Quarta-feira
Roadkill Family Album, Nigel Grimmer, 2002.
Chegou o Verão! Tempo de ir para a praia, viajar, divertir-se e abandonar o seu cão numa estação de serviço!
Quando os acasos da vida me levaram a aproximar-me da causa da defesa dos animais fui inevitavelmente confrontado com as acusações habituais: “gostam mais dos animais do que das pessoas”, “com tanta gente a morrer à fome e miúdos a dormir na rua estes andam preocupados com os cães” e por aí fora.
As pessoas que fazem este tipo de argumentação assumem invariavelmente que os que se preocupam com os animais menosprezam a necessidade de ajudar os humanos em favor dos não-humanos. Mas não é de estranhar que quem faz estas acusações raramente pertença a uma associação de apoio seja do que fôr: da luta contra a sida ou do combate à fome, do apoio à reabilitação de toxidependentes à promoção da adopção. Na verdade, desenvolver a compaixão pelos animais é também fruto de sensibilização para com o sofrimento alheio. Nesse sentido, as preocupações com os direitos dos animais não são antagonistas, mas complementares aos movimentos de defesa dos direitos humanos. Ambos assentam no mesmo tecido moral da luta pelos direitos das causas sociais minoritárias e o respeito pelas necessidades dos outros.
A mensagem dos activistas pelos direitos dos animais tem como objectivo estender a círculo de respeito e compaixão humana para lá da nossa espécie e incluir animais que são capazes de sentir dor, medo, fome, sede, solidão e afecto. Esta mensagem assenta na educação individual e na atitude que temos perante os outros e perante o mundo. Infelizmente, ainda que alguns gostem de rotular a defesa dos animais como uma causa “politicamente correcta”, a verdade é que se trata de uma causa muito menosprezada pela sociedade em geral. A razão é, no meu entender, simples: a defesa dos animais confronta-nos, mais cedo ou mais tarde, com a necessidade de questionarmos o nosso modo de vida. Obriga-nos a tomar consciência de que, por exemplo, os nossos hábitos de consumo e entertenimento são, por vezes, causa de exploração e sofrimento animal difíceis de descrever.
É o desenvolvimento da consciência cívica, na qual a defesa dos animais se insere, que conduz o cidadão a questionar-se para com muitas outras coisas que o rodeiam. Um exemplo: todos nós somos capazes de olhar para a realidade de África ou outros pontos do mundo e nos enchermos de compaixão. Mas seríamos capazes de fazer concessões ao nosso próprio modo de vida quando este assenta grandemente na exploração de uma supremacia sobre as suas economias, através da manutenção de pesadas dívidas externas ou da manipulação das suas estruturas políticas com vista à promoção de vendas de armamento e exploração dos seus recursos fósseis?
Alguns dirão que uma coisa nada tem que ver com a outra. Seja como for, fico sempre a pensar que o cidadão capaz de abandonar um animal, atirando-o de um carro em andamento, dificilmente se preocupará muito com estas questões. Afinal, ele só deseja ter umas férias descansadas.
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