas” de grandes arranques sociais).
Conclusão: estamos ainda sob o céu cinzento do pós-guerra. “Tout est permis, Dieu n’existe pas”. Mas o que existiu de verdade foi a Guerra, que ainda continua, como continuam as grandes resistências.
[Excerto da apresentação do projecto para a recuperação da Fábrica de Tambores da Pompéia (SESC), por Lina Bo Bardi, 1977]
Lina na Casa de Vidro, 1952.
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